Intenção do governador seria continuar no Palácio dos Bandeirantes, em decisão surpreendente.
Carolina Linhares/Cristina Camargo
Eduardo Scolese/Igor Gielow/Fábio Zanini
31.mar.2022 às 8h01
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Doria, poucos dias antes de deixar o cargo de governador de SP oara disputar a presidência n as eleições de 2022. Aloisio Mauricio -30.mar.22/Fotoarena/Agência O Globo |
A reunião entre ambos os políticos ocorreu por volta das 17h desta quarta (30) no Palácio dos Bandeirantes. A partir daí, uma romaria de aliados de Doria se formou à sede do governo paulista para tentar entender o movimento.
Doria cancelou dois eventos que teria nesta manhã e deve anunciar a desistência em uma entrevista marcada para as 16h. Ele avisou a seus aliados que irá anunciar a desfiliação do PSDB e acusar caciques do partido, Aécio Neves (MG) à frente, de o terem traído e forçado sua decisão.
Pessoas próximas a Rodrigo, que deixou o DEM no começo do ano passado após o partido rachar na disputa para a presidência da Câmara, chamaram Doria de traidor e coisa pior. Em resposta, ouviram que ele manteria a promessa de não disputar a eleição e apoiaria o vice para a disputa do governo estadual, conforme combinado desde 2018.
Ocorre que, nos planos do vice, tal disputa se daria com ele na cadeira de governador. Ele disse a amigos que não aceita concorrer com Doria no cargo.
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João Doria, (PSDB) Governador de São Paulo | Roberto Casimiro/Agência O Globo |
Alguns aliados ainda acreditam que Doria pode mudar de ideia, mas o estrago político está feito. A noite foi marcada por troca de telefonemas e mensagens de celular, poucas amigáveis. Um aliado muito próximo do governador se disse, nesta manhã de quinta (31), atônito com a decisão.
Afinal de contas, o tucano passou os três anos de seu governo prometendo não disputar a reeleição e indicando a disposição de tentar tirar Jair Bolsonaro (PL) da cadeira. Um aliado disse que ainda espera uma reversão até as 16h, quando Doria encerra um congresso de municípios no Bandeirantes.
Para ele, o objetivo do anúncio do governador é dar um xeque-mate no PSDB. Se foi isso, contudo, o tiro saiu pela culatra. Dois aliados tucanos de Doria, o chefe da Casa Civil Cauê Macris e o deputado Carlos Sampaio, foram à casa do irmão do governador, Raul, para tentar demover o político da decisão.
Explicaram que o apoio ao governo paulista na Assembleia Legislativa iria evaporar, implodindo todo o projeto de mais de duas décadas de poder do PSDB.
O partido está rachado desde as prévias vencidas por Doria no fim do ano passado, derrotando Eduardo Leite, o governador gaúcho que deixou o cargo na semana passada, mas permaneceu no partido com a promessa do grupo liderado pelo deputado Aécio Neves (MG) de tentar ter a legenda para disputar a Presidência.
Procurado, o governador não respondeu mensagens enviadas pela Folha.
O desempenho fraco na última pesquisa Datafolha e o apoio de uma ala do partido à pretensão de Eduardo Leite (PSDB-RS) de virar a mesa das prévias tucanas e ser escolhido candidato ao Planalto estariam motivando o governador de São Paulo a abrir mão da disputa presidencial.
Leite renunciou ao governo do Rio Grande do Sul, anunciou que permanece no PSDB e disse que se vê em condições de ser candidato ao Planalto.
A mais recente pesquisa Datafolha mostra Lula (PT) com 43% das intenções de voto, contra 26% de Bolsonaro (PL), 8% de Sergio Moro (Podemos), 6% de Ciro Gomes (PDT), 2% de Doria e 1% de Simone Tebet (MDB).
Além disso, a rejeição de 30%, segundo a pesquisa Datafolha, atrapalha o plano do governador de se viabilizar como candidato da terceira via. Ele só perde nesse quesito para Bolsonaro e Lula, que são rejeitados por 55% e 37% respectivamente, segundo o levantamento.
Segundo aliados, Doria está particularmente frustrado com o fato de que seu esforço para trazer a vacina contra Covid-19 chinesa Coronavac ao país, efetivamente forçando o governo federal a investir no tema da imunização, não se materializou em apoio. O imunizante seria, em sua campanha, carro-chefe.
Em jantar de empresários em sua homenagem, na noite desta quarta (30), ao falar sobre a coligação apalavrada do PSDB com União Brasil e MDB, além da federação com o Cidadania, Doria afirmou que não precisa necessariamente ser o candidato. Ele citou os nomes de Moro e Tebet.
"Não é preciso ter a prerrogativa do eu, a prerrogativa é o Brasil, são os brasileiros. Temos que ter grandeza de alma", disse. "Essa grandeza exige desprendimento, exige a capacidade de enxergar adiante".
Doria afirmou que Lula e Bolsonaro são pesadelos, criticou os casos de corrupção no Ministério da Educação e a censura a artistas no Lollapalooza.
Segundo a revista Veja, durante o jantar, realizado na casa do empresário Marcos Arbaitsman, Doria reclamou muito do PSDB. Ele disse que está sendo traído pela articulação de Aécio e Leite.
Outro ponto que chamou a atenção na homenagem foi a ausência de Rodrigo. O vice-governador era presença confirmada, mas não apareceu. A possível desistência de Doria atrapalharia a estratégia eleitoral de Rodrigo, pré-candidato ao governo de São Paulo, pois ele deixaria de assumir o comando do Estado.
Rodrigo aparece com baixas intenções de voto, mas os aliados apostam que o jeito interiorano e o histórico de gestor público devem impulsioná-lo na corrida eleitoral.
No comando do governo, ele contaria com a máquina do Bandeirantes a seu favor, o que inclui distribuição de verbas a deputados e a prefeituras, por meio de convênios e obras.
Em ritmo de campanha, o vice já vinha cumprindo agendas de compromissos separadas de Doria, com viagens ao interior para liberar benesses e participar de inaugurações. Como mostrou a Folha, existe uma preocupação entre tucanos e aliados de que a rejeição a Doria contamine a campanha.
Os apoiadores de Doria estariam mobilizados para reverter a desistência da pré-candidatura.
Durante a semana, dois dos principais nomes da cúpula do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador José Serra (SP), defenderam o respeito ao resultado das prévias, em uma tentativa de apaziguar a crise interna do partido.
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Observado por Rodrigo Garcia, Doria fala durante evento na sede do PSDB em São Paulo - Zanone Fraissat - 29.nov.2021/Folhapress |
Aliados de Garcia ameaçam Doria com impeachment caso fique no governo
Aliados do vice-governador Rodrigo Garcia dizem que, caso confirme a especulação e fique, Doria sofrerá impeachment em tempo recorde na Assembleia Legislativa.
Seria uma carnificina a céu aberto no Estado que os tucanos governam desde 1995 ininterruptamente — na verdade, a única seção em que o PSDB ainda é de fato um partido grande.
Garcia trocou o antigo DEM pelo PSDB no ano passado num movimento arquitetado pelo próprio Doria. Seu plano era ter em São Paulo uma plataforma forte para sua candidatura presidencial.
O que nenhum dos dois contava era com a rejeição consolidada do governador paulista, que não só impediu que sua candidatura sequer ameaçasse decolar até aqui como também virou uma bigorna no pé do próprio Garcia.
E é por isso a revolta com sua ideia de ficar no cargo e apoiar o vice à sua sucessão direto da cadeira. Isso tiraria de Garcia a chance de fazer campanha como governador, se tornando conhecido e, principalmente, dissociando sua imagem da de Doria.
Aliados do governador, no entanto, que confirmam a informação dada pela Folha de S.Paulo de que ele cogita a sério não renunciar, afirmam que ele precisa desses 9 meses até o fim do governo para “reorganizar sua vida”.
Acontece que isso significaria a desorganização completa do PSDB, que já perdeu Geraldo Alckmin e aliados recentemente justamente por incompatibilidade com Doria.
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Publicado no D.O., o veto governamental |
Doria derruba vetos que beneficiavam Segurança Pública
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Emendas que foram vetadas pelo governador |
Fiquei grato pelo reajuste, porém nunca tive a ilusão de que o governador sancionasse emendas, seria incoerente com seu modo de agir. Ante o surgimento das notícias de grave racha no PSDB e debandada de aliados, resta uma fagulha de possibilidade para derrubada aos vetos. Mas à título de exemplo, é como se fosse um jogo na mega, uma chance em 50 milhões.
ResponderExcluirVocê tem razão. Diante dos fatos e ambiente político acalorado, em ano eleitoral temos vários deputados que podem querer fazer uma média. Todos estão correndo atrás de votos.
ExcluirBom, emitindo uma análise leiga de um anônimo caracterizado por coisa alguma, entendo que o Tarcísio será eleito governador. Já provou que é um político inteligente e competente, porém dias tristes se projetam para nós, servidores. É um ferrenho defensor do Estado mínimo e "ultra-neoliberal". O funcionalismo seguirá perseguido, diminuído e estrangulado, enquanto a iniciativa privada tende a crescer, gerar emprego e riquezas para a população, tempos austeros. Somos minoria, olhamos para o próprio umbigo, eu defendo meu peixe, penso no meu conforto e da minha família, mas o racional é que a maioria vença. Aproveite o momento, estude seus filhos e prepare-os para o mercado de trabalho, tire deles toda e qualquer ilusão dos concursos públicos, esse meio de vida que reinou até agora, criando a falsa imagem dos privilegiados que não trabalham e ganham bem, porque a sentença é clara e irreversível, está fadado ao fracasso. Se tiver tempo (e condições), capacite-se para algo (aposentadoria significa miséria), porque se sua saúde permitir, poderá exercer uma profissão autônoma. Servidor não tem profissão, apenas o cargo, que pertence ao Estado.
ResponderExcluirTenho 25 anos atuando como ASP, sei que não sou normal, sei das marcas que as agruras da arquitetura prisional, relacionamentos tóxicos, traumas, violências e neuroses do sistema deixaram na minha vida, tento contrapor com o cuidado espiritual, físico e intelectual para equilibrar a psicologia, jamais deixando de ser grato. O mal nunca vencerá o bem, se eu continuar bom, nada me contamina, com muito ou com pouco, serei feliz.
Sábias palavras, seu comentário foi o melhor texto que já vi sair de um servidor público em 23 anos de Estado. Também penso o mesmo.
Excluir29 nove anos de ASP, primeira vez que leio palavras sensatas e inteligente, parabéns para o nobre ASP !!!
ExcluirBoa tarde Leandro! Cada um na sua realidade, o Paraná tem apenas 5.000 PP, porém avançou muito nas últimas conquistas, já são PP reconhecidos na CE e com Lei orgânica aprovada com 90% de aprovação pela categoria, que participou. A lei é boa, o último estágio da carreira de PP do Estado do Paraná fixa SUBSÍDIOS de 17.500,00 reais. A Lei Estadual que regulamentou a PP do Paraná serve de parâmetro para futura elaboração de nossa regulamentação. Fonte:https://www.sindarspen.org.br/noticias/ler?link=sancionada-a-lei-que-cria-o-quadro-proprio-da-policia-penal31032022
ResponderExcluirSeja quem for, aqui se colhe o que planta
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