07 setembro 2017

Em 2017, SC tem o dobro de mortes em unidades prisionais registradas em 2016

Este ano, foram 14 casos. Pais de pessoas mortas no sistema prisional questionam investigação feita por secretaria.




Por NSC Notícias
06/09/2017 21h46  Atualizado há 2 horas

Colônia Penal Agrícola de Palhoça




Em 2017, Santa Catarina registrou 14 mortes dentro de unidades prisionais até esta quarta-feira (6). Em todo o ano passado, foram sete e em 2015, duas. A Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania disse que faz o que pode para evitar mais casos. Pais de pessoas mortas nas unidades prisionais questionam a investigação feita pelo estado, como mostrou o NSC Notícias.

"Me ligaram me dizendo que meu filho estava morto", afirmou a mãe de um detento. Luan Mateus dos Santos tinha 23 anos e duas condenações por tráfico de drogas. Estava na Colônia Agrícola de Palhoça, na Grande Florianópolis, e tinha bom comportamento, segundo a Justiça.

Em uma semana, teria uma saída temporária de sete dias. A mãe não acredita na versão do Departamento de Administração Prisional (Deap), de que ele foi encontrado morto com indícios de suicídio. "Como é que uma pessoa vai ter problema quase saindo de sete dias, com uma filha de 2 anos? Está acompanhando o crescimento da filha e vai querer se matar? Não tem essa, não existe!", indignou-se.

Investigação das mortes

A Secretaria de Justiça e Cidadania não informou detalhes sobre a investigação das causas das 14 mortes. Porém, há algumas respostas em documentos dos inquéritos policiais.

Um exemplo é o caso de Sebastião Carvalho Walter, morto em janeiro na Penitenciária de São Pedro de Alcântara, na Grande Florianópolis. Era um dos líderes de um grupo criminoso do estado, segundo as investigações. Outro preso confessou o crime.

 Complexo Penitenciário do Estado (COPE) - São Pedro de Alcântara




Os agentes prisionais disseram que abriram as celas para revista dos detentos. O suspeito saiu de sua cela e foi até a de Sebastião, dando golpes de faca nele. A inteligência do Deap disse que o suspeito está entre as principais lideranças do grupo criminoso no Vale do Itajaí e que a morte seria pela disputa de poder entre os dois por uma posição de liderança.

Também em janeiro, Valcir Tomas foi assassinado em São Pedro de Alcântara com 43 golpes de uma faca artesanal. Novamente, outro preso assumiu o crime. Os dois discutiram por causa da superlotação e brigaram porque nenhum deles queria dormir no chão, conforme as investigações policiais.

"Em algum momento, o estado está falhando em vistoriar corretamente as celas, fazer as revistas apropriadas, fazer o remanejamento e a readequação dos presos nos locais apropriados nas unidades prisionais", afirmou o conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil em Santa Catarina (OAB/SC) Leonardo Pereima.

Busca da autoria

Das mortes mais recentes, duas ocorreram na semana passada no mesmo complexo penitenciário. Em um dos casos, ninguém assumiu a autoria. No outro, o preso que assumiu disse que matou a facadas em uma discussão por causa de um refrigerante.

Penitenciária Complexo Vale do Itajaí, tem forte liderança de grupos criminosos




O secretário-adjunto de Justiça e Cidadania, Leandro Lima, disse que o estado tem feito o que pode para evitar as mortes. "O estado sempre tenta separar os grupos, conforme eles mesmos se declaram, em uma atitude preventiva, para evitar que essas situações aconteçam. Todas as providências legais, periciais e policiais foram tomadas e muitos casos a gente consegue chegar à autoria dos fatos, imputando nova condenação", afirmou o secretário-adjunto.

A mãe do detento Luan Mateus dos Santos continua os questionamentos: "Não vai ficar assim! Por que? Quando vocês pegam eles, vocês prendem. Prendem, fazem um monte de palhaçada. Aí quando morrem vocês não querem nem saber como é que foi a história?".


Fonte: G1