Policiais suspeitos faziam vista grossa ao tráfico de drogas na zona sul de SP.
18.dez.2018 às 8h39
Atualizado as 22:00
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Centenas de PMs cumprem os mandados de prisão na operação Ubirajara nesta terça-feira (18) - Divulgação |
SÃO PAULO - Uma megaoperação iniciada nesta terça-feira (18) busca prender 54 policiais militares e outros cinco integrantes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) em São Paulo.
Outros quatro homens acusados de integrar a facção criminosa também foram presos, e dois continuavam foragidos.
Foram apreendidos com os policiais armas com numeração raspada, cerca de R$ 80 mil em espécie, além de drogas escondidas nas casas deles e até no quartel da PM onde trabalhavam. Todos os presos são praças da corporação: um subtenente, sete sargentos, 13 cabos e 33 soldados.
Segundo a Polícia Militar, essa é a maior operação já realizada pela Corregedoria contra policiais suspeitos de ligação com o crime organizado e a terceira de grande vulto só neste ano. Em agosto passado, 32 PMs foram presos na região de Campinas e, em março, outros 20 também foram encarcerados na região de Taubaté, todos suspeitos de ligação com o comércio de entorpecentes.
As investigações referentes à operação desta terça foram iniciadas em fevereiro deste ano pela Corregedoria da PM com apoio do Gaeco (grupo da Promotoria de combate ao crime organizado).
As investigações iniciadas em fevereiro deste ano pela Corregedoria da Polícia Militar com apoio do Gaeco (grupo de combate ao crime organizado da Promotoria) detectaram que os policiais procurados pela Justiça estão envolvidos em um esquema de corrupção.
Por meio de 82 mil interceptações telefônicas, os investigadores identificaram que os PMs suspeitos faziam vistas grossas para o tráfico de drogas comandado por membros da facção criminosa na área do batalhão em que atuavam, o 22º —localizado na zona sul da capital paulista.
A operação é desencadeada em 19 municípios dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Além dos mandados de prisão, a operação batizada de “Ubirajara” busca cumprir outros 86 de busca e apreensão (70 expedidos pela Justiça Militar e 16 pela Justiça comum).
Segundo a PM, a operação envolve 450 policiais militares (280 policiais corregedores e 170 policiais do 2º Batalhão de Polícia de Choque), promotores de Justiça e agentes do Gaeco.
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Arma e munições apreendidas durante operação — Foto: Divulgação/Gaeco |
Eles vão responder na Justiça pelos crimes de corrupção passiva, concussão (vantagem indevida), associação ao tráfico de drogas, por integrar organização criminosa, entre outros ilícitos penais.
A Polícia Civil de Santo André também faz uma operação antidrogas, batizada de "Alta Fluidez". Os agentes cumprem 24 mandados de busca e apreensão e nove mandados de prisão.
Entre os nove alvos, de acordo com a investigação, estão os três traficantes mais influentes do ABC. Segundo a polícia, a quadrilha comanda o tráfico nas cidades da região, em Praia Grande e em Bauru, no interior do estado.
Para garantir agilidade e baixar os gastos com mão de obra, a quadrilha usa máquinas para embalar cocaína, crack e maconha em série, e à vácuo. Elas substituem o sistema de pesagem e de embalagem manuais. Os policiais tentam apreender essas máquinas e fazem buscas na casa de um dos fornecedores da tecnologia para o tráfico.
OUTRO LADO
A Polícia Militar, sob a gestão do governador Márcio França (PSB), diz que não compactua “com ações praticadas por seus integrantes ou quaisquer outros atos que atentem contra a disciplina e os valores e deveres militares”, segundo trecho de nota.A corporação afirma ainda que vai contribuir com a Justiça na apuração do caso. Se os ilícitos forem confirmados, a instituição diz que os suspeitos poderão ser expulsos do quadro.
A operação ocorre a menos de duas semanas da posse do governador eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), que tem adotado um discurso de endurecimento contra o crime organizado.
Entre as frentes definidas pelo tucano estão a tentativa de sufocar o PCC financeiramente, atacando o seu diversificado sistema de lavagem de dinheiro, que inclui postos de gasolina, revendedoras de automóveis e empresas de exportação, entre outros empreendimentos comerciais.
A gestão Doria também sinalizou estar disposta a remanejar a cúpula do PCC, incluindo o chefe da facção, Marcola, de Presidente Venceslau para presídios federais, caso isso não seja feito até 1º de janeiro.
O pedido para transferir 15 chefes da quadrilha foi protocolado pelo Ministério Público Estadual e está sob análise da Justiça. Ele ocorreu depois da descoberta de um plano de resgaste dos criminosos no interior de São Paulo.
Na gestão Márcio França, houve divergência entre secretários sobre a pertinência de fazer a transferência neste momento devido ao risco de retaliações do PCC.
Fonte: Folha de São Paulo