26 julho 2024

Autoridades da Itália querem ação conjunta com Brasil após mafioso decidir falar sobre ações do PCC na Europa

Vincenzo Pasquino era considerado o maior intermediário do tráfico de cocaína da América do Sul para os clãs mafiosos da ‘Ndrangheta. Ele chegou a morar em imóveis de luxo na capital paulista.

Por TV Globo — São Paulo

26/07/2024 

Traficante italiano delata ligações do PCC com a máfia calabresa - Foto: Jornal Nacional/ Reprodução
Autoridades italianas convidaram procuradores brasileiros a participar das investigações sobre o tráfico internacional de drogas da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) para a Europa. As informações sobre o esquema foram reveladas por um traficante daquele país preso no Brasil e extraditado, que fez acordo de delação com a Justiça da Itália e está preso em Roma.

Vincenzo Pasquino morou na cidade de São Paulo, onde negociava com a facção criminosa. A TV Globo teve acesso ao documento enviado pela Direção Nacional Antimáfia e Antiterrorismo da Itália para a Procuradoria-Geral da República em Brasília e para as procuradorias no Rio de Janeiro e em São Paulo sobre a delação do traficante italiano.

No documento, é proposto que os procuradores brasileiros realizem interrogatórios conjuntos com o criminoso para que os dois países possam conseguir mais informações sobre o esquema internacional de tráfico.

Segundo o ofício encaminhado ao Brasil, as drogas saíam do país em grande quantidade pelo mar para famílias de mafiosos na Itália.

Vida em São Paulo

A polícia paulista já vinha investigando o criminoso, que usava imóveis no litoral e na capital de São Paulo.

"O Vicenzo morou no bairro do Tatuapé. Ele tinha um apartamento e também se utilizava de um apartamento no bairro do Morumbi e dois apartamentos no Guarujá. Eram bases que eram utilizadas para encontros com outros narcotraficantes, dentre eles traficantes italianos e até mesmo albaneses", disse o delegado Fernando Santiago, do Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc).

Vicenzo andava acompanhado de dois seguranças albaneses. São eles que, segundo a polícia, aparecem em imagens entrando no elevador de um dos prédios em que o criminoso morava.

Bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo, virou a residência de membros do alto escalão do PCC e de traficantes internacionais

"Litte Italy"

As investigações conduzidas pelas polícias de São Paulo e pelo Ministério Público revelaram que o bairro do Tatuapé, localizado na zona leste da capital paulista, se tornou a primeira base de luxo para membros do Primeiro Comando da Capital (PCC) que saíram das favelas e enriqueceram com o tráfico internacional de drogas.

O promotor Fábio Bechara, do Gaeco, comparou o bairro a “Little Italy” e à “Sicília”, regiões de Nova York e Itália historicamente dominadas pela máfia. “É a nossa Little Italy, a nossa Sicília”, disse Bechara, conforme informações do Estadão.

A investigação aponta diversos caminhos que levam ao Tatuapé e revela uma série de crimes, com destaque para a lavagem de dinheiro do crime organizado. Além dos líderes da facção, muitos de seus familiares e gerentes deixaram as comunidades pobres da zona leste e se mudaram para imóveis luxuosos no Tatuapé.
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Eles são vistos frequentando bares, restaurantes e festas em condomínios do bairro, marcando uma transição do ambiente periférico para o mais sofisticado.

E era exatamente no Tatuapé, ou "Litte Italy", que Pasquino fez morada e seu porto seguro enquanto estava em São Paulo negociando grandes quantidades de cocaína para exportação.

Desde 2018, o Tatuapé também foi palco de violentos acertos de contas relacionados ao tráfico internacional de drogas. Entre os casos mais notáveis estão os assassinatos de Cabelo Duro, Galo, Magrelo, Sem Sangue, Django e o suposto suicídio do Japonês do PCC, cuja morte está sendo investigada como possível indução ao suicídio.

Quem é Pasquino

Pasquino tinha posição de liderança na máfia da Calábria, a ‘Ndrangheta, uma das mais poderosas da Itália.

Nas investigações, ele foi visto como o maior intermediário do tráfico de cocaína da América do Sul para os clãs mafiosos da ‘Ndrangheta. Nessa atuação, além do PCC, ele teria contato também com a facção Comando Vermelho (CV).

No jargão do Judiciário italiano, Pasquino agora se tornou um "pentito", um arrependido. É o equivalente, no Brasil, ao delator que fecha acordo de delação premiada. O mafioso chegou ao Brasil em 2017, quando começou a trabalhar com o envio de drogas para a Itália.

Primeiro ele morou no Paraná, por cuja fronteira com países vizinhos entram grandes carregamentos de cocaína. Depois, mudou-se para São Paulo, ponto de saída das drogas para a Europa.

Em maio de 2021, uma operação conjunta entre Polícia Federal, Interpol e polícia italiana prendeu, em um flat em João Pessoa, Vincenzo e Rocco Morabito, um dos traficantes italianos mais procurados na época.

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Brasil como rota

Um estudo feito por uma ONG dedicada ao combate do crime organizado internacional mostra que a facção brasileira desempenha um papel logístico no tráfico internacional ao distribuir a cocaína que é produzida na América do Sul.

Segundo a pesquisa, o envio da droga para a Europa tem a participação da Máfia dos Bálcãs. O estudo aponta que o estado de São Paulo, onde nasceu o PCC, está em uma posição considerada estratégica para o tráfico, especialmente por conta do maior porto da América do Sul.

“Mais da metade da cocaína apreendida no país acontece no porto de Santos. Olhando só pro porto de Santos são várias formas de embarcar a droga para que ela chegue no continente europeu”, diz Isabela Vianna, socióloga e pesquisadora

Fonte: G1

Vídeo: Cidade Alerta/Rede Record

Vídeo: Jovem Pan

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