13 julho 2017

A TRISTE HISTÓRIA POR TRÁS DE UM VELHO SUCESSO POP DOS WALKERS...HISTÓRIAS DE PRESÍDIOS

Nós que fazemos parte do Sistema Penitenciário, podemos nos integrar mais em todos os sentidos e de todas as formas, e a música é uma delas. 


Leandro Leandro
13/06/2017
Capa do compacto original, de 1971 (com a grafia do nome 'Brazos' escrita errado)
Neste Post, como hoje é o Dia Internacional do Rock, a História de uma música que fala sobre os presidiários que trabalhavam nos canaviais as margens do Rio Brazos, chamado também Rio de los Brazos de Dios pelos antigos exploradores espanhóis, é o 11º rio mais longo dos Estados Unidos da América com 2060 km entre a nascente Blackwater Draw, Condado de Curri, Novo México até desaguar no Golfo do México.

No início dos anos 70, uma bandinha saída lá da Holanda se tornou one-hit wonder com um grande sucesso que embalou muitos bailes e serenatas aqui no Brasil - lembre-se que estamos na terra onde o pessoal vai muito pelo ritmo da canção, e não se preocupa muito com sua tradução ou significado do que está sendo dito, resultando em situações grotescas (como uma música com forte crítica social sobre a especulação imobiliária na Inglaterra fazer sucesso como tema romântico em trilha sonora de novela da Globo - aconteceu nos anos 80, com "Build", dos Housemartins, que ficou popularmente famosa como "Melô do Papel").

The Walkers alcançou os topos das paradas radiofônicas com "There's no more corn on the Brazos" (Não há mais milho no Brazos) em 1971, sendo que Brazos é nome de um famoso rio do Texas, EUA, ao redor do qual existem algumas prisões que se tornaram notórias por acolher presos negros.

Ali, eles eram colocados para trabalhar praticamente em .escravo, em extensas plantações de cana, para produzir melaço que era vendido para grandes empresas de produtos alimentícios, repetindo episódios de opressão social típicos ainda da época da escravatura (estamos falando do período compreendido entre as décadas de 1910-1920 nos EUA).

A letra da música, cita, por exemplo, diversos corpos de presidiários encontrados nas estradas próximas do Rio Brazos, bem como o caso de um preso mais resistente que foi vilmente espancado até ficar cego (no trecho: "Captain don't you do me like you've done for Shine... Well you´ve driven that bully till he went stone-blind" - Capitão, não faça comigo o que você fez com o Shine... Bem, você judiou daquele encrenqueiro até ele ficar totalmente cego).

                    

Ainda faz referências ao estupro de mulheres negras às margens do rio, e à desmedida exploração dos recursos naturais, até seu completo esgotamento: o título diz que "não há mais milho no Brazos", pois os homens "moeram tudo em melaço".

A música, seguindo uma linha de melodias de protesto (música folk), muito popular nos anos 60 e 70, era na verdade derivada de uma canção norte-americana tradicional chamada "Ain't no more cane on the Brazos", que continha praticamente os mesmos versos, mas se referia a cana (cane) na letra original, ao invés de milho (corn).

Não se sabe bem porque, mas os Walkers resolveram trocar "cana" por "milho". De qualquer forma, com seu canto lamurioso, introduzido por flautas melancólicas e um ritmo ponteado pelos ruídos de correntes sendo arrastadas, "No more corn..." se tornou o maior (e único) êxito dessa banda esquecida. Confira:

Pois é... ainda é engraçado pensar que, no Brasil, muitos romances foram embalados por uma música que fala sobre violência contra presidiários negros em plantações de milho( Que na letra original era cana).
Fonte: Vídeo Youtube
Texto: Blog De tudo um pouco

57 comentários:

  1. Dá pra sentir a tristeza da melodia. mesmo quem não sabe a tradução. Saudades

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    1. O adore her também é belíssima, nem precisavam gravar mais nada. Duas canções que houvirei enquanto tiver vida.

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    2. O adore her também é belíssima, nem precisavam gravar mais nada. Duas canções que houvirei enquanto tiver vida.

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    3. Eu tinha 11 anos quando tocava nas rádios 20 vezes por dia, eu chorava muito quando escutava, era um lamento e eu entendia isso, não sabia nada da letra, anos mais tarde, sabendo inglês, fui buscar a letra em uma revista antiga e fui traduzir, pesquisei a fundo e descobri a história, aí eu entendi porque eu chorava ao ouvir a música com meus 11,12,13,14, e até 25 anos, quando conheci a história.

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    4. O mesmo eu sentia, uma melancolia que doía até a alma,eu tinha dez anos então,aos 15 ,comecei a entender algumas palavras, até buscar aos poucos a tradução total, triste mesmo, eu adoro I adore her tbm, acho que é a mais bela balada que já ouvi.

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  2. Adoro essa música nem parece que por trás de uma melodia tão linda a uma história triste de mais.

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  3. Muito triste essa canção... Quando ouço tento me colocar no tempo e no lugar.. odeio escravidão

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  4. Conheço esta canção por causa da versão de Reginaldo Rossi " Quero Voltar Para O Interior " , pois fez muito sucesso aqui em Pernambuco e no Nordeste

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    1. nada haver o que vc ta falando, me desculpe... vc ta misturando uma café com suco de laranja

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    2. Na verdade, o André tem razão. Reginaldo Rossi lançou uma versão dessa música no album Com Todo Coração, de 1986.

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    3. "NADA A VER" Unknown... aprenda e escrever certo, mesmo que seja para falar merda.

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  5. Nosso Otto Nielsen interpreta essa canção com maestria, com leveza, embora tenha um tom de lamento. Muito bom!

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  6. Ótimo post, poderia postar algo sobre "House of the Rising Sun?"

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    1. Estou coletando material e vou fazer pois a música é bonita. Já a conhecia, mas como voce pediu vou fazer. É uma história bem triste também.

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  7. Gosto por demais dessa musica,desde quê escutei pela a primeira vez quando estava morando em Santos/SP, nós anos 70 !

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  8. Gosto por demais dessa musica,desde quê escutei pela a primeira vez quando estava morando em Santos/SP, nos anos 70 !

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  9. Música linda! Adoro desde de criança.
    Inesquecível! A tradução é emocionante!!!

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  10. Jamais pensei que essa música , tivesse esse conteúdo , apesar de achala triste , mas eu gosto muito dessa música...

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  11. Como podem musicalizar tempos sombrios e terríveis. A banda deve ter extraído este texto de algum livro de história, como faz diversos cantores, que extrai das literaturas poemas e musicalizam. A tradução é tenebrosa. Não comporia uma música com esta realidade tão triste e nem dedicaria a ninguém. Para mim seria uma relato histórico,que deveria servir de debates nas escolas de ensino médio e para o ensino superior.

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    1. Eugenia na verdade é uma música antiga. A canção é inspirada em outra, “Ain’t no more cane on the brazos”, de origem popular norte-americana, texana para ser exato, e que era cantada por negros ex-escravos e negros presos em prisões texanas que ficavam à margem do rio Brazos. Então o que a Banda The Walkers fez foi colocar uma nova melodia nela e trocar a palavra cana por milho, por para poder vender discos é claro. Porém é uma música com uma melodia extremamente triste.

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    2. Ain't no more cane on the brazos é de domínio público, originalmente um blues. O primeiro músico a fazer uma gravação foi Leadbelly, embora outros artistas tenham feito suas versões. A dos Walkers, devido ao ritmo lento, foi a que mais se fixou no público. Ah, House of the Rising Sun também é pesadona e tem mais uma: Wither Shade of Pale, do Procol Harum, também não é nenhum romance cor de rosa. Abraços a todos.

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  12. Obrigada amigo por mais este esclarecimento.

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  13. Na verdade o fato de se trocar milho por cana tem um motivo, até hoje nos estados unidos o xarope de glicose, de onde eles tiram o açúcar vem do milho.

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  14. Gostei muito dessa história e também da música. Não podemos evitar totalmenteque o homem se prejudique mas o conhecimento dos fatos pode melhorar um pouco. A verdadeira solução da escravidão virá por meio do Reino de Deus.

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  15. Tradução errônea do título. Milho ao invés de cana. No português, "cana" é a parte superior, lisa e alongada do milho. Cana, bambu, milho, trigo e alguns capins (até os rasteiros) são da mesma família biológica. E a palavra cana é qualquer objeto oco e alongado. A tradução de "corn" para o português seria "cana". Ademais, ao longo do rio Brasos se cultivava cana; "melaço" não se extrai de milho, e era pra ser traduzido como "cachaça". NADA DE MILHO nessa música. É cana.

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    1. Muito bem colocado, estou com essa música na cabeça desde antes de ontem, a ouvi hoje, pois curto muito aprender inglês, e no meio dessa confusão toda você me lembrou que o milho também tem cana, realmente faz sentido a sua fala. Parabéns! Agora dá pra entender melhor a música, embora eu acredite que só quem a escreveu podaria explica-la no sentido real.

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  16. Eu ouvi essa musica na infância e sempre me achei ligado a essa letra e hj sei porquê. Essa musica retrata o crime contra negros e a destruição desmedida da natureza as margens do brazos.Ate hoje aqui vemos acontecer o que eles cantam na letra violecia desmedida contra tudo e contra todos isso é lamentável e continua acontecendo em pleno sec XXI.

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  17. Linda melodia. Chorava ao ouvi-la quando era crianca, sem conhecer a letra

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  18. Tinha 12 anos hoje com 62 todas vezes que ouço esta canção fico triste mesmo sem conhecer a letra da música.creio que seja um sentimento ESPIRITUAL.

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    1. Justamente igual eu, ouvi com 12 anos hj tenho 62 e continuo ouvindo e derramando lágrimas com essa musica, simplesmente esplendorosa.

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    2. Curioso, eu ouvi essa música, provavelmente com a mesma idade ou um pouco menos - talvez 7 ou 8 anos de idade - e sempre tive a melodia na cabeça, sempre tive um sentimento estranho, triste.
      Só conheci o conteúdo da música mesmo há uns 6 anos quando resolvi procurá-la (já que volta e meia ela vinha na memória), desde então, sinto uma conexão estranha mesmo.

      Hoje, com 35 anos, ainda fico muito tocado quando ouço. É uma dor quase física.

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  19. Tinha 12 anos hoje com 62 todas vezes que ouço esta canção fico triste mesmo sem conhecer a letra da música.creio que seja um sentimento ESPIRITUAL.

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  20. Fico triste sempre que ouço mesmo quando não conheciaa letra desta música!desde meus 12 anos. hoje com 62 percebo que a música transmite dores sentidas por este povo sofrido.

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  21. Desde sempre, quando ouço uma música em outra língua, gosto de saber a tradução. Com essa não foi diferente,uma canção triste, relatando os sofrimentos de um povo escravizado e mulheres indefesas.😢😢😭😭

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  22. Alem dessa música e I ADORE HER, outra canção folclórica foi adaptada pela banda e tocou muito, só que ninguém se lembra: GO DOWN OLD HANNAH. Na época pouca gente falava inglês e a gente gostava de uma música por causa da sonoridade, arranjos, interpretação do cantor. Isso até era bom, porque cada um imaginava os versos que quisesse, de acordo com nossos sentimentos, naquele instante.

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  23. Eu ja conhecia, tenho mania de ver a traduçao primeiro.

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  24. Tenho 66 anos de idade, e não abro mão de curtir os sucessos dos anos 70' época das "brincadeiras dançantes"onde dançávamos agarradinhos as "musicas lentas" e pulávamos feitos doidos ao som de Creedence, Beatles e muito mais. O acervo dessa época é vasto. Apesar de alunos dedicados não havia a preocupação num primeiro momento em traduzir títulos ou letras de músicas em Inglês ou outras línguas, e sim, transpor para a melodia os sentimentos e emoções de jovens, que com 14 ou 15 anos, muitos estudavam e trabalhavam para ter o próprio dinheirinho e ainda ajudar a família. Não perdíamos tempo, e os encontros se davam aos sábados e até aos domingos. A meta era "curtir um som", divertir-se e porque não, ser feliz e cultivar nossos sonhos de jovens do bem.

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  25. Não ficou legal trocar a frase "cana" por "milho", devem ter relacionado ao o xarope de milho que é um líquido doce e pegajoso, utilizado como adoçante em por confeitarias e é feito a partir de amido de milho.

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  26. Existe algum filme sobre essa história?

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    1. Que eu saiba não tem nenhum filme. Ou pelo menos eu particularmente nunca ouvi falar, Mas se alguém souber nos comunique.

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  27. Li todos os comentários são excelentes, obrigado e Boa Noite!!!

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  28. Infelizmente a crueldade existe, mais branda é claro!! Adoro está música!!!!

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  29. Música copiada, os caras ainda assinam a autoria da canção, por isso que a gente fica confundido.
    Taí a prova do crime: https://www.youtube.com/watch?v=-GG20wNj3io

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    1. Esta que você postou é apenas uma regravação da canção original, assim como a que eu postei, mas o que interessa para nós, é sobre o tema que ela discute, que são as prisões.

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  30. Sem contar que erraram na grafia Brasos em vez de Brazos e molasse que significa melado e só se tira de cana de açúcar e não de millho.E nós brasileiros, damos valor a qualquer porcaria cantanda em inglês.Somos vira-latas mesmo.

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    1. Carlos boa noite, na questão do nome do Rio Brazos de fato está errado, mas o melaço se tira do milho, inclusive no Brasil é vendido um de nome Karo, pode pesquisar. Isso é um fato.

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  31. Como se tornar um pobre presidiário???

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  32. Eu nao vi em momento algum na letra da musica falar em estupros .outra coisa .eles falam de bandidos assasinos que estavam presos num presidio as margens do rio brazos e citam um dos piores...eles nao falam de anginhos e sim de bandidos...tem é
    Que parar com essa bandidolatria que existe no brasil....quem esta com pena de bandidos levem eles para suas casas......

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    1. Olá, Valdir.

      Primeiramente, eu concordo com seu ponto de vista de que bandidos devem ser punidos, de acordo com a lei, principalmente bandidos com poderes públicos, eleitos (democraticamente ou não) pelo povo.

      Dito isso, sobre a letra, ela fala de bandidos e "bandidos". Precisamos lembrar que é uma letra que remonta a sociedade civil dos EUA das décadas de 1910 a 1930. Nesse período, especialmente no Texas, onde há o Rio Brazos, houve uma grande queda na industria de cana-de-açúcar, causada principalmente pelo fim da Guerra Civil e a aprovação da 13a Emenda, que libertou a população negra e nativa da escravidão. O impacto direto na agricultura levou o Texas a introduzir leis que encarceravam escravos libertos e seus primeiros decendentes, que eram posteriormente arrendados e enviados para o trabalho na cana-de-açúcar nas grandes corporações agrícolas do Texas.

      E já podemos parar por aqui. Por isso disse que ela fala de bandidos e "bandidos". Obviamente existiam os bandidos que eram assassinos, mas, também, existiam os "bandidos" que eram escravos libertos e que precisavam voltar a ser escravos. ;-)

      Sobre os estupros, pode ser que a letra deixe a entender quando diz "they were driving the women just like they drove the men". Durante todo o período de escravidão, existia uma forma cruel de punição chamada "buck breaking", aplicada aos homens exclusivamente, além da "liberdade" que os senhores de escravos (em sua maioria, donos de grandes corporações agrícolas) tinham com as mulheres e filhos/filhas dos escravos.

      Abraço.

      Ps.: Sobre a bandidagem, estou com você. Também não tenho pena de bandido e acho que precisamos olhar pra todos os bandidos da mesma forma: os pretos, os brancos, os assaltantes de banco, os policiais, os juízes, os presidentes / ex-presidentes... Principalmente os que tem "licença" do Estado pra praticar a bandidagem enquanto estão travestidos de homens públicos.

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    2. É isso Bruninho, você foi direto ao ponto.

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  33. Tem razão. Esse fenômeno de musica com letras criticas ser confundida com balada romântica aconteceu mais de uma vez.
    Saiba que há casos atipicos como o hit ''Every breath you take'', da banda inglesa The Police, é peculiar além do Brasil {onde foi a #7 mais tocada nas rádios brasileiras daquela época}, essa musica foi tocada até, em casamentos americanos , para total surpresa do Sting. 🤣

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