14 fevereiro 2022

O que dizem as investigações sobre a morte do torcedor do Palmeiras no entorno do Allianz Parque

A tarde de festa nos arredores do Allianz Parque virou tragédia no sábado, com a morte do torcedor Dante Luiz Oliveira, de 40 anos, atingido por um tiro no abdome.

Pedro Lopes

Do UOL, em São Paulo

14/02/2022

Autoria do disparo de arma de fogo ainda não é conhecida de fato, pode ou não ter sido o tiro efetuado pelo policial penal
A polícia prendeu como suspeito do crime o policial penal José Ribeiro Apóstolo Júnior, que aparece em imagens divulgadas pela TV Bandeirantes disparando contra Dante. O acusado ficará detido preventivamente por prazo indeterminado.

O UOL Esporte teve acesso à integra das investigações. Em depoimento corroborado por policiais que testemunharam o crime, Apóstolo Júnior afirmou à Polícia Civil que estava sendo perseguido e espancado por membros da torcida organizada Mancha Alviverde, que teriam tentado, inclusive, tomar a sua arma de fogo, uma pistola Taurus. 

Ele admite que um disparo aconteceu, mas não sabe afirmar se foi ele o autor ou um dos homens tentando tirar a arma de suas mãos. Este tiro teria atingido Dante, que era membro da torcida e foi homenageado nas redes sociais.

Vítima foi encaminhada ao Hospital das Clínicas, mas não resistiu aos ferimentos - Ingrid Griebel/RecordTV

O depoimento do acusado

Apóstolo Júnior depôs à Polícia após ser detido, ainda no início da noite de sábado. Em seu depoimento, afirmou que assistia à partida nas imediações do Allianz Parque por ser palmeirense, e precisou ir ao banheiro após o fim do segundo tempo, em um bar. Ao sair, viu que um tumulto se iniciava entre torcedores. Ao verem seu rosto, teriam gritado "é ele, é ele!". Ele disse desconhecer o motivo.

A partir disso, ele narra ter sido agredido com socos e pontapés. Depois de levarem seu relógio e seu celular, teriam tentado tomar a sua arma. Ele afirma que conseguiu evitar, mas o carregador - parte da pistola onde fica a munição - foi retirado. Ele então correu, fugindo dos agressores, com a arma em punho.

A partir daí, as imagens divulgadas no sábado pela Bandeirantes seguem o relato do acusado. Nelas, Apóstolo Júnior aparece correndo pelas ruas, com a arma em punho, perseguido por torcedores - a maioria trajada como membros da Mancha. Eles o alcançam e retomam as agressões. Nesse momento, ele parece disparar, à queima roupa, contra Dante, um dos homens que o ataca. À polícia, ele afirmou não saber dizer se foi ele autor do disparo ou algum dos agressores que, segundo ele, tentavam novamente tomar a pistola de sua mão. Também disse que, no momento, não foi possível identificar se o disparo atingiu alguém. Depois disso, ele afirma ter corrido até um policial próximo do local e entregado a arma.

Imagens são nítidas e mostram o desespero do policial penal em se afastar do tumulto, neste
momento ele já corria dos perseguidores sem o pente de munições em sua pistola, e poderia ter apenas uma munição

Depoimentos dos policiais e testemunhas

Praticamente todos os depoimento que embasam as investigações até o momento são de policiais militares envolvidos na segurança das ruas do entorno do Allianz Parque no sábado. Dois deles contaram a Polícia Civil terem visto os momentos que levaram ao disparo. O relato é parecido com o do acusado.

Os PMs afirmam que o evento parecia caminhar para um final quando testemunharam uma confusão entre torcedores do Palmeiras. Um homem, depois identificado como o atirador, era perseguido e encurralado com socos, chutes e garrafas por membros com uniformes da Mancha Alviverde. No meio da confusão, os policiais ouviram um estampido - barulho de disparo de arma de fogo.

Depois disso, viram Apóstolo Junior correndo de dentro da briga em direção a eles. Um dos policiais o conteve e tomou de suas mãos arma. No depoimento, ele confirma que a arma estava sem o carregador e, a essa altura, sem munição. 

Vídeo jornalístico mostra que policial penal foi perseguido e poderia ter atirado antes, mas que evitou o disparo

Ministério Público vê irresponsabilidade em posse de arma durante aglomeração

O Ministério Público de São Paulo se manifestou no inquérito e pediu a prisão preventiva do agente penitenciário. No documento, assinado pelo promotor Carlos Alberto Pereira Leitão Jr, o órgão considera "inconcebível" que o um funcionário pública tenha ido a um evento de grande aglomeração, consumo de álcool e partida de futebol com uma arma de fogo carregada e armada.

De posse das imagens, o MP-SP fala em "claro intento homicida" e pede que Apóstolo Junior permaneça preso até o julgamento do caso.

Defesa do acusado fala em "criminologia midiática" e legítima defesa

Já a defesa do acusado, no inquérito, ressalta que ele estava sendo agredido brutalmente por várias pessoas simultaneamente no momento do disparo, e que um único disparo teria sido feito, não sendo possível precisar com certeza se seu cliente ou algum dos agressores foi o autor. Os advogados também criticam a exposição midiática do caso, e pedem que Apóstolo Júnior tenha o direito de responder ao processo em liberdade.

O advogado Renan de Lima Claro, um dos quatro defensores do réu, afirmou nesta segunda que a equipe foi até a delegacia para acompanhar a nova oitiva do agente penitenciário, que acabou não ocorrendo. "Ele está completamente à disposição para colaborar com a investigação", disse.

No domingo, Claro afirmou que a defesa impetrou habeas corpus para assegurar o direito de ele responder ao processo em liberdade.

"Ocorre que ele é um agente de segurança pública que, como tal, tem o direito reconhecido legalmente a porte de armamento", afirmou Claro, citando que policiais militares que atenderam a ocorrência disseram que observaram um sujeito encurralado, sendo agredido com socos, garrafadas e pontapés e ouviram um estampido.

"Este indivíduo conseguiu se desvencilhar e correu em direção a eles, e seu armamento não tinha munição e nem carregador", afirmou, sobre trecho do boletim de ocorrência.

Segundo ele, o registro policial confirma o que seu cliente disse em interrogatório, que foi roubado e agredido por outros torcedores, que subtraíram seu telefone e o carregador de seu armamento.

Vídeo mostra policiais sem ação diante de vítima e pedidos de socorro

A ação dos policiais militares no crime foi alvo de críticas neste domingo. Um vídeo que viralizou nas redes sociais mostra Dante caído no chão depois de ser atingido, com diversos policiais e viaturas ao seu redor sem esboçar qualquer ação. O autor do vídeo, assim como outras pessoas ao redor suplicam, repetidamente, para que os policiais ajam e prestem socorro ao homem baleado, mas eles não reagem.

Na investigação, não há qualquer detalhamento do processo de resgate do torcedor. O Boletim de Ocorrência registrado apenas afirma que ele foi encaminhado ao Hospital das Clínicas e não resistiu aos ferimentos.

Torcedor do Palmeiras foi vitimado com tiro no abdome, mas ainda não está claro quem efetuou o disparo

Justiça decretou prisão preventiva do acusado

Em sua decisão, o juiz Renato Augusto Pereira Maia, determinou neste domingo a prisão preventiva de Apóstolo Júnior, ele anexa um link para um vídeo que mostra o suspeito perseguido por um grupo de torcedores e atirando a esmo. "Sendo possível que tal tiro tenha causado a morte da vítima", afirma o texto.

"A pessoa presa agiu, supostamente, com grande periculosidade, uma vez que levou arma de fogo para evento coletivo, efetivando supostamente disparos, o que denota um risco à incolumidade pública", diz o juiz em sua decisão. "A tese de legítima defesa, por sua vez, exige que o magistrado se debruce sobre elementos de prova ainda não acostados aos autos, como vídeos produzidos pela imprensa, gravações realizadas por eventuais pessoas que estivessem no local. Afasto, portanto, a tese, sem prejuízo de reanálise."

"Não se pode perder de vista, ainda, que o porte de arma é conferido a indivíduos que gozam de presunção de confiança do Estado, razão pela qual deve-se usar o armamento de forma ponderada. Nesse compasso, não é razoável comparecer armado em evento de aglomeração, fora dos postos de trabalho, colocando em risco a si mesmo e a coletividade, o que aumenta sobremaneira o risco de algum acidente", afirma.

O juiz ainda escreve que não se pode perder de vista, de fato, que os indícios de autoria são tênues, e demandam instrução penal e cita a perseguição de torcedores.

"Afinal, é dos autos, que vários indivíduos com uniforme da torcida Mancha Verde, teriam encurralado um indivíduo no alambrado, e teriam passado a agredi-lo com chutes, socos, garrafadas, e naquele instante ouviram um estampido semelhante a disparo de arma de fogo, e aquele indivíduo correu em direção da testemunha PM Adevaldo, o qual o conteve e segurou sua arma, constatando que a arma encontrava-se desprovida de carregador e sem munição, tendo referido indivíduo dito à testemunha PM Adevaldo que era policial penal, tendo a testemunha o puxado para dentro do gradil", escreve o magistrado.

Isso significa que, por enquanto, o policial penal responderá às acusações preso. O juiz, entretanto, ressaltou que mais provas são necessárias para o julgamento do caso, dentre elas análise pericial, de balística e oitiva de novas testemunhas.

Fonte: UOL

Um comentário:

  1. Fiquei sabendo que o AEVP está precisando de ajuda. Detalhes sobre isso se encontra no site do SIFUSPESP.

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