20 agosto 2017

EM SEIS ANOS, SP PAGOU, ALÉM DE SALÁRIOS, R$ 1,7 BILHÕES EM HONORÁRIOS A PROCURADORES DO ESTADO

Advogados que representam a Fazenda pública em ações judiciais recebem verba de sucumbência, além dos vencimentos


Julia Affonso e Fausto Macedo
20 Agosto 2017 | 06h15
Procuradoria-Geral do Estado. Foto: Reprodução/Google

A Fazenda de São Paulo pagou R$ 1,7 bilhão, entre janeiro de 2011 e maio de 2016, a 1.714 procuradores do Estado a título de verba de sucumbência – honorários advocatícios. O montante pago a título de sucumbência – além dos vencimentos mensais – aos procuradores da ativa e aos aposentados e pensionistas não é individualizado no Portal da Transparência de São Paulo.

Clique Aqui para ver a relação completa dos nomes e valores recebidos a titulo de Sucumbência de 2011 a 2016, fora os salários mensais

O Estado obteve estes dados por meio da Lei de Acesso à Informação. Os valores foram disponibilizados em março deste ano, cerca de nove meses após o primeiro pedido da reportagem.

Desde então, todos os 1.714 nomes enviados pela Procuradoria Geral do Estado foram checados.
Foi solicitado à Procuradoria que enviasse ‘quanto cada procurador do Estado recebeu, a título de verba de sucumbência, no período entre janeiro de 2.011 a maio de 2.016’.

No requerimento, foi pedido ainda que constasse da listagem os nomes ‘acompanhado dos valores percebidos individualmente’ e ainda o valor total, ano a ano, da verba de sucumbência.

Segundo os dados enviados à reportagem, um total de R$ 756.893.894,42 da verba foi destinado ao ‘fundo honorário’, administrado pela Procuradoria-Geral do Estado. A título de ‘sucumbência’, 1.714 procuradores receberam R$ 1.725.078.401,56.

A verba de sucumbência da Procuradoria-Geral de São Paulo, instituição responsável pela Advocacia do Estado, é o honorário recebido pelos advogados públicos a cada processo vencido em nome da Fazenda e está prevista na Lei Complementar nº 93, de 28 de maio de 1974 – os honorários são pagos desde então.

Durante muito tempo, foi discutido se a verba era um direito dos advogados públicos ou se ela fazia parte do Tesouro.

O limite constitucional para salário na carreira de Procurador do Estado é de 90,25% do subsídio fixado para ministro do Supremo Tribunal Federal, teto do funcionalismo, ou R$ 33,7 mil. Assim, o limite salarial dos procuradores deve ser R$ 30.471,11.

Bônus. O presidente Michel Temer (PMDB), procurador aposentado do Estado de São Paulo, recebeu até o ano passado R$ 1,1 milhão em sucumbência.

O ‘bônus’ do ministro das Relações Exteriores Aloysio Nunes Ferreira Filho (PSDB) – também procurador aposentado – chegou a cerca de R$ 1 milhão.

Temer ingressou nos quadros da Procuradoria do Estado em 1970. Segundo seu próprio site, na década de 80, Temer foi nomeado Procurador-Geral do Estado.

“No cargo, Temer deu fim aos recursos repetitivos da administração pública, intermediou acordos de fazendeiros e sem-terra e começou a elaborar a Lei Orgânica da Procuradoria-Geral do Estado”, diz a página.

Na lista da sucumbência obtida via Lei de Acesso, Temer é o procurador número 114 entre os que mais receberam honorários.

Cerca de 77% – ou 1.323 procuradores – receberam valores que variaram entre R$ 1 milhão e R$ 2 milhões, em um total que chegou a R$ 1.468.772.845,38. Aos 33% dos advogados públicos restantes foram transferidos R$ 256.305.556,18.

COM A PALAVRA, A PROCURADORIA-GERAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Por meio da Lei de Acesso à Informação, a reportagem do Estadão enviou sete perguntas à Procuradoria-Geral do Estado. A procuradora Lúcia de Faria Freitas respondeu aos questionamentos em nome da PGE.

ESTADÃO: Por que os procuradores aposentados e os pensionistas têm direito à verba de sucumbência?

PGE: Os Procuradores do Estado aposentados e pensionistas têm direito a honorários advocatícios em virtude do disposto no artigo 55, inciso I, da Lei Complementar nº 93, de 28/05/1974: “Artigo 55 – Os honorários advocatícios concedidos em qualquer feito judicial à Fazenda do Estado serão destinados à Procuradoria Geral do Estado, para: (NR) I – distribuição aos integrantes das classes de Procurador do Estado, aos ocupantes dos cargos de Procurador Geral do Estado; Assessor-Chefe da Assessoria Técnico-Legislativa; Assistente-Jurídico Chefe da Assessoria Jurídica do Governo; Procurador-Chefe; Diretor do Centro de Estudos da Procuradoria Geral do Estado; Assistente-Jurídico e Assessor Técnico-Legislativo, vinculados à carreira de Procurador do Estado, bem como aos aposentados nesses cargos ou que neles venham a se aposentar; (NR)”

ESTADÃO: Como se faz o rateio da verba de sucumbência?

PGE: O rateio da verba de sucumbência se faz através de cotas, considerando o nível do Procurador do Estado na carreira (nível I a nível V). Lei Complementar 724, de 15/07/1993, artigo 10.

ESTADÃO: Ao salário do procurador com vencimentos acima do teto constitucional é aplicado o redutor salarial? Para onde vai este dinheiro excedente?

PGE: Há aplicação do redutor salarial quando os vencimentos do Procurador do Estado superam o teto constitucional. O dinheiro excedente permanece no Fundo da Verba Honorária.

ESTADÃO: Como a verba de sucumbência é dividida? Existem cotas-parte? O rateio é proporcional ao cargo ocupado pelo procurador?

PGE: A verba de sucumbência é dividida de acordo com o nível do Procurador do Estado na carreira (Lei Complementar 724, de 15/07/1993, artigo 10).

ESTADÃO: Qual órgão administra a verba de sucumbência?

PGE: O Fundo de Verba Honorária é administrado pela Procuradoria Geral do Estado.

ESTADÃO: Desde que ano os procuradores recebem a verba de sucumbência? Qual a lei que prevê essa verba?

PGE: Os honorários advocatícios são pagos aos Procuradores do Estado ao menos desde 1974. A Lei Complementar nº 93/1974 já prevê o pagamento de honorários advocatícios aos Procuradores do Estado.

ESTADÃO: Por que os valores não são disponibilizados de forma individual no Portal da Transparência?

PGE: O Portal da Transparência indica a remuneração total de cada um dos Procuradores do Estado, já incluída a verba honorária.

COM A PALAVRA, ALOYSIO NUNES

O ministro Aloysio Nunes informou que não recebe acima do teto constitucional e não vai comentar.

COM A PALAVRA, MICHEL TEMER

A reportagem procurou a assessoria de imprensa da Presidência na sexta-feira, 18, e no sábado, 19. O espaço está aberto para manifestação.


Fonte: Estadão

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