Com a expulsão de Marcelo 'Piloto', líder e articulador do Comando Vermelho na região, pode crescer o domínio de outra facção brasileira, o Primeiro Comando da Capital (PCC), na fronteira entre o Brasil e o Paraguai, segundo a polícia.
José Maria Tomazela
Sorocaba
20/11/201807h54
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Marcelo Piloto foi extraditado para o Brasil após esfaquear jovem de 18 anos em sua cela |
Policiais da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) paraguaia que atuam em Pedro Juan Caballero e da Polícia Civil de Ponta Porã (MS), cidades separadas apenas pela linha de fronteira, disseram à reportagem que as disputas entre as duas facções podem se acirrar.
Desde a execução do chamado 'rei da fronteira', Jorge Rafaat Toumani, em junho de 2016, que teria sido planejada pelos dois grupos, o Comando Vermelho e o PCC travam uma luta sangrenta
pelo controle da área. Grande parte da droga e de armas distribuídas no Brasil passam pela região de fronteira seca, considerada estratégica pelas organizações criminosas. Mais de 50 mortes
estariam relacionadas a essa disputa.
'Piloto' é a segunda 'baixa' importante sofrida pela facção carioca na fronteira. Em dezembro de 2017, a justiça paraguaia autorizou a extradição do narcotraficante Jarvis Chimenes Pavão, para
cumprir no Brasil a pena de 17 anos e 8 meses no Brasil - ele está preso na penitenciária federal de Mossoró (RN). Conforme a Senad, Pavão é suspeito de ter tramado, junto com o PCC, o
assassinato de Rafaat. Após a execução, a rivalidade entre as duas facções cresceu e geraram violentos confrontos.
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Com morte de Rafaat e prisão de Marcelo Piloto, está aberto o caminho para PCC tomar conta do tráfico na fronteira |
O irmão mais novo de Pavão, Ronny Chimenes, foi metralhado enquanto fazia caminhada no centro de Ponta Porã (MS), cidade da fronteira. Uma semana depois, o paraguaio Americo
Ramirez Chaves foi sequestrado em Pedro Juan Caballero, esquartejado e teve partes do corpo espalhadas em Ponta Porã. Na sequência, foram sequestradas, torturadas e esquartejadas com
motosserra as irmãs Fabiana e Adriana Aguayo Baez, por suposta ligação com a morte de Ronny.
Um dos autores do ataque à boate, Willian Giménez Bernal, escapou de um atentado, mas se matou ao ver o filho de 5 anos ser metralhado em Assunção. No último dia 14, a advogada Laura
Casuso, que trabalhou para Pavão e Marcelo 'Piloto', foi assassinada a tiros em Pedro Juan Caballero.
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Guerra na fronteira irá se acirrar, na imagem Rafaat seguia em uma Hammer blindada, porém, o veículo não suportou o calibre das munições |
MP questiona a demora na extradição
O Ministério Público do Paraguai abriu investigação para apurar a demora excessiva no processo de extradição do narcotraficante Marcelo Piloto para o Brasil. Conforme a apuração inicial, pelo
menos um agente público teria retardado "de forma demasiada e proposital" a permanência do acusado na prisão paraguaia. A demora custou a vida da jovem Lidia Meza Burgos e levou o
presidente paraguaio Mario Benítez a determinar a expulsão do criminoso, entregue à Polícia Federal brasileira, na manhã desta segunda-feira (19).
A decisão foi tomada após 'Piloto' ter assassinado, no sábado, 17, a jovem paraguaia de 18 anos, que foi à prisão para uma visita ao brasileiro. Ela foi atacada com golpes de faca de sobremesa.
Por telefone, a promotora Irene Álvarez, que está à frente das investigações, informou que, mesmo preso no Brasil, 'Piloto' vai responder pelo assassinato de Lidia. "Estamos coletando todas as provas, concluindo a análise dos dados levantados na cena do crime para dar término ao procedimento de investigação e compartilhar com a Justiça brasileira", disse.
O advogado de Marcelo 'Piloto', Jorge Prieto, disse que a decisão de expulsar o suspeito é "questionável", pois seu cliente nega ter assassinado a jovem. Caberia a medida, segundo ele, se
ficasse comprovado que 'Piloto' é uma ameaça à segurança nacional. "Como a expulsão já se efetivou, aqui (no Paraguai) nada pode ser feito, uma vez que ele já está em solo brasileiro",
alegou. Conforme a promotora, a extradição de criminosos está em consonância com a Lei de Migrações do país.
A investigação da Promotoria se estende à autorização dada para que Lidia visitasse o preso. Era a segunda visita da jovem ao brasileiro. A outra fora registrada em meados de outubro. O celular
da jovem passa por perícia. Os sete agentes que faziam guarda na prisão foram ouvidos.
Conforme a polícia paraguaia, tratou-se de "visita íntima", já que a jovem se dedicaria à prostituição. O pai de Lidia, Francisco Meza, declarou em entrevista que não sabia sobre a ida da jovem à prisão e que ela trabalhava como cuidadora de idosos. A jovem tinha retornado havia dois meses da Argentina, onde a família morou alguns anos.
Fonte: UOL
Imagens adicionais : Foto divulgação Diário Digital( Imagem 2,3 e 4)