Número 1 do PCC e comparsa são mortos no CE; principal hipótese é de emboscada de facção rival.
Luís Adorno Do UOL, em São Paulo
18/02/2018- 11h10-Atualizado as 14:55
18/02/2018- 11h10-Atualizado as 14:55
Promotoria diz que Gegê do Mangue estava acima de Marcola na cúpula do PCC |
De acordo com o MP (Ministério Público), atualmente, Gegê do Mangue era o número um na escala da chefia do PCC, acima de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, recluso na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, a 600 km da capital, onde está a cúpula da facção. "Gegê era o número 1. Marcola e Paca são lideranças da facção", afirmou um promotor do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), ao UOL.
"Esses dois homens foram mortos em uma área de reserva indígena em Aquiraz, no Ceará. Os moradores relatam que uma aeronave foi usada na ação criminosa. Um helicóptero teria feito voos em baixa atitude e os ocupantes efetuados disparos. O fato se deu na quinta-feira. Os corpos foram encontrados de sexta-feira (16) para sábado (17)", explicou à reportagem o promotor, que pede para não ser identificado.
Os corpos foram encontrados perto de uma lagoa na região de Canindé, município a 118 km da capital cearense, por um rapaz que estava colhendo frutas. O local é de mata fechada, sem acesso via estrada. O homem chamou a polícia, que recolheu os corpos e iniciou trabalho de perícia. Próximo aos corpos, havia várias cápsulas de pistolas 9 mm.
Polícia e MP trabalham com a hipótese de que eles foram vítimas de uma emboscada feita por integrantes de alguma facção rival. Outra hipótese levantada pelas autoridades é de que os dois teriam participação na morte do ex-integrantes de alguma facção rival. Outra hipótese levantada pelas autoridades é de que os dois teriam participação na morte do ex-integrante da cúpula do PCC Edilson Borges Nogueira, o "Birosca", aliado de Marcola. No entanto, as investigações ainda estão no início.
Saíram da prisão pela porta da frente
Gegê do Mangue estava preso havia cerca de dez anos. Em 2 de fevereiro de 2017, ele foi solto por um habeas corpus expedido pelo juiz Deyvison Heberth dos Reis, da Vara de Execuções de Presidente Prudente, 18 dias antes de ser julgado por um duplo homicídio. Dezenove dias depois da soltura, ele teve a prisão preventiva decretada novamente, por pressão do MP, mas nunca foi localizado.A Promotoria diz que, atualmente, ele estava acima de Marcola na hierarquia da facção criminosa. A suspeita é de que ele estivesse controlando o PCC do Paraguai. A PF (Polícia Federal) chegou a investigar essa hipótese, mas nunca apresentou um resultado. Na ficha criminal de Gegê, havia passagens por homicídios, roubos e tráfico de drogas.
Já Paca foi beneficiado com a saída temporária na Páscoa de 2011 e nunca mais voltou para a prisão. O criminoso era apontado como parte da "Sintonia Final Geral", a cúpula máxima do PCC. Em 2013 e 2014, havia indícios de que Paca estaria no Paraguai, junto a Gegê, com a tarefa de negociar armas e drogas para a facção.
Guerra de facções no Ceará O UOL revelou, em 28 de janeiro, que áudios enviados a um grupo de WhatsApp formado por integrantes cearenses do PCC estão sendo investigados. No começo deste ano, um policial obteve acesso a um celular de um integrante da facção e conseguiu copiar os arquivos do aparelho.
"A organização dentro do Ceará está precisando de ajuda porque o Estado do Ceará está generalizado em guerra, meu filho. Tá em guerra. Nossos irmãos se encontram encolhidos em uma só unidade. Tem que ajudar os irmãos que se encontram encolhidos em uma só unidade. Tem que ajudar os irmãos que se encontram dentro do Estado. [Aqueles] que estão dentro da luta, que estão morrendo, que estão botando sua vida em xeque".
A afirmação acima é de um integrante do PCC durante uma discussão a respeito da distribuição dos lucros obtidos com atividades ilícitas em Fortaleza --palco de uma chacina ocorrida no mês passado, que resultou na morte de 14 pessoas.
O apelo de ajuda aos "irmãos" comprovaria que o Ceará tornou-se uma das principais frentes da guerra que opõe facções na disputa pelo controle de presídios e de pontos e rotas de tráficos de drogas e armas no país, segundo autoridades policiais. Em outro áudio, um membro do PCC ressalta que a facção busca dominar o maior número possível de comunidades na capital do Ceará.
Fonte: UOL
Gegê do Mangue era o número dois da hierarquia do PCC (Foto: Reprodução/Band) |
Quem foi Gegê do Mangue
De pequeno traficante na Zona Oeste a criminoso procurado, bandido é condenado à revelia a 47 anos de prisão
Por Ana Carolina Soares e Sérgio Quintella
access_time 7 abr 2017, 18h55
Nesse momento, no entanto, o criminoso não estava sentado à sua frente, no banco dos réus, para ouvir a sentença. Nem se encontrava na Vila Madalena, onde fica sua “residência oficial”, declarada à Justiça. Tampouco aguardava na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no oeste do estado, na qual passou os últimos dez anos, até ser posto em liberdade, em 1º de fevereiro.
Até o fim da semana passada, juízes, promotores, advogados e policiais desconheciam o paradeiro daquele que hoje é considerado o segundo homem mais importante na hierarquia do Primeiro Comando da Capital (PCC), atrás apenas do líder, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola. Segundo filho de uma família de quatro irmãos, Gegê nasceu em 1977, na Rua Fidalga, 1010, no meio do Mangue, favela com cerca de trinta casas encravadas desde os anos 60 na Vila Madalena.
Seus pais, Marlene Jeremias e Ítalo Alfredo de Simone (morto em 1982, ao cair do telhado de casa), ganhavam a vida como artesãos, tecendo almofadas e vendendo-as na rua. Nada na infância do pequeno Rogério parecia indicar seu destino. Tímido e obediente, ele ajudava na faxina da casa da família e foi coroinha na igreja da área.
A irmã caçula, Renata de Simone, é professora e mora perto da mãe, que vive em uma casa de alto padrão no bairro do Rio Pequeno. A primeira prisão de Gegê ocorreu em 1995, quando foi pego em flagrante com drogas na Rua Fidalga. Como era réu primário, ficou menos de um ano preso. Depois, alternou idas e vindas da cadeia, até receber, em 2000, uma condenação: doze anos de reclusão por tráfico e assassinato. Sua trajetória confirma a máxima de que a cadeia no Brasil funciona como uma escola do crime.
Dentro das celas, aproximou-se das lideranças do PCC e aderiu à facção. Começou no posto de “sintonia”, espécie de gerente na estrutura do crime. Entre outras funções, recebia a visita de advogados da quadrilha e repassava aos comparsas as informações vindas de fora do presídio. Em 2003, subiu alguns degraus na hierarquia da bandidagem após tentar enviar para Marcola um bilhete falando da morte do juiz corregedor Antônio Machado Dias. Tido como um dos principais inimigos do PCC nos tribunais, o magistrado foi executado dentro do carro com três tiros, na saída do Fórum de Presidente Prudente.
O tal do bilhete não chegou às mãos do destinatário. A polícia o interceptou antes, o que rendeu a Gegê mais quatro anos de condenação por formação de quadrilha. Marcola, no entanto, ficou sabendo do fato e ordenou a promoção do novato. “Nesse episódio, ele caiu nas graças da quadrilha”, contou a VEJA SÃO PAULO um delegado, que preferiu não ser identificado.
Dois anos depois, durante a onda de ataques do PCC na capital, Gegê teria mandado incendiar ônibus na Vila Madalena. Em dezessete anos de cadeia, o bandido traficou, matou e mandou assassinar, o que lhe acarretou mais onze inquéritos. Mesmo assim, foi posto na rua em fevereiro deste ano, por decisão do juiz Deyvison Heberth dos Reis, da 3ª Vara de Presidente Venceslau.
Segundo o despacho do magistrado, não havia mais nenhuma condenação em definitivo que justificasse sua permanência na cadeia. Assim que deixou a penitenciária, Gegê entrou no carro de um de seus cinco advogados, um Jeep Renegade branco, abraçou a esposa, Andrea de Simone, e rumou para São Paulo.
Os dois estão juntos desde a adolescência, antes da primeira prisão dele, e sonham um dia formalizar a união em uma cerimônia católica. Ela foi criada no Conjunto Residencial Natingui e frequentava as baladas do bairro. “Rogério sempre foi bonitão e assediado pelas mulheres, mas ele só tinha olhos para a Andrea”, conta uma amiga dele.
O relacionamento prosseguiu após a prisão e, das visitas íntimas, vieram dois filhos: um menino, de 11 anos, e uma menina, de 3. Nessa fase fora da cadeia, Gegê passou boa parte do tempo em companhia de sua família em um prédio de luxo na Lapa e, numa escapada de lá, foi ver um jogo do Palmeiras no Allianz Parque. “Ele passou vinte dias em liberdade, mas vivia como se fosse um foragido”, afirma Andrea, por meio de um e-mail enviado por seu advogado a VEJA SÃO PAULO.
A sentença da semana passada se refere a dois assassinatos ocorridos em 2004. Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça revelaram que Gegê e um comparsa determinaram a execução de dois bandidos responsáveis pela morte de dois membros do PCC. Um dos defensores de Gegê, Isaac Minichillo, alega que os “grampos” foram ilegais. “Vamos recorrer da sentença”, diz.
Investigações sugeriram que o condenado estaria escondido na Bolívia ou no Paraguai, administrando a rota internacional de tráfico de drogas de sua facção. Se isso for verdade, seria o ponto alto de uma “carreira” iniciada de forma prosaica há mais de vinte anos nas ruas estreitas da Vila Madalena.
Fonte : Veja São Paulo
Esta são as imagens que recebemos das vítimas.
Também pode ser confirmado no Site .
Imagens da localidade e das vítimas do assassinato
Imagens : wattsapp