02 setembro 2020

O arquiteto da facção: Justiça de MG expede mandado de prisão contra Norambuena por suposto elo com PCC

Sequestrador do publicitário Washington Olivetto é um dos alvos de operação


Rogério Pagnan
2.set.2020 às 8h00
O ex-guerilheiro Mauricio Hernández Norambuena, líder dos sequestradores do publicitário Washington Olivetto,
 é conduzido por policiais paulistas - 04.02.2002 - Rubens Cavallari/Folhapress

SÃO PAULO - O ex-guerrilheiro chileno Maurício Hernández Norambuena, 62, um dos sequestradores do publicitário Washington Olivetto em 2001, está na lista das pessoas ligadas à facção criminosa PCC que tiveram a prisão decretada pela Justiça de Minas, dentro operação Caixa Forte 2, que investiga esquema de lavagem de dinheiro da facção.

A mulher (ou ex-mulher) de Norambuena, que não teve o nome divulgado, também teve a prisão decretada sob suspeita de ajudá-lo, quando ambos estavam no Brasil. Eles estão no Chile desde o ano passado, quando ele foi extraditado, a pedido do governo chileno, para cumprir o resto da pena de 30 anos pelo sequestro do publicitário.

Os mandados de prisão contra a dupla, segundo a Folha apurou, ainda não foram cumpridos pela Interpol porque há uma análise da viabilidade de nova extradição do chileno ao Brasil. Os nomes de ambos já estão, porém, na divulgação vermelha e, assim, a mulher dele não conseguiria deixar o país se quisesse.

A megaoperação foi deflagrada na manhã desta segunda (31) por integrantes de uma força-tarefa instalada em Minas Gerais para combater a facção criminosa PCC, a Ficco (Força Integrada de Combate ao Crime Organizado), liderada pelos delegados da Polícia Civil Murillo Ribeiro de Lima e da Polícia Federal Alexsander Castro de Oliveira.

Ao todo, participaram da operação 1.100 policiais, em 19 estados e Distrito Federal. O alvo eram 422 pessoas, sendo 210 delas integrantes do PCC, e 202 mandados de busca e apreensão. Até a tarde desta terça (1), ao menos 305 pessoas tiveram a ordem de prisão cumprida (160 já estavam presas) e, nas buscas, foram apreendidas armas e dinheiro (aproximadamente R$ 2,2 milhões e US$ 730 mil, ou R$ 3,9 milhões).
Com duas condenações de prisão perpétua chilenos temiam que Norambuena fugisse após o fim de sua pena no Brasil

A Justiça também bloqueou, segundo a polícia, até R$ 253 milhões de pessoas ligadas ao esquema de lavagem de dinheiro proveniente do tráfico de drogas.

Essa segunda fase da operação teve como foco o setor de ajuda financeira que a cúpula da facção mantinha havia anos para integrantes que estivessem no sistema federal e enfrentassem dificuldades financeiras para se manterem. Com esse tipo de assistência, a facção gastava cerca de R$ 500 mil, segundo as investigações.

O período investigado pela polícia compreende os anos de 2018 e 2019. Para a polícia, o recebimento dessa ajuda configura lavagem de capitais.

“Há o dolo de ocultar, de dissimular esses recursos, dando a aparência de licitude. Porque todos eles simulavam como se fossem negócios legais, por intermédio de negociações falsas ou pela pulverização. Para fugir dos mecanismos de controle, iam depositando em pequenas quantias, até chegar o final do mês no total prometido pela facção”, disse o delegado Ribeiro de Lima.

Segundo a polícia, havia três níveis de “mesada”. Os presos menos importantes recebiam a menor faixa e, os mais importantes, as maiores. Norambuena estaria nesse terceiro grupo, como liderança importante da facção. Os valores repassados não foram divulgados.

Para integrantes do Ministério Público e policiais ouvidos pela Folha, o chileno teve grande influência na estruturação do PCC como é hoje e, também, foi uma espécie de conselheiro do Marco Camacho, o Marcola, chefão máximo do grupo. O criminoso chileno teria ensinado a ele, na cadeia, táticas de terrorismo.

De acordo com a polícia, muitos detalhes da operação realizada nesta segunda não podem ser divulgados, porque há outras linhas de investigação em andamento. Ainda segundo a polícia, é uma demonstração de força do estado.

“Há, sim, organizações criminosas que aterrorizam a população, mas o estado e, principalmente, as forças policiais estão se movendo. E a bandeira da Ficco é exatamente essa: estamos trabalhando todo mundo junto em nome de um objetivo comum e os resultados estão aparecendo”, disse Ribeiro de Lima.

Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO

Contraponto: 

Seqüestrador de Olivetto ensinou PCC

Mauricio Norambuena orientou facção a usar táticas de guerrilha em ataques. Na lógica do criminoso, atentados devem ser direcionados a bancos e a ônibus vazios para provocar problemas financeiros

Condenado a 30 anos de prisão pelo seqüestro do publicitário Washington Olivetto, em 2001, o chileno Mauricio Hernandez Norambuena ensinou, na cadeia, táticas de terrorismo aos líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital).

Segundo investigações dos serviços de inteligência das secretarias da Segurança Pública e da Administração Penitenciária, teriam partido do sequestrador as idéias para que os soldados da facção atacassem agências bancárias com a finalidade de "tentar desestabilizar a ordem financeira".

Na lógica do criminoso, os atentados deveriam sempre ocorrer em horários em que os estabelecimentos estivessem fechados, sem usuários ou funcionários, para não criar antipatia popular.

O mesmo princípio valeria para os atentados às revendedoras de veículos e para os incêndios criminosos contra os ônibus urbanos, que, por ordem do PCC, só devem ser queimados sem que os passageiros estejam dentro.
Este foi o legado de Norambuena aos faccionados do PCC, o uso da violência como terror

Considerado pelos líderes do PCC como um "irmão", Norambuena é tratado pela facção como Comandante Ramiro ou de "jefatura" (chefia, em espanhol) na prisão de segurança máxima de Presidente Bernardes (589 km de SP).

Norambuena era o chefe de um dos ramos da FPMR (Frente Patriótica Manuel Rodríguez), organização de extrema esquerda que pregava a revolução socialista pelas armas, mas que acabou se convertendo numa quadrilha que praticava crimes comuns.

Também foi nas conversas mantidas em Presidente Bernardes, onde, mesmo em celas individuais, os criminosos mantêm diálogos aos gritos, que Norambuena ensinou aos homens do PCC táticas de como falar em códigos, principalmente durante as comunicações mantidas por celular.

Para alguns integrantes dos grupos de inteligência das duas secretarias, a "aproximação ideológica" de Norambuena com os líderes do PCC tem um interesse muito claro: viabilizar, ao lado dos homens da facção, uma fuga do presídio de Bernardes, onde vigora o RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), no qual o preso fica trancado, sozinho, durante 22 horas por dia, e não tem acesso a jornais, revistas e rádio, além de não manter contato físico com visitantes.



Um comentário:

  1. Ta de sacanagem querem trazer esse maldito do chile pra nos sustentar ele aqui na cadeia! Po me ajuda a te ajudar né...

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