23 abril 2018

FATOS LAMENTÁVEIS: Preso é esquecido em hospital de Guarulhos pelo CPP de Campinas/SP

Direção do presídio levou um mês para saber que ele tinha abandonado o hospital após receber alta.









Por Inês Ferreira e Lucas Mendes, especial para Ponte
22/04/18

Fatos ocorreram no Centro de Progressão Penitenciária (CPP) “Professor Ataliba Nogueira”




Um preso do Centro de Progressão Penitenciária (CPP) “Professor Ataliba Nogueira”, em Campinas, ficou cerca de um mês “esquecido” no Hospital Geral de Guarulhos. Depois de receber alta, o preso se evadiu e até o momento não foi localizado.

A direção do presídio só entrou em contato com o hospital um mês depois do ocorrido. Segundo informações de servidores penitenciários, que prefeririam não se identificar, essa não é a primeira vez que evasões passam despercebidas pela direção do CPP.

A evasão supostamente camuflada pela direção ocorreu na última saída temporária, a “saidinha” de Natal, em 22 de dezembro do ano passado. O preso Wesley de Souza Santos, de 21 anos, cumpria pena por roubo no regime semiaberto desde 2017. Ele deveria retornar para a unidade prisional dia 04 de janeiro.   Na data estabelecida para o retorno ele não compareceu ao CPP, pois estava internado no Hospital Geral de Guarulhos, conforme relatado pelos agentes.

Quase dois meses depois, no dia 1º de março, a direção do CPP fez novo contato com o hospital, e foi notificada que o preso tinha ficado hospitalizado até o dia 1º de fevereiro, e que após receber alta ele se evadiu do local.

Segundo servidores prisionais, após tomar conhecimento da evasão, a diretoria do CPP ainda levou sete dias para dar baixa do nome do preso no sistema da Prodesp (Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo), que faz a gestão de Tecnologia da Informação no estado. Os dados referentes à “evasão” do preso entraram no sistema no dia 7 de março, e de forma retroativa aos fatos, ou seja, como se a diretoria tivesse tomado conhecimento do feito na data em que ele ocorreu.

Reeducando sem vigilância

Servidores afirmam que o preso ficou “largado e esquecido” no hospital devido à falha de vigilância da diretoria do CPP de Campinas. “O nosso diretor esqueceu o preso. Nosso diretor relaxou, não foi atrás e nem mandou ninguém atrás. E isso foi passando”, disse um agente que não quis se identificar, relatando que o chefe de plantão da unidade pediu para um outro agente passar no hospital e confirmar se o preso ainda estava internado.


“O chefe de plantão fez uma coisa que não era função dele. Era a função do diretor de segurança ou do diretor geral”, critica. “É um descaso e falta de competência, negligência, é sem dúvida uma coisa que um dirigente não pode pecar. A gente as vezes tem que errar pelo exagero, não por negligência”, completa.


De acordo com a Lei de Execução Penal, o benefício da saída temporária contempla as pessoas que já tenham cumprido um sexto da pena e que estejam no regime semiaberto. Além disso, é necessário ter bom comportamento.

De acordo com os dados mais recentes do Infopen – Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias, do Ministério da Justiça, referentes a junho de 2016, 15% dos presos sentenciados em São Paulo estavam no regime semiaberto, o que equivale a aproximadamente 36 mil pessoas. Eles estão distribuídos em todo estado em 15 Centros de Progressão Penitenciária – CPPs.

Outros casos

Servidores apontam que este não é o primeiro caso de suposta negligência de evasão de presos. No ano passado, durante a saidinha do Dia das Crianças, dois presos evadiram do CPP, porém a ausência dos presos não foi registrada em livro de ocorrências. A evasão só foi descoberta, dias depois, no momento da contagem dos presos.

Em 14 de fevereiro deste ano, o preso conhecido como Rosemberg também evadiu do local. No entanto, a evasão não constou em registros e só foi descoberta porque o CPP foi avisado pela Delegacia Seccional de Campinas.

Outro lado

Foram encaminhadas algumas perguntas à SAP (Secretaria da Administração Penitenciária), mas até o fechamento desta matéria não houve resposta da pasta.

- O CPP Campinas “Professor Ataliba Nogueira” teve registrada uma evasão no início de março, de um reeducando que estava na saída temporário de fim de ano. O referido preso já foi localizado?

- O referido preso estava internado no Hospital Geral de Guarulhos na data prevista para o retorno à UP (04/01). No entanto, ele recebeu alta dia 1º de fevereiro, tendo abandonado o hospital na sequência. Faltou vigilância para impedir a evasão?

- A direção do CPP Campinas foi entrar em contato com o hospital para saber informações do preso no dia 1º de março, portanto um mês depois que o mesmo já estava na rua. A conduta da direção se configura como negligência?

- Informações de servidores prisionais dão conta de que a direção do CPP Campinas levou sete dias para dar baixa do ocorrido no sistema PRODESP, e com data retroativa à dos fatos, ou seja 01/02 - como se a diretoria tivesse tomado conhecimento do feito na data em que ele ocorreu. Esse procedimento está correto?

- Qual a posição da SAP com relação à conduta da direção da unidade prisional? Se configura falha administrativa, cabível de sindicância ou processo administrativo?

- Qual a taxa de retorno dos presos em saída temporária de natal e ano novo nos últimos anos?

- Servidores apontam que este não é o primeiro caso de suposta negligência de evasão de presos. No ano passado, durante a saidinha do Dia das Crianças, dois presos evadiram do CPP, porém a ausência dos presos não foi registrada em livro de ocorrências.

A evasão só foi descoberta, dias depois, no momento da contagem dos presos. Em 14 de fevereiro deste ano, o preso de matrícula 556.167 , conhecido como Rosemberg  também evadiu do local. No entanto, a evasão não constou em registros e só foi descoberta porque o CPP foi avisado pela Delegacia Seccional de Campinas. Qual a posição da SAP a respeito desses casos e desse histórico de evasões no CPP Campinas?





Fonte: Ponte Jornalismo