O alvo pode ser um deputado, um senador, um ministro ou um magistrado. Investigações revelaram que existe uma trama nessa direção.
Por Marcela Mattos
24 fev 2024
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Insegurarança - Investigação: refém seria trocado pela libertação de Marcola, o líder da organização que está preso na capital (Sergio Lima/AFP/Marcelo Camargo/Agência Brasil) |
A poucos metros dali, algumas horas mais tarde, o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), chegou ao Senado para retomar os trabalhos legislativos depois do feriado de Carnaval. O desembarque gera um movimento intenso e ao mesmo tempo discreto entre um grupo de seguranças que, de terno e gravata, se mistura com os assessores e jornalistas. Um deles repassa no rádio a informação de que o parlamentar está entrando, e uma equipe de policiais logo aparece. Pacheco desembarca de um veículo blindado, escoltado por homens armados. Desce do carro, cumprimenta os funcionários e algumas pessoas que o abordam, e segue para o seu gabinete — cercado de agentes.
Algo parecido se repete alguns gabinetes adiante, de onde saiu Flávio Dino, ex ministro da Justiça, e fez o seu último discurso em plenário como senador, exatas 48 horas antes de assumir a vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Enquanto ele ainda caminhava em direção à saída do prédio, a pista de acesso à chapelaria, o principal ponto de desembarque do Congresso, foi bloqueada — o que, devido à grande movimentação no horário, despertou a impaciência de motoristas, que buzinavam incansavelmente. Rodeado de seguranças, Dino entrou no carro e foi embora, também seguido por uma escolta de agentes à paisana. Apesar de não parecer, era um dia normal.
Preocupação - Presidência da Câmara: vigilância na casa do deputado Arthur Lira foi reforçada depois do aviso (Ruy Baron/VEJA) |
Considerado uma das maiores organizações criminosas do planeta, o PCC movimenta bilhões de reais por meio do tráfico de drogas, conta com uma enorme estrutura de apoio e seus membros, muitos deles presos, são monitorados dia e noite pelos órgãos de repressão estatais. Em setembro do ano passado, o setor de inteligência da Polícia Penal identificou que a cúpula do Ministério da Justiça estaria marcada como alvo do grupo. O alerta foi encaminhado à Polícia Federal, ao então ministro Flávio Dino e aos secretários da pasta. A orientação foi para que todos se protegessem. Não à toa, Dino, no curto período em que assumiu o Senado, solicitou reforço em sua segurança pessoal ao Departamento de Polícia Legislativa. O ministro, que tomou posse no STF na quinta-feira 22, alterou completamente sua rotina e a da família. “É um período muito tumultuado”, disse ele a VEJA. Na verdade, é mais que isso.
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Alvos - Localização: bandidos pesquisaram o endereço das residências oficiais (///) |
O núcleo em questão é especializado em executar as missões mais ousadas, arriscadas e perigosas para o PCC, como o cometimento de atentados e sequestros, e responde ao comando do líder maior da organização: Marcos Herbas Camacho, o Marcola, que cumpre na Penitenciária Federal de Brasília pena de mais de 300 anos de prisão por uma extensa lista de crimes, entre os quais formação de quadrilha, homicídio e tráfico de drogas.
No Senado - Rodrigo Pacheco: carro blindado e ampliação da escolta do senador dentro e fora do Congresso (Ruy Baron/VEJA) |
Os investigadores acreditam que o material seria usado no ataque ao parlamentar, mas não descartam a hipótese de o arsenal também ter sido adquirido para outras operações. Na época, a Polícia Federal prendeu nove membros do PCC envolvidos no planejamento do crime. Desde então, Moro segue sob um forte esquema de proteção e trata do assunto com especial cautela: “Sobre segurança eu não falo”, disse ele.
Segundo os investigadores, a chegada de novos representantes do “Restrita” a Brasília e a constatação de que ele monitorou os endereços dos presidentes da Câmara e do Congresso, mesmo após a operação frustrada contra Moro, indicam que os criminosos não se intimidaram nem desistiram do ataque às autoridades.![]() |
Arsenal - Surpresa: detonadores sofisticados e explosivos enterrados (///) |
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Segundo o promotor Lincoln Gakiya, "Eles são capazes de qualquer coisa para atingir seus objetivos -Imagem: Leandro |
Até o dia 14 de fevereiro, escapar de uma das cinco penitenciárias de segurança máxima habitava apenas o imaginário dos maiores e mais perigosos criminosos do país. Dois detentos vinculados ao Comando Vermelho, no entanto, conseguiram fugir da Penitenciária Federal de Mossoró (RN). Não foi uma ação ousada. Eles fizeram um buraco na cela, através dele escalaram o telhado, romperam a grade do pátio e despareceram.
Drones, helicópteros e 600 policiais foram mobilizados na operação de recaptura, que ainda não havia sido bem-sucedida até o fechamento desta edição. Recém-empossado no cargo, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, determinou uma revisão de todos os equipamentos e protocolos de segurança, afastou a direção do presídio, anunciou a construção de muralhas em todas as penitenciárias federais e garantiu que um caso como esse não vai se repetir. Pode ser. Enfrentar o crime organizado, porém, vai exigir muito mais que discursos e medidas óbvias.
Fonte: Revista Veja
Imagem adicional: Leandro
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