30 junho 2020

CDP de Álvaro de Carvalho: Uma novela sem fim, e com enredo triste

Atrasos nas obras e demora na inauguração com unidade já pronta para que servidores sejam transferidos e voltem para casa. .


Por Giovanni Giocondo
Publicado: 30 Junho 2020
Unidade Prisional iria possibilitar a vinda de muitos servidores para uma localidade mais próxima de seus familiares

Policial penal relata perda da boa saúde e da qualidade do trabalho, além de sofrer por permanência prolongada distante de familiares, com adicional dos riscos impostos pela pandemia do coronavírus.

Já são seis anos desde que o governo de São Paulo anunciou, com pompas, que a pequena e pacata cidade de Álvaro de Carvalho, que fica na região de Marília, no interior do Estado, receberia a sua segunda unidade prisional ligada à Secretaria de Administração Penitenciária (SAP). Seis anos de promessas, anúncios, idas e vindas e muita, mas muita penúria para os servidores penitenciárias que esperam pela tão sonhada transferência.

O futuro Centro de Detenção Provisória (CDP), projetado para receber 823 sentenciados, avivou entre aqueles com residência no município de pouco mais de 5 mil habitantes a esperança de que, finalmente, poderiam voltar para suas casas e deixar para trás as dificuldades de adaptação, os lamentos e os traumas de se viver distantes de filhos, maridos, esposas, pais, irmãos e amigos.

Porém, o que poderia ser um alento para a já difícil vida dos profissionais que lidam diariamente com o sistema penitenciário, se tornou uma novela de enredo triste, sem previsão de fim. É o que contou ao SIFUSPESP uma policial penal lotada na Penitenciária Feminina da Capital (PFC) que, todos os meses, se desdobra entre os longos plantões na unidade e as longas viagens de 430 km para visitar a família.

“As listas prioritárias de transferências regionais (LPTR) estão rodando. Por que é que não é logo inaugurada a unidade?” questiona a servidora de 39 anos que lembra que, desde fevereiro, o CDP de Álvaro de Carvalho está pronto para funcionar e com seus diretores já trabalhando, porém sem receber nenhum detento. Após muita especulação, a SAP chegou a cogitar a inauguração para o dia 3 de março, mas o anúncio acabou não confirmado.

“Sofremos todos os dias só de pensar na família”, revela policial penal

Sem se identificar por temer ficar de fora de uma futura transferência - que aguarda desde que começou a trabalhar na SAP, em 2014 - ela explica que, em virtude da necessidade de fazer as trocas com as colegas, trabalha muitas horas além do que seria o recomendado, se alimentando e dormindo mal, reduzindo sua imunidade e correndo riscos de saúde, sobretudo durante a pandemia do coronavírus, em que permanece trabalhando.

Quando finalmente consegue emendar os dias que lhe possibilitarão a aguardada visita ao filho e aos pais, a sensação de alívio por encontrar seus entes queridos é substituída pelo temor de levar junto consigo a COVID-19. “Sofremos todos os dias só de pensar na família. Primeiro pela distância, agora com o perigo dessa doença”, lamenta.
CDP de Álvaro de Carvalho uma realidade difícil de se concretizar, SAP parece não ter interesse em sua inauguração

Enquanto parte da linha de frente de trabalhadores que seguem atuando durante a quarentena desde março, a policial penal também revela que o grande número de plantões seguidos que precisa fazer a obriga a ir a hospitais acompanhar o atendimento a detentas, o que aumenta os riscos de contágio. “Nós vivemos no limite, pensando se vamos ir para casa ou não para não transportar a doença, mas são as pessoas que amamos, é o nosso lar, e precisamos voltar. Uma decisão muito difícil”, revela.
Além de ressaltar que a proximidade com seus parentes e a ida para o interior traria mais qualidade de vida para si e de tranquilidade e estrutura para exercer sua função na SAP, a policial penal lembra que também seria fundamental poder estar em uma casa própria, ao lado dos seus familiares, já que para quem vive em São Paulo a dura realidade é ter de dividir espaço com colegas de farda que, apesar de muito queridos, estão todos juntos principalmente para conseguir pagar as contas caras que a capital impõe.

Tendo trabalhado também em Mogi Guaçu e na Penitenciária Feminina de Santana desde que entrou no sistema, a servidora chegou a desmontar uma república que mantinha ao lado de outras nove colegas em fevereiro, quando se aventou a possibilidade de que o CDP de Álvaro de Carvalho finalmente seria inaugurado. “Vendemos móveis, eletrodomésticos e entregamos a casa. E aí veio a decepção devido à não abertura da unidade, o que nos obrigou a procurar abrigo em casas de outros amigos temporariamente”, esclarece.

Para a policial penal, as muitas coisas aconteceram ao longo dos últimos anos que podem estar ligadas à demora para que a unidade ficasse pronta e, posteriormente, passasse a receber os trabalhadores e detentos. “Houve mudanças no governo, até fatores climáticos alegou-se que atrapalharam, e agora estamos em meio a uma pandemia que a meu ver e no de muitos colegas torna a inauguração uma medida essencial”, explica.

Ela pondera que nas unidades de todo o Estado os presos estão aglomerados em celas minúsculas e sob uma enorme tensão devido ao fato de não estar havendo visitas. “As unidades tornaram-se um barril de pólvora prestes a explodir a qualquer momento. Por que então o governo não promove logo as inaugurações, aliviando assim a superlotação e facilitando a vida dos servidores?” questiona.
Unidade Prisional está pronta para ser utilizada pelo estado, que neste momento em que passa por uma pandemia seria
 uma importante ferramenta para alocar quase 1.000 presos provisórios, que iria desafogar muitas outras U.Ps

Unidade não tem prazo para inauguração, e sindicato fará ato por abertura imediata

Em 21 de fevereiro, a SAP emitiu um comunicado em que havia suspendido a inauguração, prevista para março, “devido às fortes chuvas ocorridas em 10 de fevereiro”, em que houve deslizamento de taludes no terreno, o que provocou assoreamento em várias áreas do CDP, “sendo necessário o desligamento e retirada de equipamentos para que não fossem danificados”.

Em nota enviada ao SIFUSPESP em 12 de março, portanto antes do início da quarentena em São Paulo, a secretaria havia informado que a abertura seria remarcada para maio, o que novamente não se confirmou, agora em virtude da pandemia do coronavírus.

Diante do grande número de idas e vindas na inauguração do CDP de Álvaro de Carvalho, o sindicato segue pressionando a SAP para que, mesmo frente aos desafios impostos pelo contágio da doença, seria possível fazer a inauguração e beneficiar todos os que atuam e cumprem pena no sistema. Menos superlotação, unidade nova e com mais estrutura, além de permitir que os servidores possam finalmente estar livres para sonhar com dias melhores e menos traumáticos diante de uma realidade já tão sofrida.

Na próxima sexta-feira(03), às 10h, o SIFUSPESP participa de um ato público em frente à unidade com o objetivo de exigir a inauguração imediata e a transferência dos servidores penitenciários que aguardam para iniciar o trabalho no Centro de Detenção Provisória.

Fonte: SIFUSPESP

11 comentários:

  1. Deus abençoe e cada um de vocês consiga voltar pras suas famílias o mais breve possível. emanuel-assis

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  2. Vixe...tá parecendo Icém maia de seis anos para inaugurar e a obra foi tão bem feita que já tem dois pavilhões caindo, em 3 anos de existência...parabéns para SAP por tamanha incompetência e irresponsabilidade com o dinheiro público...cambada de desqualificado, inúteis!

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  3. Bom dia! Esse descaso com nós funcionários está demais sao unidades que não inaugura essa gestão compartilhada que tirou a chance de muitos de voltarem para perto de casa e mais as nossas férias que cortaram e nada e ninguém faz nada tá tudo certo!

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  4. Estão esperando o que? Pq ninguém faz nada? Fazer ato na frente da cadeia vai resolver o que? Nosso divino secretario barrou todas as lpts no estado por causa de Álvaro, mas lptr, uma resolução inconstitucional que torna diferente o que a constituição torna igual continua rodando pra favorecer quem já está perto de casa. É ridícula essa situação. Aí o guarda não aguenta e vai tirar licença médica que a perícia com um médico que nem especialista é corta ou nega.

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  5. A mudança de governo altera as prioridades anteriormente projetadas. Dória não pensa como Alckmin ou França. Ele consegue ter mais ódio pelos servidores e a ele interessa o sucateamento e a instalação do caos, principalmente no sistema penal, o "patinho mais feio" entre todos, odiado pela sociedade. É um manipulador nato e antes de governar SP já dizia que será presidente. O que esperar de uma víbora traiçoeira e ambiciosa destas?

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  6. É até compreensível, porém o indivíduo já presta o concurso sabendo que ficará distante da terra natal. Não seria melhor cortar o cordão umbilical, levar a família e ser feliz na nova geografia, ao invés de ficar chorando, desgostoso e transferindo a outros uma responsabilidade que é somente sua?

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    1. Negativo. A própria constituição estadual, lei do funcionalismo e resoluções da própria sap preveêm remoções de interesse do funcionário. Além disso prestei concurso com funcionário estadual, então posso trabalhar em qualquer cidade, inclusive minha cidade natal. É lei. O que está sendo criticado na reportagem é o descaso com o ser humano. Estão esperando o que pra inaugurar? Estão esperando palanque político pra fazer campanha.

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    2. Negativo.... o que ainda segura o servidor na sap é a esperança de poder voltar para casa.. acredito que se nao existisse as transferecias muitos ja teriam exonerado... no interiorzao o salario nao é aquela grande coisa,por isso buscamos prestar um concurso e mesmo sabendo que vamos ficar longe de casa por um tempo o que nos motiva a continuar é essa esperança de voltar para casa..

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    3. Já se perguntou pq o estatuto, resoluções e decretos prevêem a remoção por interesse do servidor? O servidor pode trabalhar em qualquer cidade do estado, inclusive sua cidade natal. O que está sendo questionado é essa demora em contratar novos profissionais que já estão com o concurso completo, só esperando a chamada e a iminente transferência de Álvaro. Acredito, pelo seu comentário, que vc está meio por fora do que realmente acontece na sap.

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  7. JOÃO DÓRIA PARA PRESIDENTE. NELE EU CONFIO.

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  8. O sondicato deveria fazer uma denuncia no monksterio publico ja que os presidios estao super lotados e alvaro e galia estao pronto e esse fake do doria nao inaugura

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