28 junho 2024

Desembargador de SP negociou venda de sentença em missa de 7º dia, diz PF

Ivo de Almeida também é suspeito de praticar rachadinha em seu gabinete; ele foi afastado pelo STJ.

Carlos Petrocilo

28.jun.2024

Ivo de Almeida durante sessão de posse como desembargador no TJ-SP
(Tribunal de Justiça de São Paulo), em 2013 - TJ-SP/Divulgação
SÃO PAULO - O desembargador Ivo de Almeida, 66, afastado do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) sob suspeita de venda de sentenças, teria negociado uma decisão favorável a um réu durante uma missa de sétimo dia. É o que aponta a representação da PGR (Procuradoria-Geral da Justiça) com base nas investigações da Polícia Federal.

A negociação na igreja ocorreu em um dos quatro casos investigados, conforme mostram os diálogos de WhatsApp interceptados pela Polícia Federal.

A operação foi batizada de Churrascada, que remete ao termo "churrasco", usado pelos investigados como código para indicar o dia do plantão de Almeida, lotado na 1ª Câmara Criminal.

A Folha procurou o advogado de defesa de Almeida, Alamiro Velludo Salvador Netto, nesta quinta-feira (27). A secretária do escritório disse que ele estava fora e pediu que o pedido de entrevista fosse enviado por email. Até a publicação deste texto o advogado não havia respondido à solicitação.

Para negociar propina, Almeida contava com dois intermediadores, Valmi Lacerda Sampaio e Wilson Vital de Menezes Junior, para negociar com advogados dos criminosos.

Valmi morreu no dia 2 de abril de 2019. Em sua missa de sétimo dia, Wilson e Almeida se encontraram e fecharam os detalhes da cobrança por um habeas corpus em favor de Adomervil Vieira Santana, condenado por roubo e furto a sete anos de reclusão, inicialmente em regime inicial fechado.

O corregedor nacional de Justiça, ministro Luis Felipe Salomão, determinou na quinta-feira
 (20/06/24) a abertura de uma investigação contra o desembargador Ivo de Almeida, do TJ-SP
A representação da PGR não aponta o valor acertado especificamente. Mas, em mensagens anteriores, Wilson respondeu que "ele [Almeida] está fazendo é entre 100 a 150 [mil reais]".

O advogado de Adomervil havia pedido alguns dias de prazo para conseguir o dinheiro, porque a família do preso venderia obras de artes.

"Estava com o nosso amigo [Almeida] ontem, falou para você ir mandando aos poucos", escreveu Wilson no dia seguinte à missa, para o advogado de Adomervil. "Ele veio na missa do meu pai [Valmi] e pediu para te passar isso", prosseguiu Wilson —que, segundo a PF, se referia a Valmi como pai.

Por fim, ainda de acordo com a PF, a família do preso não conseguiu a quantia, e por isso o habeas corpus fora negado. As partes, segundo a investigação, deixaram aberta a possibilidade de negociações futuras.

Três meses depois, Almeida acatou parte do pedido de apelação de Adomervil e mudou o regime de pena para o semiaberto. A mudança, segundo a PF, contradiz decisões que o desembargador costuma tomar.

A investigação foi conduzida pela PF e por subprocuradores-gerais com competência de atuação no STJ e permanece sob sigilo
A reportagem também não conseguiu contato com Wilson Vital de Menezes Junior. Ligações feitas para o número de telefone que consta como dele nos autos caem direto na caixa postal.

A reportagem apurou com juízes que Ivo de Almeida, que entrou para magistratura em 1987, tinha o hábito de fazer plantões.

Seus pares no TJ-P se dizem pasmos com as investigações e defendem que, neste momento, é preciso concedê-lo o benefício da dúvida.

Entre os casos suspeitos, o que mais deixa os magistrados perplexos é a cobrança de propina de R$ 1 milhão para beneficiar Romilton Queiroz Hosi, narcotraficante e homem de confiança de Fernandinho Beira-Mar, líder da facção Comando Vermelho.

Foto de Romilton Queiroz Hosi anexada à investigação da PF que fugiu em 2002, e que só
 foi recapturado no ano de 2019 - Imagem: Reprodução
O relatório da PGR aponta que, neste caso, Almeida teria dito, segundo um intermediário, que precisaria da ajuda de mais um magistrado.

Hosi é conhecido por policiais e juízes pelo menos desde o começo dos anos 2000. Acusado pelos crimes de associação para o tráfico, tráfico de drogas, uso de documento falso e porte ilegal de arma de fogo, ele deveria cumprir 39 anos e quatro meses de prisão.

Preso em 2002 com 449 kg de cocaína, Hosi fugiu após corromper policiais. Ele só foi detido novamente em 2019. No ano seguinte, o advogado de Hosi procurou por Wilson.

"Ivo de Almeida teria analisado a situação processual de Romilton e constatado que se tratava de caso delicado, que demandaria cuidado do julgador para manipulação da decisão", escreveu a PGR.

"Inclusive, estaria o desembargador empenhado em corromper mais um membro da Câmara. Luiz [advogado de Hosi] revela que o valor disponível para propina, no caso, é de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais)", consta no documento.

Durante os anos em que permaneceu foragido, o narcotraficante teria feito cirurgias plásticas para evitar ser reconhecido
As negociações avançaram, e os defensores de Hosi ficaram de enviar uma inicial do habeas corpus para Almeida. O texto seguiu em PDF.

O advogado de Hosi então, diz que foi buscar o montante de R$ 1 milhão no Paraguai e avisa, pelo WhatsApp, que "a mala tá pronta".

Com a dificuldade de Almeida para obter ajuda de outro magistrado, o dinheiro não chegou a ser pago, ainda segundo a PGR.

"A partir das conversas se extrai que, ao desembargador Ivo de Almeida, por meio de Wilson Vital de Menezes Junior, foi oferecida a importância de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais). Afirma-se categoricamente que o desembargador aceitou a proposta de 'venda de decisão judicial', mas houve dificuldades, pelas peculiaridades do caso concreto, em convencer os demais membros da Câmara a participar da corrupção", diz a Procuradoria.

Os Tribunais de Justiça são cortes de segunda instância da justiça comum brasileira; na foto  fachada
do prédio do Palácio da Justiça de São Paulo, sede do Tribunal de Justiça do estado - Eduardo Knapp 11.out.2019/Folhapress

RACHADINHA

A investigação também aponta para suspeita de prática de rachadinha no gabinete de Almeida, com a quebra do sigilo bancário. O magistrado teria recebido, por meio de depósitos em dinheiro, o valor de R$ 641 mil entre fevereiro de 2016 e setembro de 2022.

As datas dos depósitos, segundo os investigadores, coincidem com os dias de vencimento dos cartões de crédito do desembargador.

"Indicaram-se dezenas de transferências mensais realizadas por servidores do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para a conta do desembargador Ivo de Almeida", narrou a PGR.

Deflagrada a operação, o ministro Og Fernandes, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), afastou Ivo de Almeida por um ano. A PF pediu a prisão preventiva do desembargador, mas a PGR se opôs à solicitação.

A Corregedoria Nacional de Justiça também instaurou Reclamação Disciplinar (RD) contra o desembargador.

Fonte: Jornal Folha de São Paulo

13 comentários:

  1. Quanto ganha um desembargador no Estado de São Paulo?
    Quantos " penduricalhos " ele faz juz?
    Será que a questão é falta de dinheiro?

    ResponderExcluir
  2. Fosse outro servidor comum, seria exonerado e preso, já como é do intocável judiciário irá ser 'punido severamente ' com aposentadoria !

    ResponderExcluir
  3. AEVPs assumindo as unidades que eram vigiadas por PMs e o Kardilho vulgo Guarda juju do Marrey com seu INVEJÁVEL apito tático priiii piiiiiii piiiii priiii piiiiiii piiiii priiii piiiiiii... parabéns a todos pela conquista

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. "Assumindo as unidades"

      KKKKKKKKKK
      KKKKKKKK
      KKKKKK
      KKKK
      KK
      KKKK
      KKKKKK
      KKKKKKKK
      KKKKKKKKKK

      Excluir
    2. Assumindo as Unidades?! Já entrou pra contar quantos raios?

      Excluir
    3. Assumindo as unidades e... sumindo os horti-frutis...

      Os caras levam tudo...acelga, tomate, batata, cenoura, cebola, pimentão.. só olhar as mochilas, quando saem, às 18hs...

      Excluir
  4. O sonho de todo jurista é ocupar este cargo honroso. Inconcebível aceitar um desvio desta gravidade, é urgente uma reforma na lei da magistratura para adequá-la aos tempos modernos.
    Muitos escândalos envolvendo juízes, isso potencializa a tragédia da insegurança jurídica pela qual passamos, onde a obtenção dde direitos básicos do cidadão precisa ser judicializada e, no fim, ele recebe alguma "solução", quase sempre injusta. Poder demais adoece, seres absolutos flertam com a sensação de impunidade, vamos equilibrar as coisas...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi amigão tudo bem? Me chamo kardilho , você poderia explicar melhor a sua opinião,
      Eu não entendi nada o que vc escreveu.

      Excluir
    2. Não não... vc é o anonimo cu.

      Excluir
    3. Kkkkkkk
      Eita Kardilho, estão pesando em suas ideias hein

      Excluir
  5. Kkkkkkkkk vai estudar kardilho vulgo apito dos guardas

    ResponderExcluir

Deixe seu comentário e obrigado pela sua colaboração.