26 fevereiro 2018

Piloto de helicóptero usado na morte de Gegê do Mangue 'não queria deixar serviço com outra pessoa', diz taxista

Motorista afirmou em depoimento que pegou o piloto em hotel no litoral oeste e levou a empresa de táxi aéreo, nas horas que antecederam a morte de Gegê e Paca.




Por Alessandro Torres, Evandro Siqueira e Maurício Ferraz, Jornal Hoje
26/02/2018 13h42  

Testemunha de assassinato negocia forma para se apresentar à polícia, em Fortaleza




O depoimento de uma testemunha-chave revelou que o piloto do helicóptero suspeito de envolvimento na morte dos chefes da facção criminosa PCC em Aquiraz apanhou um táxi em um hotel na praia do Cumbuco até uma empresa de táxi aéreo perto do local onde os corpos foram encontrados, horas antes dos assassinatos em 15 de fevereiro. O Jornal Hoje teve acesso ao depoimento desta testemunha, um taxista.

No trajeto, o piloto queria pressa e ''não queria deixar o serviço com outra pessoa", disse o motorista.
Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca, foram encontrados mortos na mata de uma reserva indígena, em Aquiraz, a 30 quilômetros de Fortaleza, no litoral leste do estado, na sexta-feira (16). Gegê era considerado um dos membros da cúpula da facção.

Gegê do Mangue era foragido da Justiça (Foto: Reprodução/TV Globo)



O taxista que levou o piloto Felipe Morais contou à polícia que apanhou o cliente às 8h40 da quinta-feira (15), e ele informou, inicialmente, que iria para o Aeroporto Internacional Pinto Martins. No entanto, durante o trajeto, Morais mudou a rota e pediu que o taxista o levasse para uma empresa de táxi aéreo.

As investigações apontam que Gegê e Paca embarcaram no helicóptero pilotado por Morais com destino à Bolívia, mas a aeronave pousou na reserva e os dois foram torturados e assassinados na manhã do dia 15.

Durante o trajeto, o piloto falava ao telefone, pedia pressa e chegou a dizer que "não queria deixar o serviço com outra pessoa". Chegando à empresa, segundo o depoimento do taxista, o piloto de helicóptero encontrou outras quatro pessoas, ainda não identificadas pela polícia.

O piloto Felipe Morais, que ainda não foi localizado pela polícia, disse que foi obrigado a pousar pouco depois da decolagem. Ele negou ter simulado uma pane na aeronave. Disse ainda que viu as execuções em Aquiraz.

O advogado de Morais afirmou ao Fantástico que o piloto foi contratado por Wagner Ferreira da Silva, conhecido como Cabelo Duro, também da cúpula do PCC e executado a tiros na frente de um hotel em São Paulo na última quinta-feira (22). Segundo a defesa, Morais escondeu o helicóptero e pretende se apresentar à polícia nesta semana.
Bilhete encontrado na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau indica que Gegê do Mangue e Paca (nas fotos)
 foram mortos porque desviaram dinheiro da facção (Foto: Reprodução/Divulgação)




Bilhete

Um bilhete achado na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, reforça a suspeita investigada pelo Ministério Público de que os dois foram foram mortos no Ceará pelo PCC porque supostamente desviaram dinheiro da facção criminosa.

Férias

Gegê do Mangue estava em Fortaleza há pelo menos seis meses. Em Aquiraz, cidade onde foi achado morto, Gegê era dono de uma mansão num condomínio de luxo e vários carros importados. Os criminosos usavam o período de férias no Ceará para reencontrar familiares. Há fotos de Paca em um famoso parque aquático do estado e em praias como Jericoacoara e Canoa Quebrada em janeiro de 2017.

De acordo com o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, o deslocamento do chefe da facção e do comparsa era feito sempre por aeronaves fretadas que saíam do Paraguai ou da Bolívia direto para o Ceará.

Na portaria do condomínio de luxo em Aquiraz, o cadastro dos dois foi feito com nomes falsos. Gegê era “João Paulo Martinelli” e Paca “Carlos Fabiano Duarte”. Além de usarem documentos falsos, eles alegavam ser empresários que pretendiam investir na região.

Paca em imagem de janeiro de 2017 na Praia de Jericoacoara. (Foto: Arquivo pessoal)







Solto antes do julgamento

Em abril de 2017, o promotor Rogério Leão Zagallo disse ao G1 que “a última informação recebida pela Polícia Federal é da suspeita de que Gegê esteja no Paraguai desde que ele fugiu”.

Também em abril do ano passado, ele foi condenado a 47 anos, 7 meses e 15 dias de prisão pelos crimes de homicídio triplamente qualificado e formação de quadrilha armada. Para a fixação da pena, o magistrado levou em consideração, entre outros fatores, os antecedentes criminais do acusado, sua conduta social e personalidade voltadas a práticas delituosas.

Para o Ministério Público (MP), Gegê e Abel ordenaram as execuções de dois criminosos na favela do Sapé, no bairro do Rio Pequeno, Zona Oeste de São Paulo. Eles tinham dado as ordens por celular de dentro da cadeia para integrantes da facção matarem dois desafetos do grupo do lado de fora.

Ele foi liberado antes de seu julgamento após a Justiça entender que houve excesso de prazo para ele ser julgado. Após a sua liberação, ele não se apresentou mais às autoridades e faltou ao próprio julgamento. Ele não foi localizado por ter mentido sobre os endereços que poderia estar e passou a ser considerado foragido da Justiça. Sua prisão prevntiva chegou a ser decretada.



Fonte: G1