29 novembro 2018

SURGEM OS MOTIVOS DA INTERVENÇÃO : Operação prende filho da governadora por esquema no sistema penitenciário

Operação Escuridão investiga desvio milionário na contratação de empresa que fornece quentinhas para presos. Ex-secretários de Justiça, deputado eleito e empresário também foram presos.








Por Valéria Oliveira e Emily Costa, G1 RR — Boa Vista
29/11/2018 16h20 


Camaro foi apreendido durante operação da PF que prendeu filho da governadora de Roraima e laranjas
que desviaram dinheiro do sistema prisional do estado — Foto: Rede Amazônica Roraima/Reprodução



A Polícia Federal apreendeu nesta quinta-feira (29) carros de luxo, lancha, joias e dinheiro durante a Operação Escuridão que prendeu Guilherme Campos, filho da governadora de Roraima Suely Campos (PP), em Brasília, e outras 10 pessoas.

A operação investiga um desvio milionário em contratos de R$ 70 milhões para fornecimento de quentinhas para presos de Roraima. Entre os presos pela PF também estão:

*Josué Filho, ex-secretário de Justiça e Cidadania e sogro de uma das filhas de Suely Campos;

*Ronan Marinho, chefe da Casa Militar e ex-secretário de Justiça e Cidadania;

*Renan Filho, deputado estadual eleito ligado ao filho da governadora e à empresa Qualigourmet;

*João Kleber Martins, empresário dono da empresa Qualigourmet
.
PF apreendeu carros modelo SW4 e outros veículos de luxo que estavam na posse de investigado por desviar
milhões em contratos do sistema prisional de Roraima — Foto: Rede Amazônica Roraima/Reprodução




Ao todo, foram apreendidos 10 carros de luxo, entre eles um camaro, um audi A3 e três SW4. Diversos deles, segundo a PF, não estavam efetivamente nos nomes dos envolvidos, mas com a quebra do sigilo bancário e a perícia foi descoberto que os bens não eram compatíveis com as rendas dos supostos donos.

Os envolvidos foram levados à sede da PF para serem ouvidos e indiciados pelos crimes lavagem de dinheiro, organização criminosa, fraude licitatória e peculato. Em seguida, eles devem ser levados ao Comando de Policiamento da Capital, onde ficarão presos. Guilherme Campos deve permanecer detido em Brasília.

As defesas da Qualigourmet, do proprietário da firma, e do deputado eleito Renan Filho disseram que só vão se manifestar quando tomarem conhecimento do teor das investigações. A defesa de Guilherme Campos não foi localizada. O G1 tenta contato com a defesa dos demais envolvidos.

Guilherme Campos, filho da governadora Suely, foi preso em Brasília — Foto: Reprodução/TV Globo



Em nota, o governo estado informou que "sempre contribuiu com as investigações e que a Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania (Sejuc) prestou todos os esclarecimentos sobre os contratos de fornecimento de alimentos no sistema prisional".

Para a operação, iniciada às 6h (8h de Brasília), foram expedidos 11 mandados de prisão preventiva e 20 de busca e apreensão em Boa Vista e Brasília. Um dos mandados de busca e apreensão foi cumprido em um escritório anexo à casa da governadora. Suely Campos, no entanto, não foi alvo da ação e nem é investigada no inquérito.

O esquema investigado, conforme a PF, aconteceu entre os anos de 2015 e 2017, em diversos contratos feitos entre a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc) para fornecimento de comida ao sistema prisional, parte deles durante período em que a pasta esteve em emergência.

Lancha também foi apreendida durante operação da PF na manhã desta quinta-feira (29), em Boa Vista; filho da governadora de Roraima e ex-secretários foram presos por envolvimento em esquema de desvio de dinheiro
 Foto: Rede Amazônica Roraima/Reprodução




De acordo com as investigações, a Sejuc contratou de forma emergencial em 2015 uma empresa para fornecer alimentação no sistema prisional do estado. Nos meses seguintes, o mesmo contrato foi prorrogado e em 2016 a empresa mudou de nome para Qualigourmet Serviço de Alimentação Eireli e venceu licitação fraudulenta para continuar oferecendo o serviço.

O novo dono, segundo o delegado Anderson Alves Dias, que é responsável pelas investigações, não possuía capacidade econômica de assumir a firma. Além disso, a apuração mostrou que a empresa superfaturava o valor da alimentação, informava quantitativo superior de refeições ao que era efetivamente providenciado e fornecia alimentos de baixa qualidade.

Policiais federais foram à casa da governadora Suely Campos (PP) — Foto: Marcelo Marques/G1 RR


"[O novo dono] era uma pessoa que não tinha renda que pudesse comprar a empresa. Então houve uma transação fictícia para a pessoa do João Kleber. Ele adquiriu essas ações e a partir daí se tornou o proprietário de direito da empresa. De fato existiam outras pessoas [por trás da transação de compra e venda da empresa] que a gente identificou nesse esquema, que seria o Renan Bekel e o próprio filho da governadora, Guilherme Campos", disse o delegado.

Os laranjas e funcionários da firma, conforme a PF, realizaram saques de aproximadamente 30% do valor dos contratos, em espécie, para o pagamento de propinas e para o enriquecimento ilícito dos reais proprietários do negócio, que eram o filho da governadora e o deputado eleito, os agentes públicos.
 Suely Campos, no entanto, não foi alvo da ação e nem é investigada no inquérito.



"O que mais surpreendeu forma os valores sacados em espécie. Foram valores expressivos, podemos falar em mais de R$ 500 mil em uma só vez. A gente constatou que os saques realizados em espécie eram, sim, distribuídos entre o núcleo da organização criminosa e eram pagos para agentes públicos que agiam em cooperação com essa organização criminosa", detalhou o delegado.

O esquema já foi alvo de outra operação da PF, dividida em duas fases, e de investigação em CPI na Assembleia Legislativa.





Fonte: G1