01 setembro 2017

TRAGÉDIA NO CORAÇÃO DO PAÍS: REMÉDIO PARA INFECÇÕES DE PELE ACABAM NA PAPUDA, E GOVERNO SE NEGA A ATUALIZAR DADOS

Diretor de penitenciária comunicou fim de estoque ao Conselho de Direitos Humanos; novo lote só deve chegar em outubro. G1 tenta há um mês, sem sucesso, atualizar número de doentes; em 1º de agosto, eram 2,6 mil infectados.


Por Letícia Carvalho, G1 DF
31/08/2017 17h57  Atualizado há 6 horas

Detentos na Papuda em 2013 (Foto: Ministério Público/Divulgação)


Detentos do Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, estão sem remédios para tratar as infecções de pele que se espalham pelos prédios desde o fim de julho. A informação está em um documento assinado pelo diretor de uma das carceragens, e enviado ao Conselho de Direitos Humanos do Distrito Federal na última terça (29).

No ofício, o diretor-geral da Penitenciária do Distrito Federal II (PDF II), Marcelo Noronha, afirma que os medicamentos acabaram naquele prédio e, segundo uma funcionária da Gerência de Saúde da Subsecretaria do Sistema Penitenciário, a Secretaria de Saúde só poderia enviar novos lotes em dois meses.]

Ao longo dos últimos 30 dias, o G1 pediu à Secretaria de Segurança Pública, por três vezes, atualizações sobre o número de detentos infectados. As solicitações foram enviadas nos dias 11, 14 e 22 de agosto. Até esta quinta (31), a pasta ainda não tinha respondido a pergunta.

No dia 8 deste mês, a Secretaria de Segurança Pública chegou a informar que divulgaria dados de uma nova triagem – o que não aconteceu. Nesta quinta, o G1 também questionou a Segurança Pública sobre o fim do estoque de remédios, e aguardava retorno até a publicação da reportagem.

No dia 1º de agosto, quando os últimos dados foram divulgados pelo governo, havia 2,6 mil detentos com infecção diagnosticada entre os cerca de 15 mil internos. Até aquele momento, as doenças se espalhavam por cinco dos seis prédios do complexo, e atingiam 17% da população carcerária.


Trecho do ofício sobre a falta de medicamentos na Papuda enviado ao Conselho de Direitos Humanos do DF (Foto: Reprodução



Situação 'alarmante'

No documento, Noronha afirma que a situação de desabastecimento é "alarmante", e aponta risco não só aos presos, mas aos funcionários da Papuda e aos visitantes dos prédios onde há infecção. Até agosto, o governo do DF tinha identificados casos de sarna (escabiose) e impetigo, que são provocadas por ácaros e bactérias em ambientes fechados.

“Tal situação é alarmante, e caso o fornecimento dos medicamentos não seja regularizado o mais breve possível todo sistema prisional será colocado em mais risco do que está exposto hoje, colocando em risco também a saúde de familiares, visitantes, servidores e da própria população do DF”, escreveu.

O presidente do Conselho de Direitos Humanos do DF, Michel Platini, disse que, após receber o ofício, encaminhou um documento para o governador do DF, Rodrigo Rollemberg, e para o Secretário de Saúde, Humberto Fonseca, pedindo uma "intervenção mais incisiva".

Casos persistem

Na semana passada, a Defensoria Pública do DF fez uma vistoria nas carceragens da Papuda e constatou que mesmo após os mutirões realizados para o tratamento das doenças de pele, “muitos casos ainda são encontrados nas penitenciárias”. Além disso, o órgão verificou que a medicação usada no tratamento das infecções de pele está em falta.

“A Defensoria vai oficiar a gerência de saúde da Sesipe sobre a falta deste e de outros medicamentos”, disse o defensor público do Núcleo de Direitos Humanos, Daniel Oliveira.

Os problemas se tornam ainda maiores por causa da superlotação do presídio. Pelos cálculos oficiais do governo, o Complexo Penitenciário da Papuda tem capacidade para abrigar 7.496 presos. O número real, de 15 mil pessoas detidas, corresponde ao dobro do ideal.
Sindicato dos Agentes Penitenciários do DF publicou imagens de detentos da Papuda com sintomas de doença infecciosa (Foto: Sindicato dos Agentes Penitenciários/Divulgação)





Outras infecções

Três dias após a atualização do número, a Secretaria de Segurança confirmou outro caso de doença de pele na Penitenciária Feminina, única unidade prisional que não havia registrado incidência. Uma interna contraiu impetigo, causada por bactéria. Ela foi isolada e estava em tratamento com antibióticos, informou a SSP.

Pelo menos quatro agentes penitenciários também foram infectados, segundo apontou o Sindicato dos Agentes de Atividades Penitenciárias do DF. O governo não confirmou o número. Além dos agentes penitenciários, um agente de polícia de custódia contraiu uma doença de pele.

Confira a íntegra do ofício que aponta a falta de remédios na Papuda:

Ofício feito pelo diretor geral da Penitenciária do Distrito Federal II (Foto: Reprodução)

Último trecho do documento feito pelo diretor geral da Penitenciária do Distrito Federal II,
Marcelo Noronha (Foto: Reprodução)







Fonte: G1

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