27 junho 2019

Documento traz detalhes sobre plano do PCC de resgatar presos

Entre os detentos, a liderança máxima do grupo, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola.








Por Mario Hugo Monken 
26/06/2019 às 14:00:57


 Penitenciária II de Presidente Venceslau/SP




Uma investigação feita pelo Ministério Público Estadual de São Paulo revela como seria um audacioso plano de resgate de presos da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) na penitenciária Maurício Henrique Guimarães Pereira, em Presidente Venceslau. Entre os detentos, a liderança máxima do grupo, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola.

O plano foi detectado em outubro do ano passado e foi elaborado por Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho. Informações obtidas pela Coordenadoria Regional das Unidades Prisionais do Oeste Paulista - CROESTE- revelaram que "Fuminho" e os alvos da ação já teriam despendido dezenas de milhões de dólares com o plano, investindo fortemente em logística, compra de veículos blindados, aeronaves, material bélico, armamento de guerra e treinamento de pessoal.

Segundo relatos adicionais colhidos pela inteligência das Polícias da região, o grupo arregimentado por "Fuminho" seria formado por grande número de homens que eram treinados nas fazendas dele na Bolívia, os quais seriam originários de várias nacionalidades, inclusive soldados africanos com expertise no manuseio de armamento pesado e explosivos, divididos em várias células com funções específicas e compartimentadas.

Contariam também com criminosos participantes de grandes ações contra empresas de valores e resgates de presos, ações essas que tiveram êxito em neutralizar a polícia militar do local até que os criminosos concretizassem seu intento.

Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, é apontado pelo MP como braço direito de Marcola, considerado
 o líder máximo do PCC, Fuminho comanda o tráfico de drogas e estaria na
 Bolívia ou na Colômbia, segundo o MP  | Foto: Reprodução



As equipes de criminosos lideradas por "Fuminho" se dividiriam em várias frentes para possibilitar a realização do resgate. Assim, uma das células de criminosos bloquearia, nos dois sentidos de direção, a rodovia Raposo Tavares, que margeia a Penitenciária II de Presidente Venceslau, incendiando caminhões e veículos para impedir o trânsito no local.

Enquanto isso, outras equipes atacariam com fuzis, metralhadoras ".50", explosivos e lança granadas o CPI-8 (Comando de Policiamento do Interior 8) em Presidente Prudente e o 42º Batalhão de Polícia Militar de Presidente Venceslau. Os criminosos cortariam a energia e as comunicações telefônicas e de internet das referidas unidades policiais, impedindo a saída dos policiais para atender a unidade prisional.

Uma outra frente cuidaria de neutralizar a decolagem do helicóptero Águia da Polícia Militar, num hangar ao lado do aeroporto de Presidente Prudente. Na ação cinematográfica, os criminosos utilizariam diversos veículos blindados, como SUVs, camionetes e inclusive aeronaves (helicópteros e aviões), se aproximariam da unidade prisional e atacariam, utilizando dezenas de fuzis calibre ".50", além de lança foguetes, granadas e explosivos de alto poder de destruição.

Objetivo é neutralizar os policias militares e agentes de vigilância penitenciária que guarnecem a prisão e explodir a muralha para conseguir invadir o perímetro interno do presídio e resgatar dali os presos.

Marcola seria resgatado segundo os planos de Fuminho, mas acabou sendo transferido para Penitenciária Federal de Rondônia e posteriomente para a Penitenciária Federal de Brasília




Plano para matar autoridades


O documento revela que, em 8 de dezembro de 2018, policiais da ROTA abordaram nas imediações da PenitenciáriaII de Presidente Venceslau/SP, o veículo VW Gol,ocupado por duas mulheres

Os policiais encontraram no interior do veículo várias anotações com informações relacionadas à atuação do crime organizado. Uma delas falava do promotor de Justiça Lincoln Gakiya que, segundo as anotações, daria para"fazer" (matar) a hora que quisesse, porém, seria um pouco mais complicado porque a cidade onde ele mora é bem maior e teriam mais dificuldade.

Outra anotação informava que a organização criminosa, planejava atentar e ainda ousa cobrar a execução de autoridades constituídas do Estado, com a finalidade de forçar o Poder Judiciário a recuar e não os transferir para o Sistema Penitenciário Federal.

Promotor Lincoln Gakiya seria um dos alvos dos matadores do PCC






No final da tarde de 21/01/2019, no pavilhão habitacional IV da Penitenciária de Junqueirópolis foram apreendidos manuscritos relatando, em resumo, a necessidade de realizar levantamentos das rotinas diárias de agentes públicos para eventuais ataques e execuções (mortes).

No manuscrito que estava sendo preparado para ser criptografado (codificado) em dois tipos de codificação, alfanuméricos e posteriormente trechos seriam codificados no sistema Zenit Polar(é uma sistema simples de criptografia que consiste na substituição das letras de uma palavra pela sua correspondente no nome Zenit Polar).

Foram indicados como alvos do crime organizado: Lincoln Gakiya (Promotor de Justiça GAECO de Presidente Prudente), Roberto Medina (Coordenador das Unidades Prisionais da Região Oeste do Estado de São Paulo), Luiz Fernando Negrão Bizzoto (Diretor Geral da Penitenciária II de Presidente Venceslau), Mauricio Moreira de Souza (Diretor do Núcleo de Segurança e DisciplinaTurno III da Penitenciária I de Presidente Venceslau.

P 2 de Presidente Venceslau foi a primeira a receber sistema de Bloqueadores de Sinais em janeiro de 2014,
antenas estão instaladas na muralha do presídio (Foto: Pedro Mathias/G1)



Facilidade de comunicação


Segundo a investigação,a cúpula da facção, mesmo recolhida em unidade prisional de segurança máxima do Estado, considerada uma das penitenciárias mais seguras e rigorosas do país, ainda comanda a organização criminosa de dentro daquele local. Eles se comunicam facilmente com criminosos de outras unidades prisionais, exatamente como foi o caso dos presos da Penitenciária de Junqueirópolis e também com faccionados em liberdade, inclusive com os integrantes da sintonia restrita do PCC, ou seja, o "setor responsável pelos atentados contra agentes públicos".

Tudo isso na presença atual ostensiva e em grande quantidade de policiais das tropas de elite da Polícia Militar na região de Presidente Venceslau. Conforme demonstrado nos documentos trazidos, a liderança do PCC determinou a execução de plano de atentado contra o promotor de Justiça envolvido diretamente no pedido de remoção para unidade federal e também de autoridades da Secretaria de Administração Penitenciária.

Por conta deste plano, a Justiça de São Paulo determinou no início do ano a inclusão emergencial dos presos Marcola, Marcolinha, Pezão, Chacal, Funchal, Sandrinho, Bradock, Granada, Cego, Azul , Carambola, Lóri, Val do Bristol, Du da Bela Vista e Forjado em estabelecimento penal federal de segurança máxima.





Fonte: EU RIO
Imagens Adicionais: Arquivo Pessoal e G1