30 março 2018

A ESCALADA DO CONTRABANDO: Hizbullah atua no comércio ilegal com PCC, diz especialista

Comércio ilegal sofistica sua logística e se expande prejudicando a indústria, os cofres públicos, o bolso e até a saúde do consumidor


Capítulo 5
Seminário segurança e desenvolvimento
Hizbullah atua no comércio ilegal com PCC, diz especialista
Grupos agem na Tríplice Fronteira no tráfico de droga e contrabando de cigarro


 
Marcelo Toledo
BRASÍLIA
26.mar.2018 às 20h39


Depósito de bens contrabandeados capturados pela Policia Federal e Policia Rodoviária Federal




O Hizbullah está presente na Tríplice Fronteira -entre Brasil, Paraguai e Argentina- e há elementos que indicam que o grupo extremista atua em parceria com a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).

A afirmação é do italiano Emanuele Ottolenghi, cientista político e membro sênior da FDD (Foundation for Defense of Democracies), instituto de política externa e segurança nacional dos EUA, e foi feita no seminário Segurança e Desenvolvimento, promovido pela Folha, com patrocínio do Etco (Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial).

O contrabando de cigarros é apontado como forma de financiamento de atividades do Hizbullah, movimento xiita libanês, conforme relatório da fundação divulgado no ano passado.

Segundo Ottolenghi, o PCC controla portos clandestinos às margens do rio Paraná e facilita o envio de cocaína ao exterior. "A cocaína atravessa áreas onde o Hizbullah tem forte presença e infraestrutura para lavar o dinheiro", disse.

De acordo com o especialista, há transações provadas de venda de drogas entre figuras do PCC que foram presas e clãs do Hizbullah.

Essas relações são os elementos conhecidos que indicam que os dois lados trabalham juntos na fronteira.

Emanuele Ottolenghi, cientista político e membro sênior da FDD, instituto de política externa e segurança nacional
 dos EUA - Keiny Andrade/Folhapress



Além de drogas e cigarros, o grupo extremista também atuaria com contrabando e tráfico de armas em áreas controladas pelo PCC. Em Foz do Iguaçu, a facção brasileira se concentra na região da Vila Portes, bairro próximo à Ponte da Amizade.

Não há relato de membros do Hizbullah mortos nas fronteiras brasileiras, fato que, na visão do especialista, é mais um indicativo de que os grupos trabalham juntos. "Grupos criminosos como o PCC não autorizariam competidores em seu território sem uma guerra."

SENADO DOS EUA

Especialista do centro de sanções e finanças ilícitas da fundação, Ottolenghi disse ao Senado dos EUA, em maio de 2017, que redes terroristas islâmicas ampliam sua área de influência por meio de parcerias com grupos criminosos locais, como é o caso do PCC no Brasil.

O presidente do Etco, Edson Vismona, disse que a existência do Hizbullah na Tríplice Fronteira é motivo de apreensão. "A questão gera preocupação nos EUA. E não vai gerar aqui?"

De acordo com Vismona, tráfico de drogas, transporte de armas ilegais e contrabando de cigarro fazem normalmente a mesma rota, com a mesma logística, o que contribui para as parcerias firmadas pelas organizações criminosas, prejudicando a economia nacional.

Policiais federais ouvidos pela Folha disseram não ter efetuado prisões de membros do grupo terrorista na região de Foz do Iguaçu.


Ausência de investimentos e de tecnologia favorece ilegalidade

Burocracia estatal e insegurança jurídica também são obstáculos ao controle das fronteiras

Gabriel Bosa
BRASÍLIA

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), na abertura do seminários sobre contrabando, em Brasília
 - Keiny Andrade/Folhapress



O orçamento reduzido, a contenção de investimentos e tecnologias ultrapassadas são os principais obstáculos ao controle das fronteiras.

Somam-se a isso a burocracia estatal e a insegurança jurídica, que desestimulam a participação da iniciativa privada e impedem o crescimento do país em diversas áreas, inclusive no combate à violência e importações ilegais.

As constatações foram definidas pelas autoridades que participaram do seminário Segurança e Desenvolvimento, promovido pela Folha, com patrocínio do Etco.

Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, afirmou que o protagonismo do Estado dificulta os investimentos privados.

"Que o Estado deixe de querer abraçar todos os temas e construa com o setor privado parcerias para criar condições de crescimento sustentável."

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), na abertura do seminários sobre contrabando, em Brasília
As dificuldades impostas pela burocracia geram um ambiente juridicamente inseguro, de acordo com Maia, afastando os investidores.

"Muitas vezes o governo tenta mudar regras para aumentar a arrecadação. Precisamos garantir essa segurança para que o setor privado possa investir mais no país."

INTEGRAÇÃO

O controle das fronteiras passa por investimento em tecnologia e ações com os países vizinhos, afirmou o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Sérgio Etchegoyen. "Não há como monitorar áreas tão largas sem tecnologia."

O Brasil possui 16.886 quilômetros de fronteira terrestre e 7.367 quilômetros em áreas litorâneas.

Segundo o ministro, o governo brasileiro mantém bases de segurança em todos os países da América do Sul, exceto na Colômbia, onde o processo está em andamento.

O Sisfron (sistema de monitoramento de fronteiras), desenvolvido pelo Exército em áreas secas, e o programa da Marinha no litoral foram citados como ações de combate ao contrabando.

Entretanto, segundo Maia, os dois projetos estão atrasados por falta de orçamento. "Já se sabe qual a fronteira com mais problema, onde estão as facções criminosas, mas estamos todos imobilizados."




Fonte: Folha de São Paulo