22 julho 2017

HÁ 40 ANOS, CLÁUDIA LESSIN RODRIGUES ERA ASSASSINADA NO RIO

Assassinato de Cláudia Lessin no Rio chocou por crueldade e impunidade

Há 40 anos, carioca foi esganada, violentada e jogada no costão da Av. Niemeyer. Envolvidos no crime, Michel Frank foi inocentado na Suíça, e Georges Kour cumpriu 3 anos de prisão


Maria Elisa Alves


Claudia Lessin Rodrigues-assassinada no Penhasco do Chapéu dos Pescadores, na Avenida Niemeyer


Depois de ter passado o dia inteiro com dor de dente, o operário Luís Gonzaga de Oliveira se revirava na cama, insone. Para se distrair, saiu do barracão que dividia com outros três funcionários da empresa Tecnosolo, na Avenida Niemeyer, para observar a lua.

 Nas imediações, notou dois homens saltarem de uma Brasília — o mais forte puxava algo pesado do banco de trás do carro. Desconfiado da movimentação no meio da madrugada, pegou uma pedra e rabiscou, numa mureta, o número da placa do veículo. Horas depois, pouco após o amanhecer do dia 25 de julho de 1977, foi encontrado um cadáver na encosta da Niemeyer.

A polícia foi chamada e, por sua vez, acionou os bombeiros: a pedra íngreme estava coberta de limo e era impossível resgatar sem cordas o que se descobriu ser uma jovem nua, com sinais de espancamento e violência sexual.

Uma sacola cheia de pedras, atada por arames ao corpo da moça, indicava que a tentativa de jogá-la na água foi frustrada — ela ficou presa num dos platôs. Assim que soube do crime, Gonzaga ligou os pontos: a vítima, Cláudia Lessin Rodrigues, 21 anos, estava perto de onde ele tinha visto os homens, numa área conhecida como Chapéu dos Pescadores.

O caso, que marcou pela crueldade do crime e o envolvimento de pessoas da classe média e alta cariocas, foi relembrado pelo GLOBO na série de reportagens “Dez crimes que chocaram o Rio”, publicada no dia 19 de novembro de 2015.

A notícia sobre o assassinato foi publicada na edição de 26 de julho de 1977 e relatava que um corpo feminino não identificado fora encontrado despido nas pedras do costão na Avenida Niemeyer. No dia seguinte, o corpo já tinha sido reconhecido por um amigo da família e, mais tarde, pela irmã.
Imediatamente, o operário telefonou para a Rádio Globo e forneceu a placa da Brasília.


Bombeiros resgatam o corpo de Claudia L.Rodrigues do penhasco do Chapéu dos Pescadores na Avenida Niemeyer

















Um presente para os investigadores que, até então, tinham conseguido apenas traçar um perfil de Cláudia — uma moça que tivera problemas com drogas e era irmã de Márcia Rodrigues, atriz que protagonizara o filme "Garota de Ipanema" (1967).

Graças a Gonzaga, em três dias a polícia chegou a Michel Frank. Aos 26 anos, ele era dono do carro visto no local em que o corpo foi achado e de uma imobiliária em Ipanema. Abastado filho do sócio majoritário da fábrica de relógios Mondaine, exibidos nos pulsos da classe média nos anos 1970, Michel sumiu assim que percebeu o cerco se fechar. Era o prenúncio de que a impunidade marcaria o caso.

Escondido da polícia, Michel contou, sempre por meio de seu advogado, diferentes versões sobre seu envolvimento com Cláudia. Num primeiro momento, admitiu que a jovem estivera em seu apartamento, no sábado à noite, mas por pouco tempo.

Numa época sem celular, ela teria tocado a campainha pedindo para usar o telefone. Depois de várias ligações, teria saído por volta da meia-noite, sem informar para onde iria. A história começou a ruir quando o porteiro do prédio contou à polícia ter visto Cláudia, no domingo, com Michel e outro homem, branco e forte, identificado como Georges Kour, badalado cabeleireiro com salão no hotel cinco estrelas Méridien, no Leme.

Michel Frank, o assassino de Cláudia fala ao patologista Domingos de Paola como ela morreu

















Diante da evidência de que a vítima tinha passado a noite no imóvel, a família Frank, ressabiada por conta do envolvimento de Michel com drogas, começou a se preocupar. Chamou um criminalista e um perito para eles tentarem descobrir o que diria o laudo do exame cadavérico de Cláudia, que não havia sido divulgado.

A ideia era verificar se a história que Michel contara ao pai, Egon, e, depois, aos dois especialistas, era verdadeira. O suspeito defendia que a jovem misturara drogas e álcool e morrera de overdose num dos quartos da casa, antes de ele e Kour realizarem o ménage à trois que pretendiam.

Mostrando os próprios dedos feridos, Michel dizia que tentou desenrolar a língua da moça, com convulsões.

Soava verossímil, já que não era segredo o entra e sai de usuários de drogas do apartamento de Michel, no Leblon, uma espécie de boca de fumo para a classe média da Zona Sul, nem o envolvimento de Cláudia com cocaína e maconha.

 Mas o resultado do exame cadavérico foi um balde de água fria nas esperanças do patriarca: a garota, dizia o laudo, fora esganada, violentada e espancada, sem ter consumido drogas. O advogado e o perito, vendo as contradições entre o documento e o que dizia o cliente, desistiram do caso. Michel e Kour continuaram insistindo na tese.

 Um amigo de ambos, Daniel Labelle, disse à polícia que estava no apartamento e viu Michel e Kour, ambos pelados, fazendo massagem cardíaca em Cláudia até que o cabeleireiro teria exclamado: "Elle est mort".
Tudo balela, segundo o detetive Jamil Warwar, na época responsável pelo 2º Setor da Delegacia de Homicídios :
— Uma mentira, contada muitas vezes, ganha status de verdade. Advogados e criminosos falavam que Cláudia tinha morrido após uma overdose numa festinha de embalo, mas isso não aconteceu. Ela foi até a casa de Michel Frank, achando que iria encontrar um namoradinho. Acabou dormindo, esperando o rapaz até tarde.

Não houve festa nenhuma, as luzes se apagaram pouco depois da meia-noite. Pela manhã, ela foi com Michel e Kour até a Avenida Niemeyer. Kour quis mostrar onde pescava e lá, na encosta, os dois tentaram violentá-la. Ela resistiu e Michel esganou a moça. Quando os dois voltaram com uma sacola com pedras para afundar o corpo, foram vistos pelo operário. Além disso, um oficial da Aeronáutica viu o trio andando pela mureta.



Bombeiros resgatam o corpo de Claudia L. Rodrigues do penhasco do Chapéu dos Pescadores na Avenida Niemeyer


















O detetive, que já elucidou três mil crimes, conta que muitos policiais foram subornados pelo pai de Michel Frank, e que isso possibilitou a fuga do jovem, que tinha dupla nacionalidade (brasileira e suíça). Dois meses depois do crime, ele já estava na Suíça, para onde seguiu, via Buenos Aires. Na capital argentina, deu uma de suas poucas entrevistas, defendendo-se: "Não sou o monstro assassino que estão querendo fazer de mim".

Diante da repercussão do caso e da pressão da imprensa, o governo da Suíça prendeu Michel, mesmo sem um pedido oficial do Brasil. Mas ele não ficou muito tempo atrás das grades. O governo brasileiro não enviou os documentos pedidos pelos europeus nem fez uma acusação formal.

O juiz de instrução de Zurique libertou o empresário em dezembro de 1977. Em 1980, enquanto Michel trabalhava na Suíça, Kour era julgado no Brasil. Embora fotos do pescoço de Cláudia, com marcas de polegares, tenham sido anexadas ao processo, o cabeleireiro foi absolvido, por seis a um, da acusação de homicídio e violência sexual. Foi punido com dois anos de prisão por ocultação de cadáver, mas, como já estava detido há três, foi solto imediatamente.

Pai de Claudia faz apelo emocionante clamando por Justiça

A Justiça suíça recebeu cópias do processo, mas entendeu que não havia provas para acusar Michel do homicídio e o condenou, em 1981, a dois meses de prisão por uso de entorpecentes. Cinco anos depois, Michel foi preso na França com drogas.

Em 1986, de volta à Suíça, teve o mesmo fim de Cláudia. Foi assassinado com quatro tiros no rosto, após discutir com um casal que fora ao seu apartamento cheirar cocaína. A família não foi ao enterro, acompanhado apenas por um advogado, um policial e o analista de Michel.

Egon, o pai, morreu em 2005. Kour, depois do crime, perdeu o prestígio como cabeleireiro. Chegou a abrir um salão em Niterói, mas há mais de dez anos vive em São Paulo. Segundo um parente, em 2015, estaria com "problemas de saúde", sem condições de falar do "conturbado" passado.


Fonte: O Globo


Contraponto: O Brasil é um país de Impunidade  há muito mais de 40 anos, este foi somente um caso que chocou toda população na época, e de lá para cá, continuamos a ver e testemunhar outros inúmeros outros casos. Onde o dinheiro e a impunidade falam mais alto. Mas a justiça de Deus é implacável.

4 comentários:

  1. nossa 40 anos se passaram,desde daquele dia k acordei e vi sua foto na capa do jornal,fikei chocada,nao acreditava,k minha amiga favinho de mel,Gipsy como era chamada,havia sido morta,k barabaridade,e de lá pra cá nada mudou,só piorou,ohh meu Deus!!!

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  2. ...chocante. E IRRITANTE mesmo!
    E naquela época já havia coisas assim; embora tenham piorado com o passar do tempo. O que dizer de agora.
    Morei perto de onde ocorreu (até de arrepiar!)... Leblon um bairro bonito só que perigoso. E não entendo pq bajulam tanto o bairro.
    Não se entende a razão do crime. Imagino que possa ter sido alguma 'queima de arquivo'. A jovem parecia NÃO USAR DROGAS.
    O operário que testemunhou tinha a alcunha de INDIO. E não existe o CRIME PERFEITO (alias CRIME NUNCA UMA COISA PERFEITA).
    No comentário anterior citam FAVINHO DE MEL... Um dos pais dizia que a irmã a chamava disso. Uau!
    Inclusive a zona onde a encontraram tenebrosa mesmo (há 4 anos caiu a tal passarela. Leila Cravo achada no antigo motel VIP'S. E o crime aqui).

    Rodrigo (POA RS)

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  3. Como dizem: um crime EDMUNDO (e só ironizando mesmo!)...
    Um dos que a matou tinha 26 então/parecia mais.
    Lembro que em 1989 parece que algum dos algozes se foi _ apareceu no GLOBO REPORTER. Mostrava videos da busca do corpo na época. Até me arrepio ao escrever (bem desfigurado o rosto). Entre outras barbáries que NEM DEVO ESCREVER. O predio onde ocorreu tudo antigo - e uma área bela; só que perigosa. Alias o RJ sempre foi. Nem compensa tanta exoticidade.
    A irmã parece ter uma loja no HUMAITÁ. A vendo em SELVA DE PEDRA, parecida com a vítima: e atuou em outras produções.
    E que coisas assim não aconteçam +.

    * Leila Cravo se foi recentemente. Ao menos não na parte da cidade onde houve o crime a a queda da passarela.

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  4. Na revista mostra a morte de araceli também,dois crimes onde os envolvidos com dinheiro ficaram impune e de lá pra cá nada mudou as mulheres morrem e nada e feito .

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