12 dezembro 2025

Prisão onde estava Marcola, a PII de Venceslau tinha quase um telefone celular para cada preso no ano de 2009

Na época, os números da varredura eletrônica indicavam que 72% dos detentos da "prisão-sede" do PCC, como até hoje é conhecida a P2 de Venceslau, tinham telefone celular em seu poder. Era quase um celular para cada preso.

Josmar Jozino

Colunista do UOL

12/12/2025

Penitenciária II  "Maurício Henrique Guimarães Pereira" de Presidente Venceslau, no interior de
São Paulo, onde ficam abrigados integrantes do PCC - Imagem: 21.nov.2018 - Jardiel Carvalho/Folhapress
A maior investigação da história contra o PCC (Primeiro Comando da Capital) cuja punibilidade aos acusados a Justiça reconheceu a prescrição neste mês, teve início em 2009, após varredura feita pelo antigo Depen (Departamento Penitenciário Nacional) na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP).

Entre os dias 2 e 4 de fevereiro de 2009, dois agentes federais do Depen (hoje Senappen (Secretaria Nacional de Políticas Penais) realizaram a varredura no presídio e detectaram 591 telefones celulares. A unidade, com capacidade para 1.280 presidiários, abrigava na ocasião 822 detentos.

Na época, os números da varredura eletrônica indicavam que 72% dos detentos da "prisão-sede" do PCC, como até hoje é conhecida a P2 de Venceslau, tinham telefone celular em seu poder. Era quase um celular para cada preso.

Alckmin inaugurou sistema de bloqueadores de celular na PII, o aparelho capta sinais telefônicos
e atrapalha comunicação dentro do local a Penitenciária II de Presidente Venceslau foi
a primeira U.P de SP a receber sistema no ano de 2014 - Imagem:G1/Reprodução

Ação sigilosa

A varredura eletrônica foi mantida em sigilo durante anos. O UOL teve acesso ao relatório. São 16 páginas contendo o IMSI (código usado para identificar o assinante da linha), IMEI (número de identificação do aparelho), nomes das operadoras e o local onde os aparelhos foram detectados.

A P2 de Venceslau é considerada "a sede, a matriz, o escritório central" do PCC desde 2006, quando o governo paulista isolou 765 faccionados na unidade e a organização protagonizou os ataques de maio, paralisando São Paulo, atacando prédios públicos e matando policiais.

Também foi de lá, por exemplo, que o PCC, graças ao uso do celular, expandiu os rentáveis e milionários negócios com com o tráfico internacional de drogas e hoje atingiu o patamar de máfia, segundo o MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo).

O relatório do Depen foi enviado à Secretaria Estadual da Administração Penitenciária, à Diretoria do Sistema Penitenciário Federal e ao Ministério Público do Estado de São Paulo.

Marcola na época em que estava tirando castigo na Penitenciária de Presidente Bernardes o
Regime Disciplina Diferenciado localizado na Região Oeste do Estado de São Paulo - Imagem: Reprodução

Três anos com os aparelhos

Logo após a varredura, um inquérito foi instaurado e o Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) de Presidente Prudente teve acesso aos números dos celulares dos presos da P2 de Venceslau e ouviu a conversa deles entre os anos de 2010 e 2013, mediante autorizações judiciais.

O presídio abrigava naquele período os principais líderes do PCC, entre eles Marco Willians Herbas Camacho, 57, o Marcola. Em janeiro de 2014 foram instalados bloqueadores na unidade.

As interceptações telefônicas levaram o Gaeco de Presidente Prudente a realizar a maior investigação da história contra o PCC. Promotores de Justiça denunciaram 175 integrantes da organização por formação de quadrilha e associação ao tráfico de drogas.

A partir desses grampos - diz o Gaeco -, foram feitos 53 flagrantes que resultaram na prisão de 144 pessoas e na apreensão de 64 veículos, 4,8 toneladas de drogas, R$ 1 milhão em dinheiro e 82 armas (sendo 47 fuzis). Segundo a denúncia, 117 dos 175 denunciados à época estavam presos.

A decisão do juiz Gabriel Medeiros, da 1ª Vara Criminal de Presidente Venceslau, em reconhecer, no último dia 2, a prescrição da pretensão punitiva contra os denunciados, encerra um processo que foi considerado pelo MP-SP como "o maior mapeamento da história do PCC".

Fonte: UOL

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