Familiares denunciam negligência da polícia. Delegado rebate acusações e investiga causas da morte do comerciante de 40 anos, que sofria de hipertensão.
Por G1 MA, Barra do Corda, MA
11/10/2017
Cela para presos provisórios, em Barra do Corda, A cela - que se assemelha a uma jaula - fica no pátio da delegacia, exposta ao sol, à chuva e ao vento Foto: DPE |
O comerciante Francisco Edinei Lima Silva, de 40 anos, morreu na segunda-feira (9) após ficar preso em uma jaula a céu aberto nos fundos de uma delegacia da Polícia Civil, em Barra do Corda (MA). O local não tem banheiro, teto, nem água encanada.
Silva estava detido pois teria dirigido sob o efeito de bebida alcoólica e se envolvido em um acidente de trânsito. Os familiares da vítima alegam que houve negligência do Estado, pois o comerciante sofria de hipertensão e não teria recebido o atendimento médico adequado.
"Trata-se de uma ala da nossa carceragem que é destinada a presos provisórios até que sejam atendidos pela autoridade policial competente. Após o atendimento, o preso é transferido para outra cela, com outros presos, ou liberado, de acordo com as circunstâncias", explicou o delegado Renilton Ferreira.
O acidente ocorreu na BR-226, que passa por Barra do Corda. O carro que Silva dirigia bateu de frente com uma moto. O motociclista, identificado como Gustavo, foi socorrido e levado para o hospital de Presidente Dutra.
A família de Silva afirma que ele foi atendido na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Barra do Corda, onde foi medicado, antes de ser levado pelos policiais. De acordo com os familiares, o comerciante queixou-se de fortes dores de cabeça e mal estar.
Sobre a cela instalada na delegacia ao ar livre, o delegado afirmou se tratar de uma ala destinada a presos provisórios 'até serem atendidos pela autoridade policial competente' Foto: DPE |
"Se tivessem estabilizado a pressão dele, se tivessem esperado ele tomar água e o medicamento e se ele não tivesse ficado exposto ao sol ele estaria aqui com a gente", disse Hellen Cristina, afilhada da vítima.
A família conta que o comerciante ficou dentro de uma jaula com mais dois presos, sem assistência médica. Os familiares afirmam que a polícia sabia que Silva tinha hipertensão e precisava de medicamento controlado.
"A mãe dele pediu 'pelo amor de Deus', e todo mundo pediu para levar água e medicamento para ele. Tudo foi recusado. Negligência total. A gente não teve condição nem de fazer uma visita rápida", afirma Adão Alves, cunhado da vítima.
O delegado Renilton Ferreira contesta as afirmações da família. "A todo tempo, seu Francisco esteve acompanhado dos advogados. Se ele tivesse qualquer necessidade física, de saúde ou mesmo de não respeito aos direitos humanos, caberia ao advogado fazer um requerimento junto à autoridade policial."
Delegacia de Barra do Corda onde o comerciante morreu (Foto: Reprodução / TV Mirante) |
O corpo de Silva foi encaminhado para o IML de Imperatriz (MA). O caso está sendo investigado pela polícia de Barra do Corda.
"A polícia agora trabalha para investigar. Vamos ouvir todas as pessoas, inclusive presos que estavam próximos ou junto de seu Francisco, para saber como todos os fatos ocorreram. Já solicitamos o prontuário médico de atendimento das duas ocorrências na UPA de Barra do Corda para chegar à conclusão do que motivou a sua morte", disse o delegado.
Mônica, irmã de Francisco, questionou o andamento da investigação. Segundo ela, o laudo da morte será liberado em 10 dias, mas somente o delegado poderá buscar o laudo, que estará em Imperatriz, mas a família quer ter acesso ao documento.
"O nosso medo é de que o delegado não vá buscar e a gente não saiba exatamente o que aconteceu. O médico legista adiantou que houve negligência, porque ele demorou para ser socorrido. Como ele estava com pressão alta, deveria ficar no hospital e só ser liberado após a pressão normalizar. Além disso, ao ser liberado, ele não deveria ir para o 'gaiolão', porque eles sabiam que ele não estava bem.
Ele deveria ter ido para a cela interna", afirmou Mônica.
A direção da UPA de Barra do Corda, onde o comerciante foi atendido antes de ser preso, não se pronunciou sobre o caso.
Protesto
Moradores de Barra do Corda fizeram um protesto em frente à delegacia na manhã desta quarta-feira (11). A manifestação contou com a presença de centenas de moradores, além dos familiares de Silva.
Protesto em Barra do Corda (Foto: Divulgação / Élbio Carvalho) |
Fonte: G1