11 setembro 2020

Vídeo: Investigações mostram detalhes do suposto envolvimento de advogado com facção criminosa

Wellington Luiz Pereira de Alcântara foi preso em Presidente Prudente durante a Operação Camaleão.


Por Murilo Zara, Sandro Bittencourt, João Martins e Mariana Gouveia, TV Fronteira
10/09/2020 
Veja a história impressionante de um homem que foi agente de escolta e vigilância penitenciária e virou advogado.
Só que aí passou a defender integrantes do PCC - Imagem: Montagem Band
Para a polícia e o Ministério Público, existem dois Wellingtons. Um é o advogado Wellington Luiz Pereira de Alcântara, de 42 anos, que já foi integrante da comissão de Direitos Humanos da subseção Presidente Prudente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), conhecido pela atuação na área criminal, pelo envolvimento em grupos de ciclismo e religiosos.

O outro Wellington, segundo a promotoria, está envolvido com uma facção criminosa e que foi preso no último dia 31 de agosto. É dele a voz em uma conversa gravada com autorização da Justiça.

A polícia começou a investigar o advogado quando identificou conversas entre ele e uma mulher presa em outra operação, em janeiro do ano passado. No celular dela, foram encontradas várias mensagens de texto e de áudio, que revelaram que a atuação de Wellington ia além da advocacia.

O número cadastrado, o nome do contato “dr. Wellington”, e a foto confirmaram que era ele quem estava combinando com a mulher ações criminosas.

Em uma das conversas eles articulam a retirada de algum material ilícito. O advogado afirma que precisam “pensar em algo muito seguro – para deixar o material em algum lugar onde depois ele iria buscar”. A mulher cogita alugar um quarto de hotel, ideia que o Wellington considera boa mas que pode gerar desconfiança.
Advogado é preso suspeito de integrar o PCC

Em outra conversa, ela pede ajuda para montar um “tabuleiro”, gíria usada pela quadrilha para indicar o planejamento de uma ação criminosa. O advogado demonstra que já viu o plano no celular dela, diz que é “de outro nível” e ela responde que “tem que ser tudo ou nada, tem que ser cheque mate”.

Outra conversa que chamou a atenção dos policiais foi uma em que a mulher pede para usar uma conta do advogado para repassar R$ 1 milhão. Ele diz que esse valor é rastreado pelo Coaf, que vai arrumar um esquema com um amigo de São Paulo. Na sequência, ele encaminha mensagens indicando pontos de blitz de trânsito – momento em que o policiamento estaria todo ocupado e que, segundo ele “seria uma boa hora para aproveitar e deixar na casa dele”.

Material que, segundo a investigação, poderia ser dinheiro vivo. Wellington diz que “não dá pra ficar circulando com um valor assim”.

Matéria jornalística


Com autorização da Justiça, os policiais passaram a analisar as ligações, conversas por texto e áudios e o uso da internet no celular de Wellington.

Foi identificado que, nessa mesma época, ele procurou modelos de cofres. Cinco dias depois, avisou para a mulher que “tinha encontrado um lugar seguro”.

Também foram encontradas outras pesquisas, como “drones”, “binóculos”, “telescópios”, “algemas” e até sobre "explosivos".

Um dos pontos que surpreenderam a polícia e o Ministério Público foi a trajetória de Wellington Alcântara. Antes de ser advogado, ele foi Agente de Escolta e  Vigilância `Penitenciária – e chegou a chefiar um grupo de elite, o Grupo de Intervenção Rápida (GIR)– na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, onde cumprem pena os principais chefes da quadrilha que atua dentro e fora dos presídios paulistas. Além de ter contato com os criminosos, essa atuação permitiu que ele conhecesse o funcionamento da unidade, os sistemas de segurança.

Depois, como advogado, Wellington passou a ser bastante ativo junto à OAB, participando de cursos e debates tanto na área criminal quanto na de direitos humanos. Ele também fez um curso de teatro e, segundo o MP, construiu uma imagem positiva.
Operação Camaleão prendeu advogado em Presidente Prudente — Foto: Polícia Civil

No mundo do crime, Wellington ganhou reconhecimento – no celular dele foi encontrada uma foto de um telegrama, enviado para ele por Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola. O conteúdo desse telegrama é uma cobrança, há o pedido para que o advogado devolva o dinheiro.

A promotoria ainda investiga se o autor foi Marcola ou outro preso também do alto escalão da facção conhecido como Jamal.

A influência do advogado junto ao comando da quadrilha é reconhecido por outros criminosos – que de dentro do presídio conversam com Wellington. O próprio Wellington alerta ao fazer a cobrança pelo atendimento a um preso. Em outro trecho, ele faz nova ameaça.

Essa postura, segundo o Ministério Público, não é comum aos advogados da quadrilha – e sim, a integrantes do alta hierarquia na quadrilha.
Materiais foram apreendidos na Operação Transponder em 2019 — Foto: João Alberto Pedrini/G1

Defesa

O advogado Juliano Rodrigo Paganin, que defende o advogado Wellington Luiz Pereira de Alcântara, disse à TV Fronteira, por telefone, que o seu cliente está preso na Penitenciária 1 de Presidente Venceslau. Ele disse que já protocolou junto à OAB de São Paulo um pedido de habeas corpus humanitário, já que seu cliente é diabético e por conta da recomendação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) ele é do grupo de risco para o coronavírus.

O pedido, segundo o advogado, deve ser encaminhado na semana que vem. Sobre o teor das acusações ele disse ainda que não teve acesso e por esse motivo não vai se manifestar.

OAB

O presidente da subseção Presidente Prudente da OAB, Wesley Cottini, informou que abriu um procedimento no Tribunal de Ética e que está acompanhando o caso. O presidente do Tribunal de Ética da OAB, Marivaldo Vilela, informou que está tomando as providências cabíveis em relação à conduta do advogado.

Fonte: G1
Vídeo: Youtube/Band

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