24 novembro 2017

Ex-estagiário da Justiça Federal é solto após admitir acesso a processos de um dos maiores traficantes do país, diz PF

Estudante de direito, de 20 anos, foi preso na segunda-feira (20) e liberado na quarta-feira (22). Segundo PF, não há indícios de que ele tenha recebido qualquer valor para fornecer as informações, nem de que faça parte de organização criminosa.


Por Aline Pavaneli, G1 PR, Londrina
23/11/2017 

Segundo a PF, Cabeça Branca fez plásticas e mudou de identidade enquanto ficou foragido
(Foto: Divulgação/Polícia Federal)


O ex-estagiário da Justiça Federal de Londrina, no norte do Paraná, colaborou com as investigações e foi solto após admitir ter acessado ilegalmente o processo criminal da Operação Spectrum, que prendeu Luiz Carlos da Rocha, conhecido como “Cabeça Branca”, segundo a Polícia Federal (PF).
O estudante de direito havia sido preso na segunda-feira (20) e foi liberado no fim da manhã de quarta-feira (22), conforme a PF.

Cabeça Branca é apontado pela Polícia Federal como um dos maiores traficantes do Brasil, com mais influência que outros traficantes, como Fernandinho Beira-Mar e Juan Carlos Abadia. Ele estava foragido da Justiça havia 30 anos e foi detido em Mato Grosso em julho deste ano. O traficante está preso na Penitenciária Federal de Catanduvas, no oeste do Paraná.

De acordo com ofício da PF que determina a soltura do investigado, o estudante também confessou que forneceu seu login e senha do sistema Eproc, da Justiça Federal, à sua namorada e permitiu que ela repassasse os dados aos irmãos dela, filhos do traficante.

Além disso, a PF afirma que não há indícios de que o estudante tenha recebido qualquer valor para fornecer os dados, nem de que ele faça parte da organização criminosa.

O documento destaca que o acesso permitido pela senha o ex-estagiário era limitado a ações que tramitam em nível de sigilo 1, com visualização permitida somente pelos usuários internos e partes do processo. O nível de sigilo mais alto é o 5.

“Tal fato não diminui a gravidade da conduta, porém garante que autos que tramitam sob níveis de sigilo maior não tenham sido acessados, evitando-se maiores riscos à investigação e servidores”, diz o ofício da PF.

Os filhos de Cabeça Branca também foram ouvidos pela polícia e corroboraram as declarações do ex-estagiário, “confessando terem utilizado a senha para que pudessem entender o que estava acontecendo com seu pai”.

Ainda conforme o ofício da PF, a filha de Cabeça Branca entregou espontaneamente seu computador pessoal e seu telefone celular, onde consta conversa por aplicativo pela qual o namorado lhe passou a senha da Justiça.

Os filhos do traficante esclareceram que o acesso ao processo realizado em Ponta Porã (MS) foi feito por um advogado do pai, que ainda não tinha procuração para acessar os autos.

Por fim, a PF informa que as investigações do caso continuam com a análise do celular do estudante de direito e de dois filhos do traficante, assim como outros dados de acesso aos processos por cada um dos investigados.

O ex-estagiário não tinha advogado constituído no processo eletrônico da Justiça Federal até a publicação desta reportagem.


Fonte: G1