05 março 2023

Ironia do destino: "Pedrinho Matador", maior serial killer do país é morto a tiros na Grande SP, diz PM; Vídeos

Segundo a Polícia Militar, por volta das 10h deste domingo, dois homens passaram atirando de dentro de um carro na Rua José Rodrigues da Costa, no bairro Ponte Grande.

Por g1 Mogi das Cruzes e Suzano

05/03/2023 13h04  

"Pedrinho Matador que puxou 42 anos de prisão consecutivos e  que foi o maior serial killer do Brasil - Montagem: Leandro Leandro
O homem conhecido como "Pedrinho Matador" foi assassinado na manhã deste domingo (5), em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Pedro Rodrigues Filho tinha 68 anos e já havia sido condenado a mais de 500 anos de reclusão por ter praticado 70 homicídios.

Segundo a Polícia Militar, por volta das 10h deste domingo, dois homens passaram atirando de dentro de um carro na Rua José Rodrigues da Costa, no bairro Ponte Grande. Segundo a Polícia Militar, ele foi baleado por volta das 10h deste domingo em frente à casa de uma irmã. Pedrinho Matador ainda foi atendido pelo Samu, mas morreu no local. 

Pedro Rodrigues Filho morava em Itanhaém, no litoral paulista, mas tinha familiares em Mogi das Cruzes.

Carro em que suspeitos de atirarem em Pedrinho Matador foi abandonado durante fuga - Foto: José Antonio de Assis/TV Diário
Logo após os disparos, os criminosos fugiram e trocaram de carro. Em seguida, segundo a PM, eles abandonaram o veículo utilizado no crime, na Estrada da Cruz do Século, e embarcaram em outro carro.

Ainda de acordo com a PM, o corpo da vítima ainda está no local. Policiais militares também estão no local onde o carro utilizado no crime foi abandonado. Até o momento, ninguém foi preso.

Após deixar a prisão, ele passou a atuar como youtuber, principalmente comentando crimes de grande repercussão e mostrando sua nova rotina. Somente no Kwai, uma plataforma de vídeos curtos, o seu perfil (Pedrinho Ex-matador) tem 236 mil seguidores.

Em entrevista à Folha sete meses após deixar a prisão, Pedrinho alertou os mais novos sobre os riscos da vida bandida. "O crime não é brincadeira. Muitos estão entrando por verem os galhos [fama e dinheiro], não a raiz [prisão e morte]. É como o diabo: dá com uma mão e tira com a outra. Tem muitos jovens que entram e, quando querem sair, já é tarde demais", disse.

Pedrinho Matador durante ensaio fotográfico para reportagem sobre seu sucesso no YouTube - Robson Ventura - 08.dez.2018/Folhapress
Entre as coisas que fugiam ao código de conduta estabelecido por ele para os jovens e que o incomodavam na época estavam quebrar pontos de ônibus, andar de skate nas calçadas, desrespeitar os mais velhos e mentir para os pais sobre o lugar para onde vão. "Vejo isso tudo com os meus olhos. Não é só a droga que atrapalha a vida das pessoas."

Embora a maioria dos seguidores apoiasse os conselhos do serial killer, muitos o criticavam. Pedrinho, porém, desdenhava."Eu dou risada. Esses caras são todos burros para caramba, não param para pensar no que falam. Por onde passei, eles não passam nem que a vaca tussa. Em vez de chegar na gente e conversar, saber quem é a pessoa, ficam falando abobrinhas", afirmou na ocasião.

O matador dizia se sentir envergonhado quando era reconhecido nas ruas. "Até corro, me escondo. A pessoa chega e diz ‘eu te conheço de algum lugar’. Falo ‘eu não, você está enganado’. Mas alguns são cara dura e chegam, daí tiram foto", afirmou. O assédio, entretanto, não o incomodava por completo. "Eu me sinto feliz porque as pessoas vão aprender um pouco sobre o que elas não sabem."

"Pedrinho Matador" foi morto a tiros na manhã deste domingo, 05/03, em Mogi das Cruzes - Imagem:Basílio Magno/TV Diário 

Histórico de crimes

A primeira vítima de Pedrinho Matador foi o prefeito de Santa Rita do Sapucaí, sua cidade natal, localizada no Sul de Minas Gerais, após seu pai ser demitido da prefeitura, segundo ele, “sem direito a nada”.

O assassino de sua mulher foi o segundo homicídio praticado por Pedrinho: “Estou fazendo um bem para a sociedade, limpando o mundo de covardes”, disse ele, que é a favor da pena de morte.

Ele diz ter cometido mais de cem assassinatos, metade deles na prisão. A frase "mato por prazer" está tatuada no braço.

— Matei muitas pessoas que não valiam nada. Eu, pra ser sincero, não tenho remorso nenhum — confessa. 

Segundo ele, as vítimas eram "pessoas que não prestavam", referindo-se aos estupradores, e "traíras", como colegas de cela e o pai, que teria matado a mãe.

Em 1996, em entrevista exclusiva exibida no Fantástico, três anos antes de ser libertado e confessar que iria continuar a matar quando saísse da prisão, Pedrinho disse que matava por prazer e vingança.

Pedrinho Matador: apesar de ter 71 assassinatos em sua ficha criminal, o criminoso diz que fez mais
de 100 vítimas. Foi preso em 1973 e saiu da cadeia em 2018 - Imagem: Flávio Craveiro/Estadão Conteúdo

Notoriedade

No fim dos anos 90, ele ganhou as páginas dos jornais ao declarar que mataria o motoboy Francisco de Assis Pereira, o Maníaco do Parque, preso por estuprar e assassinar onze mulheres no Parque do Estado, em São Paulo. Mas não cumpriu a promessa. Os dois cumpriram pena na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, conhecida por receber presos de alta periculosidade, no interior paulista.

Pedrinho Matador: O serial killer que matou 'mais de cem' e passou 42 anos na cadeia. Última matéria do Globo de 17/06/21

Pedro Rodrigues Filho tinha status de pessoa famosa na Penitenciária do Estado, em São Paulo. Condenado pelo assassinato de dezenas de pessoas, entre elas, o seu póprio pai, ele andava pelas galerias de celas ostentando o corpo coberto de tatuagens ("Mato por prazer", dizia uma delas). Não por menos, era chamado de Pedrinho Matador pelos detentos que o reverenciavam como maior homicida do sistema prisional, onde ele entrou em maio de 1973, quando tinha 19 anos, e só saiu em 2007. Em 2011, foi preso de novo, para ser libertado de vez em 2018.

O mineiro Pedro Rodrigues Filho, conhecido como Pedrinho Matador, foi preso nesta quinta-feira, 10/09/2011 em Camboriú, no Litoral Norte de Santa Catarina
O nome do serial killer de 66 anos surgiu entre os assuntos mais comentados em redes sociais esta semana, depois que ele fez comentários, em seu canal no Youtube, sobre Lázaro Barbosa, o suspeito de matar quatro pessoas em Ceilândia, no Distrito Federal, que está sendo procurado há quase dez dias por cerca de 300 agentes das polícias Civil, Militar e Federal. Segundo Pedrinho, "esse sujeito é endemoniado" e pode estar usando um livro de magia das trevas para "virar fumaça" e despistar as forças de segurança. "Dificilmente vão pegar", disse ele.

Pedrinho, que em seu perfil no Instagram se identifica, agora, como "ex-matador", garante que deixou a carreira no crime para trás. No passado, ele tinha o hábito de esfaquear suas vítimas. De acordo com uma reportagem da revista "Época" publicada em 2003, boa parte de seus crimes foram cometidos depois da prisão. Ao longo de uma vida na cadeia, matou detentos no refeitório da penitenciária, na cela, no pátio e até dentro de um camburão da polícia. Confessou, diante de um juiz, ter eliminado um interno só porque 'não ia com a cara dele'. Também matou um colega de cela alegando que o indivíduo "roncava demais".

Rodrigues Filho nasceu em 29 de outubro de 1954, numa fazenda em Santa Rita do Sapucaí, no sul de Minas Gerais, com o crânio ferido, resultado de chutes que o pai desferira na barriga da mãe durante uma briga. Em entrevista à "Época" (leia abaixo), Pedrinho contou que sentiu vontade de matar pela primeira vez aos 13 anos de idade. Numa briga com um primo mais velho, empurrou o rapaz sobre uma prensa de moer cana-de-açúcar. O parente não morreu por pouco.

O assassino nunca foi à escola. Cometeu seu primeiro homicídio aos 14 anos, quando o pai foi demitido do cargo de vigia de um colégio municipal, acusado de roubar merenda. Pedrinho matou a tiros o vice-prefeito da cidade, que havia ordenado a demissão, e, depois, tirou a vida de outro vigia, que ele supunha ser o verdadeiro ladrão. Fugiu para Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, onde moravam seus padrinhos. 

Conheceu a viúva de um líder do tráfico, apelidada de Botinha, e foi viver com ela. Assumiu as tarefas do falecido e decidiu eliminar rivais, matando três ex-comparsas. Morou lá até que Botinha foi executada pela polícia. Pedrinho escapou, mas continuou no tráfico. Arregimentou soldados e montou o próprio "negócio".

O serial killer Pedrinho Matador na prisão, em 1991: 'Mato por prazer' | Reprodução
Foi quando encontrou Maria Aparecida Olímpia, cujo nome Pedrinho tatuou no braço, perto da inscrição "Sou capaz de matar por amor". Ela engravidou, mas não chegou a ter o bebê. Certo dia, ao entrar em casa, Pedrinho encontrou-a morta a tiros. Em busca de vingança, matou e torturou várias pessoas, tentando descobrir os responsáveis. Não conseguiu, até que o mandante, um antigo rival, foi delatado por uma ex-mulher. Pedrinho e quatro amigos o visitaram durante uma festa de casamento. Deixaram um rastro de sete mortos e 16 feridos.

Aos 18 anos, Pedrinho foi preso, denunciado pelo pai de uma namorada. Ele perdeu contato com sua quadrilha e aprendeu a ler e escrever. Mas continuou cometendo assassinatos em série na cadeia. Pedrinho é o que muitos especialistas definiriam como psicopata, alguém sem compaixão, que não sentia remorso nenhum por tirar a vida de um outro ser humano. Um laudo pericial de 1982, feito por dois psiquiatras, diz que sua maior motivação era 'a afirmação violenta do próprio eu'. Ele foi diagnosticado com 'caráter paranóide e anti-socialidade'.

Entrevista para o Fantástico em 1996

Quando Pedrinho foi para trás das grades, em 1973, o carro do ano era o Ford Maverick, precisava-se de telefonista para fazer um interurbano, e o Brasil vivia o período mais duro da ditadura militar, sob a presidência do general Emílio Garrastazu Médici. Ao longo de décadas na cadeia, o matador escapou diversas vezes de se tornar vítima de seu crime predileto. Certa vez, informado sobre uma emboscada, comprou uma faca de um carceireiro. Quando foi atacado por cinco detentos no pátio, conseguiu matar três deles. Os outros dois fugiram assustados.

O criminoso se gabava de ter matado muito mais do que dizem os registros oficiais. À revista "Época", ele disse foram mais de cem homicídios. Contou, mostrando orgulho, de quando assassinou o pai, depois que o progenitor matara a sua mãe, desconfiado de uma traição. Segundo esta versão macabra do próprio Pedrinho, ele rasgou o peito do pai a facadas e comeu um pedaço de seu coração. Contudo, em depoimento a um psiquiatra, ele havia dito que o pai fora morto por familiares de uma amante. Assim como este, vários relatos do serial killer têm contradições.

Diferentes reportagens dão conta de que Pedrinho foi condenado a 400 anos de cadeia por 71 homicídios. Segundo o texto da revista "Época" que embasa este post, só havia registros de 18 processos contra o serial killer. Ao ser confrontado com esse número, o próprio assassino se mostrou surpreso ("Só isso?", ele disse). De acordo com um pesquisador ouvido pela publicação, os anos 70 foram sumidouro de registros penitenciários no Brasil. Muita documentação foi perdida numa época de desmandos em que os tribunais ainda não eram informatizados.

Pedrinho Matador durante entrevista para o 'Fantástico', em 1996 | Reprodução
Ao longo de sua vida no sistema prisional, Pedrinho foi transferido diversas vezes, cumprindo pena em ao menos nove instituições diferentes. Pela lei brasileira, nenhum detento, por mais crimes que tenha cometido, pode ficar na cadeia durante mais de 30 anos. Assim, o assassino deveria ter sido libertado em 2003, mas, devido aos delitos cometidos enquanto esteve encarceirado, sua permanência atrás da grades foi esticada até 2007, quando foi solto pela primeira vez. Em 2011, foi preso de novo, devido a novas condenações por crimes cometidos na cadeia.

Leia, abaixo, a entrevista à "Época" publicada em 2003

Afinal, quantas pessoas você matou?

Que eu lembro, só aqui (na Penitenciária do Estado) eu matei dez. Mas, veja bem, tudo gente que não presta, viu amigo? Se for contar mesmo é cento e pouco. Só na cadeia eu matei 47.

Você diz que matou seu pai. Seus irmãos não ficaram bravos?

Meus irmãos eram pequenos, todos crentes, como minha mãe. Ficou aquela revolta toda quando ela morreu (assassinada por seu pai). Que eu saiba, não ficaram revoltados, não.

Quantos irmãos são?

Treze. Dez mulheres e três homens. Uma morreu. O bandido matou. Mas eu já matei ele também.

Eles visitam você?

Não gosto que minha família venha aqui, não. A maioria é evangélico, não quero que eles venham. A última visita foi há sete anos, lá em Taubaté (no presídio de segurança máxima). Foi minha irmã mais velha.

Pedrinho Matador fazendo flexões ainda na cadeia, em 2003 | Foto de Otávio Dias de Oliveira/Agência O GLOBO
É verdade que você espancou Hosmany Ramos (cirurgião plástico que se tornou assaltante de banco e assassino)?

Tive uma guerra com ele. Bagulho particular. Ele me mandou um bolo envenenado pela teresa (corda que liga uma cela a outra pela janela). Comi e comecei a sangrar pela boca. Só não morri porque tinha um monte de leite em pó que eu comi rapidinho para desintoxicar.

Aí você o espancou?

Não. O Hosmany fez isso porque eu tinha uma treta com ele antes. Tinha um rapaz que tentou uma fuga, e o Hosmany delatou. Fui falar, e ele me deu um soco na boca. Pra que soco na boca? Já era! Eu já ia matando ele, mas o pessoal separou.

Em Taubaté, você prometeu matar o Maníaco do Parque.

Isso. O que ele fez estraga a gente que está preso. Ele fez uma barbaridade. Matou um bocado de menininha indefesa. Eu tenho ódio.

Tem algum arrependimento?

Não tem nada. Só matei quem não presta.

As pessoas lá fora têm medo de você?

Têm porque nunca procuraram saber por que eu matei. Veja, eu nunca matei criança. Eu amo as crianças. Quando tem visita, eu fico brincando com elas, dou conselho. Os pais não têm tempo de cuidar porque têm de ficar namorando na cela. Nunca matei mulher nem pai de família.

Simplesmente sou apenas um assassino disse Pedrinho Matador em entrevista para o Fantástico em 1996 - Imagem: Reprodução
E essa história de matar quebrando o pescoço?

Isso é quando você tem de matar na mão, no bonde (camburão), no fórum. É fácil, você não sabe?

Não, não precisa mostrar...

É fácil. Tem de pegar desprevenido. Se você estiver esperando, não adianta. Matei uns dez assim. Tem lugar que não tem faca, meu!

Você conheceu o Bandido da Luz Vermelha?

Dei uma paulada na cabeça dele. Foi uma particular entre eu e ele. Ele era muito pilantra.

Qual a diferença entre a cadeia há 30 anos e a cadeia de hoje?

Agora está mais evoluído. Antes, era lei seca. Não tinha visita íntima. Era tipo vida de escravo. Qualquer coisa o couro comia. Hoje tá moderno. Tem escola, até computador, que está bichado, mas tem. Tive curso de pintura, desenho.

É verdade que o sujeito sai da cadeia pior do que entrou?

A cadeia não recupera ninguém, amigo. O cara sai revoltado. Aprende coisa que não sabia.

E essa turma do Primeiro Comando da Capital (PCC), que comanda o crime organizado nos presídios paulistas?

Isso aí já é um particular que não cabe a mim falar.

Ex -matador não tinha papas na lingua e afirmou diversas vezes que só matou porcarias, e limpando o mundo
Você foi convidado?

Fui, mas não entrei. Ali é o seguinte: depois que surgiu o partido, você vê que a cadeia mudou. Não morre ninguém porque o partido não deixa. É paz. Paz para a Justiça ver. Se começa uma briga, eles seguram. Eles também ajudam quem sai, arrumam trabalho.

Como é seu cotidiano?

Acordo às 4h, arrumo a cama, faço a minha física na cela até as 6 horas: cordinha para pular, flexão, prancha. Depois vou pro pátio, corro e tomo banho gelado. Às 8h abre a escola, e eu trabalho até 13h, na arrumação. Aí eu almoço e vou até as 16h30 trabalhando. Cuido de tudo lá. Organizo, não deixo fazer baderna. Depois trancam, eu janto e durmo.

Já viu muita morte aqui?

Ah, mais de 200.

Como é a Lei da Cadeia?

Não pode cagüetar (dedurar). Malandrão morre tudo. Estuprador não fica. Bicha, também não. Você não divide cela com quem não é homem, né?

Já entrou num shopping? Metrô? McDonald's?

Como é que fala isso aí? Não conheço nada disso, não. Metrô eu vi pela janela do Carandiru.

O que você lê?

O livro mais triste que eu li foi "Raízes Negras". Tem o filme, conhece? Já li também a coleção do Sidney Sheldon. Agora, estou lendo "Boas Sementes", que é religioso.

Entrevista de Pedrinho Matador a Marcelo Rezende em 11/06/2012


Fonte: G1/Jornal O Globo
Vídeo 1: Youtube TV Globo
Vídeo 2: Youtube  TV Record 

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