24 fevereiro 2018

LAVA-JATO CHEGANDO AO NINHO TUCANO : CCR pagou a ex-diretor da Dersa, diz Assad

Operador afirma que movimentou R$ 46 mi e repassou parte a Paulo Vieira de Souza




Fabio Serapião, de Brasília, e Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba
24 Fevereiro 2018 | 05h00


Paulo Veira de Souza, ex-chefe da Dersa, e Adir Assad, apontado como operador.
FOTOS: ED FERREIRA/ESTADÃO E FÉLIX R./FUTURA PRESS












O operador Adir Assad afirmou em depoimento de sua delação premiada à Lava Jato ter recebido por meio de suas empresas de fachada cerca de R$ 46 milhões de concessionárias de rodovias do Grupo CCR. A delação integra a documentação da 48.ª fase da operação, que investiga irregularidades em rodovias e envolve empresas que conquistaram concessões no Estado de São Paulo durante as gestões tucanas de Geraldo Alckmin e José Serra. Os repasses teriam sido efetuados entre 2009 e 2012 e parte dos valores, segundo Assad, foi entregue ao ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza.


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DEPOIMENTO  PDF


Assad é apontado nas investigações da Lava Jato como responsável por fornecer dinheiro em espécie para construtoras pagarem propina. Segundo ele, suas empresas de fachada eram subcontratadas e o valor das notas frias era usado para abastecer caixa 2 das empreiteiras. De 2007 a 2012, as empresas de Assad movimentaram R$ 1,3 bilhão em contratos fictícios assinados com grandes empresas.

No depoimento, Assad listou pagamentos recebidos de ao menos três concessionárias de rodovias paulistas. Da NovaDutra, responsável pela concessão da rodovia que liga São Paulo ao Rio, foram R$ 17,3 milhões recebidos por meio da Rock Star Entertaiment e Rock Star Produções, entre 2009 e 2012. Essas mesmas empresas receberam da Viaoeste, concessionária do sistema Castelo Branco-Raposo Tavares, R$ 9,6 milhões em 2009 e 2010. Outra concessionária que efetuou pagamentos foi a CCR Autoban, administradora de parte do Sistema Anhanguera-Bandeirantes, com repasses de R$ 13,7 milhões entre 2009 e 2012.

Na delação, Assad relatou sua atuação como fornecedor de dinheiro em espécie para grandes empresas, mas não indica possíveis beneficiários dos valores fornecidos. Sobre os R$ 46 milhões pagos pela CCR, Assad disse apenas que parte dos valores foi repassada ao ex-diretor da Dersa e que o restante era entregue em espécie na sede da empresa em São Paulo.

Assad afirmou ter sido apresentado por Paulo Vieira de Souza ao presidente da CCR, Renato Vale, em 2009. Souza já foi apontado nas delações da Odebrecht, Andrade Gutierrez e OAS como destinatário de propina paga por empreiteiras em obras viárias em São Paulo. A pedido do Ministério Público Federal, o ex-diretor da Dersa teve R$ 113 milhões bloqueados em contas no exterior.

A CCR tem entre os acionistas a Camargo Corrêa e a Andrade Gutierrez, duas empreiteiras investigadas na Lava Jato, e é dona de algumas das principais concessionárias de rodovias que atuam em São Paulo.

Além das citadas por Assad, a CCR também é proprietária do trecho oeste do Rodoanel e de outras rodovias no interior de São Paulo. “Há suspeita de que esse esquema se reproduz inclusive em outros Estados que têm concessões administradas pelas mesmas empresas”, afirmou o procurador da República Diogo Castor de Mattos em coletiva de imprensa no dia da Operação Integração – a 48.ª fase da Lava Jato. Segundo ele, em um primeiro momento o foco é no grupo Triunfo, que controla a Econorte, do Paraná, e que no caso das demais concessionárias “a investigação está em fase menos avançada.”
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Stock Car

Segundo Assad, no caso do Grupo CCR, foram forjados contratos de patrocínio superfaturado entre as concessionárias e a empresa Rock Star, que possuía uma equipe de Stock Car. Conforme o delator, o dinheiro das transações ilícitas eram entregues por ele a um diretor da empresa, Everaldo Nascimento. Normalmente, relatou, as entregas eram na sede da empresa na capital paulista. Mas, segundo Assad, por duas vezes lhe foi solicitado efetuar a entrega em endereços no Rio.

Assad apareceu no noticiário pela primeira vez em 2012, quando a Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, quebrou o sigilo da construtora Delta. A empresa de Fernando Cavendish transformou em dinheiro em espécie cerca de R$ 370 milhões em notas frias pagas para as empresas de Assad.

Na delação, o operador afirmou que, mesmo após a operação, continuou a receber do Grupo CCR. “A essas ajudas estava subjacente um compromisso informal, velado, de permanecer em silêncio a respeito dos negócios ilícitos que haviam realizado (sic)”, disse Assad em depoimento ao Ministério Público Federal.

Marinho. Embora não cite políticos em seu acordo de colaboração, Assad relatou no depoimento sobre repasses da CCR dois pagamentos efetuados diretamente na conta do então candidato a prefeito de São Bernardo Luiz Marinho (PT). Atual pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, Marinho foi candidato à reeleição, em 2012, quando Assad afirmou ter realizado os repasses.

“Em certa ocasião, possivelmente em 2012, houve um jantar de apoio à candidatura a prefeito de Luiz Marinho. Que Everaldo Nascimento, da CCR, pediu ao colaborador para depositar um valor referente a esse evento da ordem de R$ 60 mil”, diz trecho da delação de Assad. Segundo o operador, o repasse foi efetuado por meio de um depósito na conta corrente em nome da campanha do petista.

O Grupo CCR informou, por meio de nota, que não teve acesso à delação premiada de Adir Assad e por isso não se manifestará. O advogado José Roberto Santoro, que representa o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, não respondeu aos contatos da reportagem.

Também citado na delação, o petista Luiz Marinho afirmou que “todos os valores recebidos pelas suas campanhas a prefeito constam das prestações de contas. “Todas devidamente aprovadas pela Justiça Eleitoral”, diz a nota enviada por Marinho.

O senador José Serra (PSDB) afirmou que não tem nenhuma relação com esses fatos. Questionado, o governo de São Paulo defendeu a investigação. “Tudo deve ser investigado. Qualquer prejuízo aos cofres públicos, deve ser ressarcido”, diz nota enviada pelo Palácio dos Bandeirantes.





Fonte: Estadão