Quatro reeducandas do Centro de Ressocialização (CR) participam de oficina de costura durante a noite para ajudar quem precisa.
Por Fabio Rodrigues, G1 São Carlos e Araraquara
14/11/2017 07h37 Atualizado há 20 minutos
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Durante duas horas elas produzem 20 mechas de cabelos em Rio Claro (Foto: Fabio Rodrigues/G1) |
As grades que separam as detentas de Rio Claro (SP) da sociedade não impedem que a solidariedade ultrapassem as barreiras. Quatro reeducandas do Centro de Ressocialização (CR) confeccionam perucas para pacientes com câncer e aos portadores de alopecia, doença que provoca a queda excessiva dos cabelos. 'É gratificante', diz uma das voluntárias do projeto.
A oficina de costura ocorre desde agosto, às terças e quintas-feiras à noite, por meio de uma parceria com a ONG Mais Vida, que disponibiliza todo o material de costura. Três máquinas industriais foram doadas pela prefeitura.
Durante duas horas, as detentas produzem cerca de 20 mechas de cabelos. O processo é finalizado pela ONG, que deixa as perucas prontas para serem usadas. Por fim, o material é doado à Rede Rio Clarense de Combate ao Câncer e ao Grupo de Apoio à Crianças com Câncer (GAAC). Fora do CR, a ONG Mais Vida também produz próteses de alpiste para vítimas de câncer de mama.
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Detentas de Rio Claro confeccionam perucas em oficina (Foto: Fabio Rodrigues/G1) |
Marina* tem 47 anos e está no CR há cinco meses. Cumpre pena de 5 anos e dez meses por tráfico. Ela, que acompanha à distância o caso de uma sobrinha de 20 anos com câncer na garganta, disse que sente prazer de confeccionar as perucas.
"Estou ajudando a curar a dor de quem perdeu os cabelos e proporcionando um pouco de alegria", declarou. Motivada com atividade, ela contou que pensa em criar uma ONG e continuar com o trabalho quando ganhar a liberdade.
Presa há um ano e dez meses também por tráfico, Renata concorda com a colega e acha importante participar da oficina. "Ajudar faz bem, a gente nunca sabe o dia de amanhã", disse.
Aos 26 anos, ele vê a atividade da costura como uma terapia. "Trabalhando e fazendo o curso, a gente esquece um pouco que está privada da liberdade", avaliou.
Resultado aprovado
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Oficina de costura começou em agosto por meio de parceria com ONG (Foto: Fabio Rodrigues/G1) |
Resultado aprovado
Beneficiada com uma das perucas, a agente de viagem Eduarda Zanotti aprovou o resultado o final. Cinco meses atrás ela descobriu um câncer de mama, começou a fazer quimioterapia e o cabelo começou a cair. "Eu estava preparada, usei lenço, mas não era o que eu queria", disse.
Vaidosa, ela soube do trabalho da ONG junto com as reeducandas e foi atrás para conseguir uma peruca.
"O trabalho que elas fazem é muito bonito, estou feliz, muito bem, nem me sinto doente", brincou.
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Eduarda Zanotti usa uma peruca confeccionada pelas detentas (Foto: Fabio Rodrigues/G1) |
Joice, de 24 anos, e Alessandra, de 29, também vão à oficina com o sentimento de fazer o bem ao próximo. Logo, elas poderão ensinar as outras presas que tenham interesse em participar das confecções.
Segundo a diretora do CR, Maria Batista da Cruz Paschoal, o local abriga 112 reeducandas. Cerca de 95% estão detidas por tráfico de drogas.
Ao menos 106 delas trabalham dentro do CR, das 7h às 16h, montando peças para empresas que mantêm parcerias. Três dias trabalhados reduzem um dia da pena. As reeducandas também recebem um salário mínimo por mês, dinheiro que na maioria das vezes é usado para ajudar a família, explicou a diretora.
Maria disse que preza pela educação e trabalho e que busca parcerias porque o aprendizado abre a mente e dá outra visão de mundo às encarceradas.
"Acho importante mostrar que elas [reeducandas] não são tão pequenas que não possam ajudar, e ninguém é tão grande que não precise de ajuda. Tento passar que a doação também é um fortalecimento da autoestima, do empoderamento ", ressaltou a diretora.
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Maria Batista da Cruz Paschoal, diretora do CR de Rio Claro (Foto: Fabio Rodrigues/G1) |
Origem da oficina
A ONG Mais Vida batizou a oficina de Lara Sales da Costa. O bebê nasceu com problemas de saúde e precisou passar por um transplante de medula óssea, doada pelo próprio pai. A recém-nascida lutou pela vida até 1 ano e 9 meses, quando tudo parecia ir bem, a criança teve uma infecção e morreu. Hoje a mãe de Lara participa do grupo como forma de homenagear a filha e ajudar as pessoas que precisam.
*Os nomes das detentas foram modificados para preservar a identidade das entrevistadas.
Fonte:G1