21 maio 2023

"Contador CV": policial penal recebia para entregar celulares a faccionados

Alvo do Gaeco, servidor era conhecido pelos integrantes da organização criminosa como "Contador CV".

Por Viviane Oliveira 

21/05/2023 

Dinheiro, armas e munições que foram apreendidos durante a operação deflagrada pelo Gaeco (Foto: divulgação) 
O policial penal Odair Pereira da Silva, de 48 anos, alvo da Operação Bloodworm, deflagrada no dia 5 deste mês pelo Gaeco (grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), contra advogados, policiais penais e outras pessoas investigadas por ligação à facção criminosa carioca CV (Comando Vermelho), recebia para entregar celulares a presos da organização criminosa.

Segundo pedidos de prisão elaborados pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) contra os alvos, Odair era lotado na Penitenciária Estadual Masculina de Regime Fechado da Gameleira 2, conhecida como "Federalzinha", em Campo Grande, desde 26 de novembro de 2021. Ele era conhecido pelos integrantes da organização criminosa como "Contador CV", porque além de ser policial penal desempenhava também, profissionalmente, a função de contador em escritório de contabilidade.

De acordo com o documento, o policial mantinha estreito contato com os presos Devair Pereira de Castro, o "Coqueirinho" ou "Dona",  uma das lideranças da facção, e Lucas Matheus Ribeiro de Moraes, "Lukinha" ou "Tutão", para negociarem valores e combinarem a forma que o policial faria o ingresso de aparelhos celulares no presídio.

Fora da penitenciaria, era Vânia Cristina Ribeiro de Moraes, "a Dona Vânia", mulher de Devair e mãe de Lucas, quem mantinha contato com Odair. 

A reportagem não encontrou a defesa de Odair. O advogado que consta na página do Sinsap (Sindicato dos Servidores da Administração Penitenciária de MS) não faz mais a assistência jurídica dos servidores do sistema penitenciário.


Trechos de pedido de prisão do Gaeco que citam o policial penal - (Foto: Reprodução) 

Operação teve como alvos policiais penais

Conforme o Gaeco, o CV estava tentando se fortalecer em Mato Grosso do Sul e, para isso, contava com advogados e policiais penais. Isso porque o Estado se tornou importante rota do tráfico de drogas e de armas de fogo por estar nas fronteiras do Paraguai e Bolívia. Até então, as investidas da facção estavam "tímidas" no Estado, aponta a investigação, que durou 15 meses.

A ação do CV em MS teve início a partir da união entre as lideranças que estavam presas na penitenciária. 

Com ajuda de policiais penais corruptos e advogados, que faziam papel de “pombo-correio”, os presos usavam celulares e mantinham contato com os faccionados em liberdade, para tratar sobre crimes como roubos, tráfico de drogas e comércio de armas, que foram praticados e comprovados durante a investigação.

Foto divulgada pelo Gaeco mostra armamento que estaria em poder com faccionados. (Foto: Divulgação)
No dia da operação, o policial penal Márcio Massao Fucushima, de 54 anos, foi alvo de mandado de busca e apreensão. 

Ele foi preso por posse irregular de arma de fogo ao ser flagrado com 11 munições calibre 38 de marca estrangeira. Na delegacia, pagou fiança de R$ 1,5 mil e foi liberado.

A operação foi deflagrada no dia 5 deste mês. Foi descoberto que agentes policiais penais e advogados estavam a serviço da facção criminosa. 

Segundo informações, o MPMS (Ministério Público Estadual) investigou por cerca de 15 meses e foi possível descobrir investidas tímidas no Estado, para estruturar e expandir a facção em Mato Grosso do Sul.

Equipe do Gaeco em um dos endereços, no Mato Grosso do Sul (Foto: Divulgação)
Ao todo, foram cumpridos 92 mandados de prisão preventiva e 38 mandados de busca e apreensão, em Campo Grande, Ponta Porã, Coxim, Dourados, Rio Brilhante, Sonora, São Gabriel do Oeste, Rio Verde de Mato Grosso e Dois Irmãos do Buriti, além do Rio de Janeiro, Goiânia, Brasília, Paulo de Faria, Várzea Grande, Cuiabá, Sinop, Cáceres, Marcelândia, Primavera do Leste, Vila Bela da Santíssima Trindade e Mirassol d’Oeste, no Mato Grosso.

O uso de celulares e as ações de “pombo-correio” feitas por advogados que integravam a facção - os gravatas - permitiam o contato entre os faccionados presos e seus comparsas em liberdade, a fim de traçar o planejamento de crimes como roubos, tráfico de drogas e comércio de armas, que foram reiteradamente praticados e comprovados durante a investigação, cujo proveito serviu para o fortalecimento do Comando Vermelho MS.

Fonte: Campo Grande News

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