O Ministério Público da Confederação Suíça relacionou Paulo Vieira de Souza - ex-diretor da Dersa acusado de operar propinas para o PSDB e conhecido como Paulo Preto-à facção criminosa que controla presídios em São Paulo, o Primeiro Comando da Capital (PCC), e a um suposto esquema de pagamentos de propinas pela Camargo Corrêa investigado pela hoje extinta "Operação Castelo de Areia".
Por André Guilherme Vieira | Valor
20/02/2019 às 18h25
Investigação sobre Paulo Preto pode ser chave para devassa das contas do PSDB (Imagem: SERGIO LIMA/FOLHAPRESS) |
Em transmissão espontânea feita ao Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional (DRCI) do Ministério da Justiça e Segurança Pública, a procuradoria suíça informou que Paulo Vieira de Souza, preso preventivamente na terça-feira (19) durante a 60ª fase da "Operação Lava-Jato" de Curitiba, realizou modificações de seu registro de cadastro bancário no exterior.
"Paulo Vieira de Souza teria pedido a modificação do registo do cadastro e teria designado pessoas em seu redor, nomeadamente a filha Tatiana Arana de Souza Cremonini e o seu pessoal doméstico como podendo beneficiar do programa de compensação/indenização relativo à expropriação, ao qual não teriam tido direito. A investigação teria começado por motivo das declarações de uma antiga empregada da DERSA, Mercia Ferreira Gomes. Verifica-se igualmente que Paulo Vieira de Souza teria pago comissões ocultas a pessoas vinculadas com
uma organização chamada Primeiro Comando da Capital."
A procuradoria da Suíça se referiu ao caso no qual Vieira de Souza é réu na Justiça Federal em São Paulo e que envolve a desapropriação de moradores na região do traçado da obra do Rodoanel.
No comunicado, o Ministério Público da Suíça também faz menção ao suposto esquema de pagamentos de propinas pela empreiteira Camargo Corrêa, que teria ocorrido entre 2007 e 2009, período em que Vieira de Souza estava na Desenvolvimento Rodoviário S.A (Dersa), empresa de logística e infraestrutura controlada pelo governo de São Paulo.
"Paulo Vieira de Souza seria, além disso, suspeito, no âmbito da investigação levada pelas autoridades brasileiras sob o nome 'Operação Castelo de Areia', de ter recebido subornos provenientes da sociedade Camargo Corrêa, de 2007 a 2009, relacionados com o projeto Rodoanel. Segundo as primeiras análises das relações bancárias mencionadas, foram registradas numerosas entradas de fundos entre 2007 e 2009, ou seja, no momento dos fatos anteriormente mencionados", observa a comunicação feita ao DRCI.
O documento se refere a quatro relações de negócios de uma sociedade panamenha chamada Groupe Nantes S.A aberta no banco Bordier & Cie, em Genebra, "cujo beneficiário é Paulo Vieira de Souza, cidadão brasileiro nascido em 7 de março de 1949". Segundo o informe, tratam-se de 4 contas bancárias, abertas em 5 de julho de 2007, que contabilizavam 37,2 milhões de francos suíços (US$ 37,2 milhões) em 7 de junho de 2016. As contas foram encerradas e o saldo transferido para contas abertas em nome de Groupe Nantes S.A, no mesmo estabelecimento bancário, segundo a procuradoria suíça.
Ainda de acordo com o comunicado, em fevereiro de 2017 houve uma primeira transferência de valores da conta da Groupe Nantes, de U$ 17,2 milhões, para o Deltec Bank Trust Limited de Nassau, nas Bahamas. Em 8 de março de 2017, o saldo restante foi transferido também para a conta nas Bahamas.
"Visto o que antecede, existem suspeitas suficientes que infrações dependendo da sua jurisdição foram cometidas e que meios de prova relacionados com essas infrações se encontram na Suíça", observou o Ministério Público suíço no informe feito ao DRCI. De acordo com o comunicado, a primeira conta bancária aberta por Vieira de Souza na Suíça data de 1993.
A reportagem está tentando contato com a defesa de Paulo Vieira de Souza. Ele está preso preventivamente por ordem da juíza Gabriela Hardt, da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), Vieira de Souza reuniu uma fortuna de R$ 100 milhões mantida em dois imóveis e usou os serviços da Odebrecht e de seu doleiros para transferir recursos ao exterior.
Fonte: Valor Econômico