28 agosto 2025

Faria Lima, centro financeiro do país, tem 42 alvos de operação contra PCC

Entre as companhias estão gestoras de investimentos e instituições financeiras; investigação aponta R$ 7,6 bilhões somente em sonegação de tributos por meio do esquema.

Vitor Bonets, da CNN*, Danilo Moliterno, da CNN, em São Paulo

28/08/25 

Operação Carbono em andamento aprrendeu joias, dinheiro em espécie, maquinas de
recebimento, automóveis e armas - Imagem: Receita Federal
A megaoperação deflagrada pelo MPSP (Ministério Público de São Paulo), nesta quinta-feira (28), contra um esquema de fraudes no setor de combustíveis com participação de integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) teve 42 alvos de mandados na Avenida Faria Lima, principal e famoso centro financeiro do país.

Entre os mais de 40 alvos estão gestoras de fundos de investimentos e instituições financeiras. Localizadas no centro financeiro paulista, por exemplo, estão a Reag Investimentos, a Trustee DTVM e o Banco Genial.

PCC saiu das periferias, e com dinheiro em caix invadiu a Faria Lima, centro financeiro do país
A Reag, por meio de nota, disse que "segue colaborando integralmente com as autoridades competentes, fornecendo as informações e documentos solicitados, e permanecerão à disposição para quaisquer esclarecimentos adicionais que se fizerem necessários".

Já o Banco Genial manifesfou "surpresa e indignação" ao ver seu nome mencionado pela operação. Veja a nota da instituição:

"A instituição tomou conhecimento do assunto unicamente pela imprensa e, até o presente momento, não recebeu qualquer notificação oficial sobre a existência de procedimentos investigativos que a envolvam, seja direta ou indiretamente. O Banco Genial sempre conduziu suas atividades com base nos mais elevados padrões de governança corporativa, ética e compliance regulatório, em estrita observância à legislação e regulamentação aplicáveis. Reiteramos que estamos inteiramente à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos necessários. Ao mesmo tempo, repudiamos de forma veemente qualquer ilação infundada que possa macular a reputação da instituição e seus colaboradores."

A CNN tenta contato com outras empresas citadas para esclarecimentos e o espaço segue aberto para manifestações.

A Receita Federal, um dos órgãos que integram a megaoperação nacional contra o crime organizado no setor de combustíveis, diz que já identificou ao menos 40 fundos de investimentos (multimercado e imobiliários), com patrimônio de R$ 30 bilhões, controlados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC).

Segundo o órgão, as operações aconteciam justamente no mercado financeiro de São Paulo, por integrantes infiltrados na famosa Faria Lima. Esses fundos de investimentos foram utilizados como estruturas de ocultação de patrimônio, afirmam os auditores federais.

A Receita Federal afirmou, ainda, que esses 40 fundos são fechados com um único cotista, geralmente com outro fundo de investimento, criando camadas de ocultação do dinheiro criminoso.

Forças de segurança cumpriram ordens judiciais na Avenida Faria Lima, núcleo financeiro
de São Paulo, durante a Operação Carbono Oculto - Imagem: CNN
Esses fundos financiaram a compra de um terminal portuário, quatro usinas produtoras de álcool (mais duas usinas em parceria ou em processo de aquisição), 1.600 caminhões para transporte de combustíveis e mais de 100 imóveis pelo Brasil.

Entre os bens adquiridos com dinheiro desses fundos também estão seis fazendas no interior de São Paulo, avaliadas em R$ 31 milhões, e uma residência em Trancoso (BA), adquirida por R$ 13 milhões.
A principal fintech investigada atuava como banco paralelo da organização criminosa e movimentou sozinha R$ 46 bilhões não rastreáveis no período.

“A organização criminosa PCC está associada a uma rede de organizações criminosas, cujos vínculos são estabelecidos de forma permanente ou eventual, e convergente, de modo a assegurar a efetividade das atividades econômicas ilícitas, notadamente por meio da sua inserção na economia formal, como é o setor de combustível e o sistema financeiro”, dizem os membros do MP de São Paulo.

Forças de segurança cumpriram ordens judiciais na Avenida Faria Lima, núcleo financeiro
de São Paulo, durante a Operação Carbono Oculto - Imagem: CNN

'Beto louco' e 'primo': quem comandava esquema bilionário do PCC no setor de combustíveis

Organização criminosa atuava em toda a cadeia produtiva do setor de combustíveis e da cadeia produtiva do açúcar e do álcool, incluindo usinas, distribuidoras, transportadoras, fabricação e refino, armazenagem, redes de postos de combustíveis e conveniências.

O esquema bilionário de integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) no setor de combustíveis, alvo de megaoperação em 8 estados nesta quinta-feira (28), era comandado por Mohamad Hussein Mourad, conhecido como "primo" ou "João", e Roberto Augusto Leme da Silva, o "Beto louco".

Segundo as investigações, a organização criminosa atuava em toda a cadeia produtiva de combustíveis e de açúcar e álcool, incluindo usinas, distribuidoras, transportadoras, fabricação e refino, armazenagem, redes de postos de combustíveis e conveniências.

Mohamad Hussein Mourad, 'o primo', é um dos chefes do esquema - Imagem: Reprodução/TV Globo
Mohamad é apontado como o "epicentro das operações" e chefe da organização que utilizava empresas em todo o setor de combustíveis — desde usinas até postos — para realizar fraudes fiscais massivas, ocultar patrimônio e lavar bilhões de reais. A extensa rede criminosa era formada por familiares, sócios, administradores e profissionais cooptados por ele.

No LinkedIn, Mohamad se apresentava como CEO da empresa G8LOG, especializada em transporte rodoviário de cargas perigosas como combustível, e consultor do grupo Copape — responsável pela formulação de gasolina a partir de derivados de petróleo.

"Sou um empresário e investidor que acredita na potência do trabalho, da disciplina e do comprometimento como caminho para o alcance de resultados sólidos", escreveu ele em seu perfil nas redes sociais.

Infográfico: Como funcionava o esquema bilionário do PCC no setor de combustíveis - Imagem: Arte/g1
As investigações também apontam que a Copape e a Aster (distribuidora de combustíveis) foram adquiridas por Mohamad e usadas como instrumento na para as fraudes fiscais e lavagem de dinheiro.
O grupo liderado por ele “inflava” artificialmente os preços dos insumos nas transações entre a Copape e a Aster com o objetivo de sonegar impostos e obter créditos tributários indevidos.

Roberto também é apontado como co-líder da organização criminosa. Ele era responsável pela gestão das empresas Copape e Aster, que foram instrumentalizadas para a prática de fraudes fiscais e contábeis, falsificação de documentos e lavagem de capitais.

O esquema era dividido entre a gestão operacional das usinas e a gestão financeira e patrimonial, utilizando fundos de investimento e empresas de participações para ocultar a origem e destino dos recursos ilícitos.
O grupo liderado por ele “inflava” artificialmente os preços dos insumos nas transações
entre a Copape e a Aster com o objetivo de sonegar impostos e obter créditos tributários indevidos

A defesa de Mohamad e Roberto não foi localizada pelo g1 até a última atualização da reportagem.
Esta não é a primeira vez que Mohamad entra na mira do Ministério Público. Em junho do ano passado, ele foi denunciado por sonegação de impostos e adulteração de bombas nos postos para obter lucros milionários, conforme noticiado pelo Fantástico.

Naquela época, segundo a denúncia, ele controlava mais de 50 postos e outras empresas do setor, em nome de laranjas. E nesses postos ele praticava diferentes tipos de fraude – em 2018, ele já respondia na Justiça por falsidade ideológica e fraude em bombas de combustível.

Fonte: CNN

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