13 julho 2017

MULHERES SÃO ABANDONADAS NAS PRISÕES ULTIMA REPORTAGEM DA SÉRIE "MULHERES NAS PRISÕES"

Abandono é a principal diferença entre mulheres e homens na cadeia, diz Drauzio Varella


De acordo com o médico, mulheres não recebem as visitas de familiares que são recorrentes ao homem. SP1 exibe nesta quarta-feira a última reportagem de série sobre detentas.


Drauzio Varella fala sobre mulheres na prisão

Médico e autor do livro “Prisioneiras”, Drauzio Varella disse em entrevista à TV Globo que a principal diferença entre um homem e uma mulher na cadeia é o abandono ao qual as mulheres estão sujeitas.

 Para Varella, as mulheres acabam ficando “completamente abandonadas”, sem as visitas de familiares recorrentes aos homens que estão no sistema prisional.

Nesta segunda-feira (10) o SP1 iniciou uma série de três reportagens especiais que mostram a realidade de detentas na penitenciária Feminina da Capital, em São Paulo (veja vídeos ao final desta reportagem). A última reportagem da série vai ao ar nesta quarta-feira (12) e abordará as dificuldades de gestantes e mães de crianças recém-nascidas.

Para Drauzio Varella, a sociedade aceita “com mais naturalidade” a prisão do homem e, no caso das mulheres, o crime é visto, inclusive com “conotação sexual”.
“Tem dois aspectos: primeiro, que a mulher não é para ir presa. Mulher é tratada na família para dar exemplo, para ser boazinha, obediente, então já uma quebra de paradigma importante. Segundo, porque a prisão da mulher tem sempre uma conotação sexual também, porque se ela rouba, é porque ela é devassa também”, analisa o médico.

Veja abaixo trechos da entrevista concedida por Drauzio Varella para a série de reportagens do SP1:

Diferença entre presos homem e mulher

“A diferença maior, se você tiver que escolher uma, é o abandono. O que homem vai preso tem sempre uma mulher que vai visitá-lo: namorada, amante, esposa, tia, prima, avó, mãe. A mulher que vai presa é abandonada completamente. Pra você ter uma ideia, na penitenciária feminina tem 2.200, 2,500 presas. Número medico de visitantes por semana é 800. Visitas intimas não passam de 200 mulheres. Você vai numa cadeia masculina e o número é muito superior a esse.”

Visita íntima


“A visita intima é fundamental porque o que que acontece... Se a mulher vai presa e ela não tem visita intima, o laço dela com o marido, com o namorado, se perde completamente. A visita íntima não se trata somente de satisfação sexual. Se trata da manutenção de laços familiares. É importante tanto pra homens quanto pras mulheres.”




Conotação sexual da prisão da mulher

“A sociedade aceita com mais naturalidade um homem preso na família do que uma mulher presa. Tem dois aspectos: primeiro, que a mulher não é pra ir presa, mulher é tratada na família para dar exemplo, para ser boazinha, obediente. Então já uma quebra de paradigma importante, segundo, porque a prisão da mulher tem sempre uma conotação sexual, porque, se ela rouba, é porque ela é devassa também. Se ela rouba, ela não deve prestar. Isso é o que a sociedade, de alguma forma, pensa. Um homem, não."
"Um homem vai preso: ladrão é ladrão, não interessa a vida sexual dele. Mas, para mulher, a mulher tem sempre esta conotação sexual”

Aumento do número de presas

“O cálculo é que o número de mulheres presas nos anos 2000 aumentou mais de 500%. E eu acho que isso tá relacionado com o envolvimento das mulheres no tráfico de drogas, porque, na feminina, mais de 60%. Dois terços praticamente das mulheres presas foram presas por tráfico. Então, se você desconsiderar o tráfico, que o tráfico não é mais crime, você ficaria com um terço das presas, que são aquelas envolvidas em outros crimes, né, homicídios, assaltos , furtos.”

Tráfico de drogas

“Nós criamos uma grande massa de adolescentes na periferia que frequentam escolas de má qualidade, que não tem nenhuma ação do Estado pra tentar colocá-las no mercado de trabalho, e essa massa de adolescentes convive com o tráfico: o tráfico tá na esquina, tá na porta de casa. E o tráfico oferece emprego pra todos, ou pra grande parte, e um salário que eles não vão ter condições de receber na iniciativa privada, legal. O tráfico é um chamariz e aponta pra esses adolescentes um caminho na vida, Vão ter dinheiro, vão poder comprar moto, vão poder comprar jeans de marca, tênis, oculos escuro. Esse consumo que o adolescente de classe média tem naturalmente eles vão ter acesso a ele. Então, eu acho que isso é uma tentação muito grande porque você não tem o Estado, a sociedade não tem nada em contrapartida pra oferecer”

Mulheres na base hierárquica do tráfico

“As mulheres ocupam a base na hierarquia do tráfico. Em geral, é a pequena traficante. Esta que faz o ‘leva e trás’ de droga. Algumas, depois de um certo tempo de carreira, se afirmam, se firmam em posições intermediárias, mas o topo do tráfico é muito difícil chegar a uma mulher. Sabe? O grande traficante é homem. Mulheres que chegam a transportar a vender grandes quantidade são a minoria, sem impacto no volume total do tráfico.”

Perfil das presas

“O perfil da mulher na cadeia, o perfil médio da mulher é em geral uma menina entre os 20 e os 35 anos. Aí é que está a maioria delas. Em geral, é uma moça que começou ter filhos com na adolescência - uma epidemia das grandes cidades brasileiras. Começou ter filho na adolescência e veio tendo estes filhos no decorrer dos anos. Você pega meninas lá de 30 anos com 7, 8 filhos, com certa frequência. Quando eu vejo uma menina de 25 anos que não tem filho é [porque é] infértil ou é gay. Não tem outra explicação.”

Fonte: G1

Veja a reportagem completa com os vídeos no link abaixo

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