Quinquênio mostra como o custo magistocracia turbina o custo Brasil, aumenta a disparidade de salários da magistratura transformando-os em uma elite do serviço público, que eles acreditam não fazerem parte.
Conrado Hübner Mendes*
9.mai.2024
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Desembargadores do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) em foto conjunta no Palácio da Justiça, no centro da capital paulista - Divulgação/Comunicação Social TJ-SP |
O manifesto da dignidade magistocrática, divulgado semana passada, foi desabafo do bom magistocrata. Deixou escapar revelação de profunda sinceridade: "não somos servidores públicos".
Para quem não entendeu a síntese do ethos magistocrático, três juízes deram exemplos nos últimos dias. Quando juiz desobedece a cartilha do silêncio e tenta argumentar, um grande evento pedagógico acontece. E nos ilumina.
Torres Garcia, presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, vê a perspectiva de ressuscitar o quinquênio a juízes "com grande satisfação". Explicou ao jornal O Globo: "Não podemos comparar salário de magistrado com salário de trabalhador desqualificado. A magistratura está aberta a todos, basta prestar concurso e ser aprovado."
Ou seja, não fosse bem remunerado, seria corrupto. Não recebesse já o mais alto salário do Estado e não forjasse verbas indenizatórias para fraudar o teto constitucional, a magistratura agora precisa de aumento quinquenal. Como se, em virtude dessa fraude, a corrupção institucional já não se incrustasse na folha de pagamento. Como se a ilegalidade não fosse vertida em legalidade apenas por quem dela se beneficia.
Como se a magistratura estivesse aberta a todos, exceto os desqualificados. Como se todo juiz bandeirante fosse um hiper-qualificado que sacrificou chance de ser advogado milionário em prol de missão cívica. O quinquênio não tornaria ninguém milionário, mas, só entre 2017 e 2024, Torres Garcia teve rendimentos líquidos de R$ 4.479.250 (segundo Bruno Carazza, autor de "O País dos Privilégios"). Multimilionário, talvez.
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Presidente – Desembargador Fernando Antonio Torres Garcia (biênio 2024/2025) - Imagem: TJSP |
Gabriela Lotta, da FGV, organiza outros dados: metade dos 11 milhões de servidores recebe menos que R$ 3.400 por mês. O 1% do topo ganha acima de R$ 27 mil. A aprovação do quinquênio custará R$ 40 bilhões e beneficiará os 38 mil do topo que já recebem o maior salário. Pelo critério do tempo de trabalho, não competência. O Bolsa Família custa R$ 160 bilhões por ano. Beneficia 21 milhões de famílias.
Faça as contas do descalabro. E descubra que, quando falam em "custo do funcionalismo público", querem dizer custo da magistocracia contra redução de desigualdades entre servidores públicos. Os "desqualificados" que atendem a cidadania nos campos da segurança, saúde, educação, desastre climático.
Mas não foi só Torres Garcia. Ministros de cortes superiores se juntaram à advocacia lobista em eventos privados sem acesso à imprensa na Europa, patrocinados por empresas brasileiras com causas no STF.
Gilmar Mendes comoveu: "Posso falar por mim. Não recebo cachês, viagens normalmente são pagas por quem convida. A gente faz isso e continua trabalhando. Ontem mesmo participei da sessão do STF a distância."
Entre participar de congresso com empresários a distância e de sessão do STF no Brasil, priorizou o contrário. Afinal, ar europeu, não goiano. E vê falta de educação em perguntar quem paga. Convidou e pagou, eu vou, vem você também.
Contra servidores públicos, contra o serviço público, contra o interesse público, contra a ética pública, a magistocracia opera em silêncio. Quando sai do silêncio, educa.
*Conrado Hübner Mendes
Professor de direito constitucional da USP, é doutor em direito e ciência política e membro do Observatório Pesquisa, Ciência e Liberdade - SBPC
Fonte: Jornal Folha de São Paulo
Contraponto: Todo cuidado, discrição e moderação com os diálogos e comentários.
E é nós simples servidores que ganha em torno 4000 que estamos quebrando o país ,e nesta Casta (Judiciário)ninguém se mete!
ResponderExcluirTorres Garcia, presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo"Não podemos comparar salário de magistrado com salário de trabalhador desqualificado"E verdade eu me acho um desqualificado, não vim de uma família abastarda, precisei trabalhar de dia para estudar a noite não tive e não tenho como pagar uma boa faculdade pois ganho em torno de 4000 líquido como pago aluguel ,tem meses aque a conta não fecha, entra Governo sai Governo e as coisas só piora vai chegar um tempo que o serviço público não vai valer a pena aliás já não está valendo pois é muita cobrança para pouco salário!
ResponderExcluirRevolveu-me as entranhas ao ler a matéria. Até onde vai a vaidade dos "deuses" do judiciário?
ResponderExcluirConsola-me o fato de que o incidente físico que nos faz deixar de interpretar o horizonte imediato com o olhar dos viventes é comum à todos. Na dimensão espiritual, infiro que os super gênios hiperqualificados do judiciário, perante o JUSTÍSSIMO JUIZ, poderão argumentar sobre os relevantes serviços prestados aos miseráveis desqualificados que possuíam a honra singular e plena de pagar seus salários gordos e múltiplos privilégios, à custa de suor e sangue:
"Iminente Deus, solicito vênias à Vossa Excelência para observar que sou digno de dupla honra no paraíso, haja vista ser uma pobre criança que nasceu em berço de ouro, teve uma infância atribulada pelos dissabores que envolvem a vida dos super ricos (acampamentos de férias, resort's, viagens a disney, brinquedos caros, shoppings). Ademais, suportei aquela babá arrumando meu quarto abastado, vestindo-me e dando de comer na boca, lambendo até o chão que eu pisava, lavando-me o orifício anal até os 12 anos. Não bastasse isso, estudei em escolas da elite e tive acesso ao que há de melhor na área pedagógica privada, estudei nas melhores universidades, muitíssimo mimado por papai e mamãe, bajulado por toda a criadagem.
Tornei-me um jovem nutela, fútil, vaidoso e egoísta, insensível à vida difícil dos pobretões que compõem 99,9% da população brasileira.
Mesmo assim, diante de tantas dificuldades, por mérito próprio fui alçado a este cargo dificílimo ainda jovem, sem ter nenhuma experiência e nada sabendo das dificuldades dos miseráveis brasileiros, fiquei em meu humilde gabinete decidindo sobre suas vidas insignificantes. Corría-me o peito a ameaça de ser aposentado compulsoriamente com vencimentos integrais caso descobrissem alguma irregularidade gravíssima de minha parte, estresse muito alto por míseros cem mil, ou duzentos mil reais mensais, à depender dos penduricalhos.
Protesto ainda por ter sido pego sem prévio aviso, Vossa Excelência não me enviou uma carta de intimação de que morreria, e vim para cá sem meus bens.
Deverias saber que a mim não se aplica a regra do "Nu saí do ventre de minha mãe e assim para lá tornarei". Esse negócio de que caixão não tem gavetas é falácia de Alexandre o grande, porém eu sou muito mais importante.
Aliás, devido ser hiperqualificado e muitíssimo especial, permita-me a modéstia de dizer que sou melhor que tu, assim, pleitearei perante o CNJ do céu o direito de me assentar em teu trono. PRIC, Deus".
Acredito que a petição será rejeitada por erro de endereçamento, com a seguinte mensagem:
"Redistribua-se ao setor competente, aos cuidados de Lúcifer".
Quase chorei de vegonha ao escrever esta matéria, realmente deveriámos trabalhar muito mais e pagar muito mais impostos, para assim o Estado de ter condições de lhes dar melhores e mais polpudas remunerações, pessoas tão especiais e com tantas qualificações, e eles realmente são pessimamente remunerados. Lamentável.
ExcluirSim Leandro, mas tem que denunciar mesmo. Parabéns pela coragem, é sabido que vivenciamos tempos absurdos, quem divulga matérias assim corre o risco de ser perseguido.
ExcluirLogico que voçê parou de ler, não entenderia o que está escrito.
ExcluirSó sabe escrever sobre o escolta, que saiu com sua namorada.
Descobrimos seu odio e tara por nos.
Kkkkkk Que enquadro no enKardido.
ExcluirReceba Kardilho!!!
ExcluirKkkkkkkkk
É cada fetiche estranho...
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