Desde o assassinato de Jorge Rafaat, CV e PCC expandiram território no país. Para especialistas se não houver ação rápida, narcotráfico pode chegar a níveis incontroláveis.
Radio Cultura/ Foz do Iguaçu
Josué Calebe
15 de setembro de 2019
No último ataque ao crime organizado, um policial morreu. Foto: José Bogado |
Desde o assassinato de Jorge Rafaat, considerado por organismos antidrogas como chefe mafioso da fronteira com o Brasil , grupos criminosos brasileiros expandiram as ações no território paraguaio. De acordo com o jornal Última Hora, do Paraguai, isso se dá pela inoperância de instituições como Polícia Nacional e Poder Judiciário do país e do sistema penitenciários que permite que chefes do tráfico presos continuem operando dentro das celas, inclusive para captar mais adeptos.
Jorge Rafaat, conhecido como rei da fronteira, comandava o crime organizado na fronteira com o Brasil e foi executado com vários tiros no dia 15 de junho de 2016 no Centro de Pedro Juan Caballero, cidade que faz fronteira com a brasileira Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul. Ele foi alvo de disparos de armamento calibre .50, usado em táticas antiaéreas pelas Forças Armadas. Um ano após sua morte o novo chefe do tráfico na fronteira ordenou que o túmulo de Rafaat fosse violado e o corpo do ex-traficante foi queimado.
Na semana passada, integrantes do Comando Vermelho realizaram uma ação cinematográfica para resgatar um dos comandantes do grupo no Paraguai, Jorge “Samura” Samudio. O comissário da Polícia Nacional foi morto e várias pessoas ficaram feridas durante o ataque que aconteceu na Costanera Norte, em Assunción.
O Ministro do Interior, Juan Ernesto Villamayor, ouvido pelo Jornal Última Hora, qualificou a ação como evento isolado, no entanto, o jornal destaca que nos últimos anos ações desse tipo tem se multiplicado e estão espalhadas por todo o país, não somente na fronteira, como acontecia anteriormente.
O traficante Jorge Rafaat Toumani. Ele foi assassinado por brigar com os criminosos (Foto: Reprodução) |
Para o agente antidrogas do País, Marcelo Pecci, um dos problemas do Paraguai é a falta de reforma penitenciária. “Durante anos não se investiu devidamente na reforma penitenciária e agora estamos tendo as consequências, a insurgência de grupos que se sentem muito cômodos na prisão, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV)”, explica. PCC e CV são grupos criminosos formados em São Paulo e Rio de Janeiro que comandam o crime no Brasil há décadas e agora estão se expandindo também no Paraguai.
Para ele, ainda não é tarde para frear o crime organizado antes que o Paraguai se converta em um Estado falido, no entanto, argumenta que a reação precisa ser imediata. “É necessário investir em um programa de readaptação e recuperação do preso, com possibilidade que o regime de reclusão seja aproveitado, com trato digno, e isso passa também pela formação dos agentes penitenciários e condições estruturais dos presídios” ressalta. Ele também afirma que o sistema judicial precisa ser mais ágil.
Outro apontamento feito por Marcelo Pecci é a corrupção. Para ele é necessário diminuir, principalmente nos organismos de segurança. O agente enfatiza que isso passa pela valorização dos conhecimentos técnicos e idoneidade antes dos interesses particulares ou políticos partidários para assumir postos chaves dentro do sistema de segurança e penitenciário.
“Estamos em um estado de alerta máximo, de ameaças constantes deste tipo, não há tempo para perder, pois a situação pode piorar” advertiu o agente.
Expansão do crime organizado no Paraguai |
O especialista em crime organizado no Paraguai, Juan Martens, afirma que é clara a expansão que grupos criminosos como o PCC tiveram nos últimos anos no país. As atividades principais são o narcotráfico, o contrabando de cigarros e o tráfico de armas.
“Hoje o PCC tem presença institucional, porém não tem o controle absoluto do sistema penitenciário. Há uma disputa territorial no interior dos cárceres, isso faz com que o PCC se fortaleça cada vez mais. Dos 96 presos identificados como PCC em Encarnación (onde ocorreu uma fuga e um motim há poucos dias), apenas 15 eram brasileiros” advertiu Martens.
“Se não tivermos uma mudança radical no sistema penitenciário, em cinco anos o PCC vai ter uma hegemonia em todo o sistema penitenciário, ocupando bairros, comunidades, como acontece no Brasil” mencionou.
“Estes grupos criminais organizados entraram pela fronteira brasileira e a princípio só estavam em cidades fronteiriças: Pedro Juan Caballero, Capitán Bado e Ciudad del Este. Porém há um avanço progressivo não apenas no sistema institucional, mas também na zona de atuação. Chegaram a Asunción e vão seguir fortalecendo a sua presença na capital se não houver mudanças na política penitenciária e de segurança. Não é possível desagregar ambas as coisas” indiciou o especialista. Ele disse também que é urgente classificar os reclusos de acordo com o nível de risco e reduzir os níveis de corrupção institucional.
Fonte: Jornal Última Hora