13 fevereiro 2022

Em depoimento, policial penal diz que disparo em torcedor do Palmeiras, foi em "legítima defesa"

Confusão foi criada entre torcedores do clube após derrota no Mundial. Policiais dispararam bombas de efeito moral e balas de borracha para dispersar grupo que se concentrava na região.

Por Bruno Tavares, TV Globo — São Paulo

13/02/2022

Torcedor armado  durante confusão na rua Palestra Itália, ele acabou atirando em outro homem-Reprodução Bandeirantes
Em depoimento à polícia, o atirador, identificado como o policial penal (agente de escolta e vigilância penitenciária), José Ribeiro Apóstolo Jr., suspeito de matar um torcedor do Palmeiras durante uma briga neste sábado (12) após a derrota do time no Mundial de Clubes, afirmou ter atirado "em legítima defesa".

De acordo com o delegado Maurício Freire, da Divisão de Operações Especiais, José que disse foi cercado e confrontado por torcedores e que, apesar de ter dito a eles que também é palmeirense, teve o celular arrancado das mãos.

O policial penal então teria corrido e mostrado algumas vezes que estava armado. Segundo o depoimento, José diz só ter atirado no desespero quando foi atacado pelos torcedores que o perseguiam.

Segundo o delegado afirmou em entrevista coletiva, foi identificada uma quadrilha de roubo de celulares nas imediações do estádio e outros torcedores realmente foram atrás do suspeito. O policial penal tem porte e posse de arma.

Vítima foi encaminhada ao Hospital das Clínicas, mas não resistiu aos ferimentos - Ingrid Griebel/RecordTV

Decisão do Delegado

Segundo aponta o Boletim de Ocorrência registrado na Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (DRADE). Policiais relataram em BO, que diz que o atirador estava encurralado por "indivíduos com uniforme da torcida Mancha Verde" que passaram a agredi-lo com chutes, socos e garrafadas.

O policial penal autor do disparo foi autuado em flagrante por homicídio qualificado. A audiência de custódia é um ato processual que ocorre em até 24 horas após prisões em flagrante, em que o juiz determina se vai manter ou não a detenção do indiciado convertendo a prisão em flagrante, em prisão preventiva.

Prisão em flagrante convertida em preventiva

A Justiça de São Paulo, neste domingo (13), converteu a prisão em flagrante do suspeito de matar um torcedor do Palmeiras, José Ribeiro Apóstolo Jr., em prisão preventiva. A decisão foi tomada depois de o juiz realizar a análise do flagrante, que está substituindo audiências de custódia durante a pandemia.

José Ribeiro é policial penal. A Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), do governo do estado, informou que aguarda a decisão da Justiça na audiência de custódia para decidir se ele será afastado de suas funções.

Em depoimento, José Ribeiro afirmou ter atirado "em legítima defesa". Ele está sendo indiciado pela polícia por crime de homicídio doloso qualificado – por motivo fútil – e por tumulto.

O policial penal atua na escolta de presos na capital e na região metropolitana e estava lotado na Penitenciária Feminina Sant' Ana. "A Secretaria da Administração Penitenciária esclarece que colabora com a investigação da Polícia Judiciária sobre o envolvimento de um policial penal (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária), na morte de um torcedor do Palmeiras", disse a SAP, em nota.

Policial penal teve sua prisão em flagrante convertida em prisão preventiva pela Justiça de São Paulo

Em decisão Magistrado cita que indiciado encontrava-se com arma sem pente e munições

Em sua decisão, o juiz anexa um link para um vídeo que mostra o suspeito perseguido por um grupo de torcedores e atirando a esmo. "Sendo possível que tal tiro tenha causado a morte da vítima", afirma o texto.
"A pessoa presa agiu, supostamente, com grande periculosidade, uma vez que levou arma de fogo para evento coletivo, efetivando supostamente disparos, o que denota um risco à incolumidade pública", diz o juiz em sua decisão. "A tese de legítima defesa, por sua vez, exige que o magistrado se debruce sobre elementos de prova ainda não acostados aos autos, como vídeos produzidos pela imprensa, gravações realizadas por eventuais pessoas que estivessem no local. Afasto, portanto, a tese, sem prejuízo de reanálise."

"Não se pode perder de vista, ainda, que o porte de arma é conferido a indivíduos que gozam de presunção de confiança do Estado, razão pela qual deve-se usar o armamento de forma ponderada. Nesse compasso, não é razoável comparecer armado em evento de aglomeração, fora dos postos de trabalho, colocando em risco a si mesmo e a coletividade, o que aumenta sobremaneira o risco de algum acidente", afirma.

O juiz ainda escreve que não se pode perder de vista, de fato, que os indícios de autoria são tênues, e demandam instrução penal e cita a perseguição de torcedores.

"Afinal, é dos autos, que vários indivíduos com uniforme da torcida Mancha Verde, teriam encurralado um indivíduo no alambrado, e teriam passado a agredi-lo com chutes, socos, garrafadas, e naquele instante ouviram um estampido semelhante a disparo de arma de fogo, e aquele indivíduo correu em direção da testemunha PM Adevaldo, o qual o conteve e segurou sua arma, constatando que a arma encontrava-se desprovida de carregador e sem munição, tendo referido indivíduo dito à testemunha PM Adevaldo que era policial penal, tendo a testemunha o puxado para dentro do gradil", escreve o magistrado.

Policiais dispersam torcedores do Palmeiras perto do Allianz Parque após decisão do
Mundial de Clubes Foto: Daniel Teixeira / Estadão
Tensão após o jogo

O subcomandante do 4º Batalhão da PM, major Fábio Teodoro, afirmou que a briga entre torcedores e o tiro deram início a um tumulto no local onde palmeirenses foram assistir à final. Segundo o oficial, um homem teria corrido de outros em direção a um gradil que separava a PM da torcida alviverde. O rapaz que fugia, então, sacou a arma e baleou um homem no peito.

Depois do disparo, segundo o subcomandante, alguns indivíduos estouraram o gradil e partiram para cima de agentes da corporação.

"Para manter a segurança dos policiais, dos familiares e de outros que estavam aqui com crianças, a gente teve que intervir. Foi necessária a ação do Choque", afirmou o major.

A polícia levou um veículo blindado para o local, que atirou jatos d’água contra a torcida para tentar conter a confusão. "Imagens serão analisadas para a identificação de outros envolvidos", afirmou a Secretaria da Segurança Pública.

Também houve a prisão de um motorista que estaria bêbado e teria jogado o carro contra policiais militares. O nome não foi informado. Ao menos seis oficiais ficaram feridos, segundo o delegado.

Outro homem, de 48 anos, foi socorrido pelos bombeiros com fratura exposta na perna e levado à Santa Casa, em Santa Cecília, na região central.

Torcedor ferido na cabeça é carregado na região do estádio Allianz Parque, onde palmeirenses se
concentraram para assistir a final do Mundial - Nelson Almeida/AFP
Havia famílias e crianças no local quando o tumulto começou. Bombas de gás lacrimogêneo foram lançadas sobre os torcedores, e muitos tentaram se abrigar nos estabelecimentos que transmitiam o jogo. Todos eles fecharam as portas. O Palmeiras, por sua vez, abriu os portões da sede do clube na rua Palestra Itália para que os torcedores pudessem se refugiar.

A troca de bombas e objetos entre o Choque e os torcedores durou cerca de 25 minutos. Ao final do confronto, havia manchas de sangue por toda a rua Caraíbas, para onde o conflito se afunilou.

Vídeo jornalístico


Três policiais sofreram cortes durante o confronto e ao menos dois carros da PM foram apedrejados, segundo a corporação. O comando de operações da PM instalado no local disse no fim da tarde de sábado que não tinha informação de outros feridos, mas que viaturas do Samu foram chamadas por torcedores e donos de estabelecimentos.

A reportagem viu um homem ser colocado em um carro de resgate, mas a polícia não permitiu a aproximação ou deu mais informações. Ele teria levado um tiro de bala de borracha na canela.

Imagens exibidas pela TV Bandeirantes mostram brigas entre palmeirenses. Em uma das cenas, um torcedor leva um soco, cai e recebe chutes na cabeça.

Minutos antes do final da partida, uma pequena bomba foi lançada em direção ao contingente da Polícia Militar que estava em frente ao Allianz Parque, na altura da rua Caraíbas, atrás de grades de proteção.

Alguns integrantes de torcida organizada pediram calma aos colegas, tentando evitar confusão maior.

Polícia em formação após final do Mundial de Clubes na Rua Palestra Itália; corporação e torcedores entraram em confronto- Nelson Almeida/AFP

BLOQUEIO

A rua Palestra Itália foi cercada por cordões de policiais militares após o confronto. A passagem pela via só passou a ser permitida para quem desejava deixar o local.

Após a confusão, o clima na região foi tranquilizado e alguns torcedores voltaram a se reunir em frente a estabelecimentos em ruas próximas.

TRISTEZA

O clima de festa na rua Palestra Itália, especialmente após o gol de empate do Palmeiras no tempo regulamentar, deu lugar a torcedores calados e irritados ao longo do segundo tempo da prorrogação. 

Quando a derrota para o Chelsea começou a ser dada como certa, alguns dos presentes passaram a xingar o zagueiro Luan, que cometeu o pênalti decisivo. Outro grupo entoava o nome do jogador em coro, celebrando sua atuação.

​Encerrada a disputa com o Chelsea, diversos torcedores começaram a deixar o local, cabisbaixos. Muitos choravam.

Fonte: G1/Folha de São Paulo
Imagens: Folha de São Paulo/Rede Bandeirantes/Rede Record

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