29 abril 2018

MATÉRIA DE DOMINGO: O PREÇO DA LIBERDADE, Manifestantes pedem soltura de homem preso no lugar de criminoso morto no Rio de Janeiro

Leandro Luiz do Livramento foi preso na última terça acusado de tráfico de drogas; familiares e amigos alegam que ele teve os documentos roubados por bandido morto em 2014.






por Caio Barreto Briso
29/04/2018 14:03

Maria do Livramento, mãe de Leo, participou da manifestação ao lado de amigos e familiares
Guilherme Pinto-Agência O GLOBO





RIO - Um grupo de 300 pessoas marchou para pedir a soltura de Leandro Luiz do Livramento, de 32 anos, funcionário há 13 anos da empresa C&A, onde tem um cargo de confiança no setor financeiro. Ele está preso desde terça-feira, da semana passada, em uma unidade prisional em Benfica.

Léo, como é chamado, foi surpreendido ao tirar a segunda via do RG no posto do Detran de Vilar dos Teles, em São João de Meriti, onde mora com a mãe e duas irmãs mais novas. Enquanto aguardava a entrega do documento, foi informado que só sairia de lá com a polícia, pois havia um mandado expedido em 2013 pedindo sua prisão.

Familiares e amigos do rapaz, que cursa duas faculdades ao mesmo tempo (Ciências da Economia e Contabilidade), se uniram para organizar o ato e também para pagar os custos de um advogado.

Segundo eles, um criminoso chamado Leandro de Souza Rodrigues, conhecido pelos vulgos “demoniado” e “Dennis, o Pimentinha” usou o número do CPF de Léo para cadastrar um chip de celular. O homem, que era investigado por tráfico de drogas pela Delegacia de Combate às Drogas (DCOD), foi morto em 2014, mas o mandado em nome do funcionário da C&A continuou aberto.

A foto de Léo estampava as camisas dos manifestantes - Divulgação



- A justiça tem o grampo telefônico dessa linha. Uma perícia pode comprovar que a voz dele (bandido) e do Léo são diferentes. O Léo sempre foi muito caseiro, vive mergulhado em livros, é uma pessoa que não sabe se defender. Dói imaginar ele em uma cela com outros presos - afirma o primo João Paulo da Silva Rocha, de 31 anos, funcionário público.

Uma das irmãs, Ana Luiza do Livramento, de 21 anos, conta que é Léo quem paga as contas de casa. A mãe, Maria do Livramento, de 55, é dona de casa e Ana Luiza, que perdeu o emprego há três anos, desde então, só estuda - ela cursa Direito na Estácio de Sá e o irmão também ajuda a pagar as mensalidades.

- É ele quem banca a casa, faz as compras, paga o telefone. Estamos aqui pedindo socorro. Não sabemos como está o seu lado emocional, ele está em um mundo que não conhece. Só o advogado esteve com ele, que contou que teme ser demitido por causa dessa confusão.

A amiga Cintia Pinheiro Bonfim também pedia a soltura de Léo
Guilherme Pinto-Agência O GLOBO




A mãe, natural do Rio Grande do Norte, desabafa:

- Você acha que eu consigo dormir? Sem saber o que vai acontecer com a vida dele? Ele não deve nada a ninguém, é certinho com as coisas, nunca emprestou os documentos para ninguém. Não sabemos como isso aconteceu, nem ele sabe - diz Maria do Livramento.

A amiga Jeane Lopes, que trabalhou com leandro na C&A por sete anos, diz que ele “sempre foi um crânio”. Também amiga, Cintia Pinheiro Bonfim, dona de uma loja em São João do Meriti, diz que todos que o conhecem estão indignados e irão protestar mais uma vez se ele não for solto na quarta-feira, quando o Tribunal de Justiça Fluminense volta a funcionar, após o feriado.

- Se for preciso, vamos para a rua de novo. O Léo é inocente.






Fonte: O GLOBO