Um terço dos óbitos por coronavírus registrados pela categoria aconteceram no mês passado; servidores citam baixa qualidade dos equipamentos de segurança: ‘Estado só fornece máscaras de TNT’.
Por Lorena Barros
01/04/2021 - 22h23
Policiais penais denunciam problemas na contenção da Covid-19 dentro de unidades prisionais em SP |
Assim como eles, Alex Rossini, de 44, Miguel Alves Filho, de 55, Maisa Vieira, de 53, morreram pela doença em março, quando pelo menos 24 óbitos de servidores penais foram registrados, valor que equivale a 34% de todas as 70 mortes registradas pela categoria desde o início da pandemia.
No mês em que São Paulo bateu recordes diários de óbitos pela doença, as notas de pesar emitidas pelo Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo (Sifuspesp) foram quase que diárias.
Em um comparativo percentual entre as mortes dentro da categoria e na população do país, é possível ver que, enquanto o Brasil registrou quase 19% de todas as mortes por Covid-19 na pandemia no mês de março, entre os policiais penais, esse número correspondeu a 34% dos óbitos totais nesse mesmo período.
Alexandre Modafares, vítima da COVID-19, servidor fazia parte do GIR e morreu com apenas 43 anos |
Ele lembra que, além das 70 mortes totais e dos casos confirmados, há cerca de 30 servidores internados com Covid-19 em leitos de enfermaria e 14 em Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) no Estado.
A transferência de detentos entre as prisões também ocorre sem qualquer teste para presença do vírus, o que pode ter potencializado as infecções no mês de março. Além disso, o afastamento de servidores considerados como grupo de risco faz com que o número de funcionários para as unidades prisionais seja ainda menor do que o habitual.
Imagens do SIFUSPESP flagram diversos caminhões da SAP em Dracena e no complexo penitenciário de Pinheiros, fazendo transferências maciças e não “pontualmente” como a Secretaria afirma |
“Temos a missão de tentar honrar a morte desses companheiros e tentar ajudar as suas famílias, inclusive responsabilizando o estado de São Paulo pelas mortes. O Estado vai ter que se responsabilizar por elas. Ele está sendo omisso em cumprir sua função”, defende.
A idade média dos policiais penais mortos pela Covid-19 no mês de março era de 49 anos. Eles engrossam as estatísticas do Estado de São Paulo, mais populoso e mais atingido pela Covid-19 no país. Até o momento, há mais de 2 milhões de casos confirmados e mais de 74 mil óbitos causados pela doença desde o início da pandemia na unidade federativa.
Mortes por Covid-19 no sistema prisional de São Paulo - Dados do Sindicato Sifuspesp de São Paulo Clique na imagem para ampliar |
Cenário nacional
No Brasil, o levantamento de contaminações e mortes por Covid-19 dentro do sistema prisional engloba servidores e pessoas presas e é computado pelo Conselho Nacional de Justiça. Segundo dados mais recentes, do dia 24 de fevereiro de 2021, em todo o país foram registrados 293 mortes (139 de servidores e 154 de presos) e 67.262 casos (17.316 de profissionais e 49.946 de detentos) desde o início da pandemia. São Paulo, que para o CNJ tem mais trabalhadores do que presos com óbitos confirmado (57 em comparação a 40), é seguido por Roraima (com 10 servidores mortos pela Covid-19), Pará, Mato Grosso e Maranhão (com 9 mortos pela Covid-19 em cada unidade federativa).
Posicionamento da Secretaria de Administração Penitenciária
Em nota, a Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo informou que as 400 mil máscaras de TNT distribuídas até o momento são feitas com três camadas do material e “confeccionadas em oficinas devidamente higienizadas” seguindo um protocolo de higiene pessoal.
O órgão afirmou, ainda, que além das de TNT, máscaras cirúrgicas e reutilizáveis adquiridas no mercado são distribuídas para os funcionários e apenados, assim como 68 mil do tipo N95/PFF2, o que totalizaria 6 milhões de objetos de proteção distribuídos desde o início da pandemia. “As máscaras N95 são utilizadas prioritariamente pelos agentes, médicos e equipe de saúde que estão em contato direto com custodiados suspeitos ou em tratamento contra a Covid-19. Além das máscaras, foram entregues aos presídios quase 3 milhões de luvas descartáveis, mais de 132 mil litros de álcool gel, 103 mil litros de sabonete líquido, entre outros insumos”, afirmou a SAP.
Policiais penais afirmaram que só receberam máscaras de TNT para proteção individual |
“A taxa de letalidade pela Covid-19 entre os presos está em 0,3% dos casos, muito menor do que a população externa ao presídio, o que demonstra a efetividade das medidas adotadas. Sobre os agentes, o sindicato não tem a indicação de que as contaminações tenham ocorrido no ambiente de trabalho.”
Fonte: Jovem Pan
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