Como um criminoso baiano passou de pequenos roubos a assaltos a bancos – e acabou morto numa disputa entre grupos rivais do Piauí.
Allan de Abreu, do Rio de Janeiro
13 ago 2024
Fleques, à esquerda, abraçado com o irmão Delvane (Foto: Reprodução/Ministério Público do Estado de São Paulo) |
Não levaram em conta, porém, que havia policiais fora do batalhão naquela noite, cuidando do patrulhamento rotineiro. Ao serem informados do que acontecia no batalhão, esses PMs se organizaram e fecharam os caminhos que levavam para fora da cidade.
Estradas foram incendiadas durante ataque - Foto: Reprodução |
Cabo Ricieri estava em viatura que foi alvejada por criminosos durante tentativa de mega-assalto, em Guarapuava - Foto: Divulgação/Redes Sociais |
Por lei, esse grupo tem autorização para possuir armas de fogo. Durante o governo Bolsonaro, que flexibilizou as regras para a aquisição de armas, o número de CACs existentes no Brasil saltou de 117,5 mil para 783,4 mil. Parte desses supostos caçadores, atiradores e colecionadores está abastecendo o crime organizado em diferentes estados.
Armas de grosso calobre como metralhadoras .50 e fuzis 7.62 apreendidas na região de Guarapuava, quando do ataque a sede da Transportadora de Valores - Imagens Redes Sociais |
Um ano depois do roubo frustrado em Guarapuava, a quadrilha de Fleques entrou em ação novamente. Dessa vez, mirou uma transportadora de valores em Confresa, uma cidadezinha de 35 mil habitantes em Mato Grosso. De acordo com a apuração da Polícia Federal, o bando investiu 3,4 milhões de reais na operação, incluindo a compra de carros e armas.
Assalto a Brinks de Confresa
Fleques, na última hora, não quis participar do roubo. Deu lugar ao amigo Ronildo Alves dos Santos, o Magrelo, outro experiente assaltante do PCC que, segundo Janes da Silva disse em uma conversa interceptada, estava “quebrado”, precisando de dinheiro.
Deu tudo errado. No cofre da transportadora, havia pouco mais de 1 milhão de reais, menos de um terço do investimento da quadrilha. A fuga foi infernal: 320 policiais perseguiram de perto os criminosos pelo interior do Tocantins. Tudo indica que Fleques, embora não tenha participado do roubo, saiu em resgate do amigo nesse momento.
“Meu irmão mais três caras caiu na caatinga”, contou o irmão mais velho de Fleques, Delvane Pereira Lacerda, o Pantera, em um diálogo interceptado pela PF. “Nóis não sabe nem o que aconteceu nessa desgrama aí. Falou que o fuzil dele travou. Baguio do carai aí ó, mano. Entendeu? Só por Deus.” O resgate falhou. Magrelo e dezessete comparsas morreram no confronto com a polícia. Dois integrantes do grupo foram presos.
Resultado do ataque a cidade de Confresa foi uma resposta nunca vista ao Novo Cangaço, com um saldo trágico de 18 mortos |
Não deu tempo. Fleques foi assassinado a tiros enquanto estava dentro de uma barbearia em Osasco, na Grande São Paulo, no dia 2 de dezembro. Sua morte foi o estopim de uma guerra violenta entre dois grupos criminosos do Piauí: os “brancos” e os “marotos”.
Os irmãos Delvane e Fleques nasceram em Buritirama, no Oeste baiano, mas passaram a infância e a juventude em Avelino Lopes, uma cidade pobre de 11 mil habitantes no semiárido do Piauí. Cursaram somente o ensino fundamental, e no início dos anos 2000 se mudaram para São Paulo. Foi quando se envolveram com o crime pela primeira vez.
Em 2006, foram presos por roubo, em ocorrências distintas: Fleques, dois anos mais novo que o irmão, assaltando uma loja de tintas em Osasco; Delvane, uma loja de roupas em São Paulo. Um dos comparsas de Delvane morreu em confronto com policiais militares, na ocasião. Os dois irmãos acabaram condenados por roubo e porte ilegal de arma de fogo.
Matéria sobre o assassinato de Fleques
Na cadeia, filiaram-se ao PCC e alargaram a teia de contatos no mundo do crime. Delvane escapou da prisão em Bauru (SP) em agosto de 2009, aproveitando uma saída temporária de Dia dos Pais. Fleques foi solto no ano seguinte por decisão judicial. Por volta dessa época, os dois retornaram juntos ao Piauí e fundaram a primeira filial do PCC no estado.
Logo retomaram a rotina de crimes. Na manhã de 26 de outubro de 2015, Fleques e dois comparsas, todos armados, invadiram a agência dos Correios de Santo Inácio, cidade do interior do Piauí. Ao anunciarem o assalto, foram surpreendidos pelo vigilante da agência, que reagiu e matou a tiros um dos ladrões. Fleques e o outro parceiro revidaram, acertando três disparos no agente, que ficou gravemente ferido. Em seguida, fugiram dali de carro. Minutos depois, no entanto, se viram cercados por uma viatura da PM e foram presos.
Fleques ficou detido por três anos no Piauí. Em setembro de 2018, alegando fortes dores abdominais, foi transferido da penitenciária de Teresina para um pronto-socorro. No caminho, driblou a escolta e conseguiu fugir (a facilidade com que driblava a polícia lhe rendeu o apelido de Raposinha entre os assaltantes de banco). Até ser assassinado em Osasco, cinco anos depois, Fleques não voltou a ser preso, embora tenha sido condenado no episódio de Santo Inácio a trinta anos de prisão por tentativa de latrocínio do vigilante.
Apesar da extensa ficha criminal, Delvane deixou a prisão em abril de 2017 e passou a cumprir o restante da pena em liberdade. Três anos depois, foi preso em flagrante em Osasco carregando dois tijolos de maconha numa caminhonete. Condenado a sete anos de prisão, teve a pena anulada por uma liminar do ministro Sebastião Reis Júnior, do Superior Tribunal de Justiça (STJ) em fevereiro de 2023. Na visão do ministro, os policiais agiram ilegalmente ao revistar a caminhonete. Com isso, Delvane deixou a prisão mais uma vez.
O inquérito da PF relata que, nessa época, os dois irmãos passaram a investir em crimes diferentes: enquanto Fleques se especializava em assaltar bancos, Delvane traficava drogas. Comprava o quilo da cocaína a 20 mil reais e revendia a 44 mil na Grande São Paulo e na região de Avelino Lopes, onde os integrantes de seu clã eram chamados de “brancos”. A droga era levada da capital paulista ao Sul do Piauí por mulas – isto é, homens e mulheres que transportavam o entorpecente em viagens de ônibus (num áudio obtido pela PF, Delvane contou a um interlocutor que estava “soltando um moleque pra viajar”).Joabe na epóca do assassinato, no ano de 2013, teria confessado o crime ao delegado Eli José de Oliveira, da Delegacia de Capturas de Goiânia |
Matador do grupo de Fleques quando este ainnda era vivo |
“Vamo marcar lá pra nóis dar um bote naquele Pablo lá. De carro mesmo. Entendeu?”, ele disse, num áudio de WhatsApp recuperado pela PF. “Vc tá ligado que pode contar comigo sempre, tendeu, amigo / Tou aqui na quebrada [à] disposição pra nós matar lixo”, respondeu Everaldo Ferreira, o Caçador, um dos mais eficientes sicários do bando de Fleques. A emboscada foi montada, mas, como a vítima não estava em casa naquele momento, os criminosos só atearam fogo na residência.
Guerra dos "Brancos x Marotos"
Quando Fleques foi morto, a guerra escalou de vez. Delvane, seu irmão, jurou vingança. “Só vai ver caixão descendo pro Avelino”, escreveu para Janes. Começou a circular nos celulares da quadrilha uma foto dos “índios do Panta” (abreviação de Pantera), todos armados, em um beco na favela do Areião, em Osasco, além de um áudio atribuído ao grupo: “É nóis, Panta. Vamos arregaçar os pilantra. É os índio, mano. Os índio do Panta.”
As mensagens obtidas pela PF mostram que Janes passou a temer não só o grupo de Aguiar, mas também o de Delvane, que sempre fora seu aliado. “Eu digo que Pantera vai fazer uma bagunça no Avelino. Escuta o que eu tô te falando. Nesse Pantera, nem eu confio nele. Nem eu mesmo quero ficar perto dele”, disse a um interlocutor. Ele decidiu, por isso, passar duas semanas longe do radar de Delvane e de Aguiar, escondido em um resort em Olímpia, no interior de São Paulo.
Os "índios do Panta", numa fotografia tirada em Osasco e obtida pela Polícia Federal. Segundo os investigadores, o grupo criminoso atuava sob o comando de Delvane Lacerda, o Pantera (ou Panta) |
Guerra interna do PCC entre 'Brancos' e 'marotos' gera mortes em série no interior do Piauí
Em fevereiro deste ano, a mando de Delvane, Caçador partiu para o ataque contra o grupo de Aguiar. Viajou até São Raimundo Nonato (PI) e durante o Carnaval matou dois jovens. Um deles era Erinelton Pereira de Sousa, o Netinho, antigo aliado dos irmãos Lacerda. Os “brancos” suspeitavam que ele tinha passado para os “marotos” o endereço da barbearia de Osasco onde Fleques foi morto.
Poucos dias depois, outro integrante do bando de Aguiar foi morto e esquartejado em São Raimundo Nonato. Mais quatro pessoas foram assassinadas naquele mês em Avelino Lopes, dois “brancos” e dois “marotos”. A carnificina só cessou quando a Secretaria de Segurança Pública do Piauí reforçou o policiamento na região e prendeu suspeitos pelos homicídios, entre eles Everaldo Pereira, o Caçador.
Em 3 de abril, Delvane desabafou em um áudio enviado por WhatsApp a um familiar: “Não tô entendendo mais, cara. Faz quatro mês e um dia que meu irmão morreu. Na verdade, eu nem consegui mais matar ninguém. Eu não consegui mais matar ninguém, cara. Eu não consigo fazer nada mais. Na verdade, eu não sei o que tá acontecendo comigo mais. Tenho que sair daqui.” No mês seguinte, ocorreu o último homicídio de que se tem notícia ligado à guerra entre “brancos” e “marotos”, dessa vez em um bar no Ipiranga, em São Paulo.
Dez dias depois, em 21 de maio, a Polícia Federal e o Ministério Público deflagraram a fase ostensiva da investigação contra a quadrilha de Fleques e Delvane. Treze pessoas foram presas, incluindo Janes da Silva e Otávio Magalhães, dono do registro de CAC suspeito de ter fornecido armas para o grupo criminoso.
Delvane havia sido preso dois dias antes em Itapeva, no interior paulista, por um motivo prosaico: teve uma discussão acalorada com a esposa, e o porteiro do condomínio, alarmado com os gritos que ouviu, acionou a Polícia Militar. Os policiais entraram no apartamento do casal e encontraram uma pistola escondida dentro da geladeira. Delvane foi preso em flagrante por posse ilegal de arma de fogo.
Dezessete pessoas, incluindo Delvane, Janes e Otávio foram denunciadas pelo Ministério Público por associação criminosa (os dois últimos também respondem a ação penal por lavagem de dinheiro).
Todos estão presos preventivamente. Procurada pela piauí, a defesa de Delvane questionou a legalidade das provas obtidas pela Polícia Federal e disse, por meio de nota, que ele “nega veementemente qualquer envolvimento nos crimes que lhe estão sendo imputados”.
A advogada Larah Rainov, que atua na defesa de Janes da Silva, afirmou que a renda milionária de seu cliente é de origem legal, “sendo que já foram juntados aos autos vasta documentação comprobatória nesse sentido”. A piauí não conseguiu contato com a defesa de Joabe da Silva Aguiar.
Fonte: Revista Piauí
Imagens e Vídeos: Leandro Leandro
Vídeos: Youtube
Que coisa, não?
ResponderExcluirSão Paulo, 17 de Agosto de 2024
ResponderExcluirSão Paulo segue sem Polícia Penal.
GT...
ALESP...
SEMANA QUE VEM...
Grato.
Pqp... Esse "resto de placenta" só pode ser retardado. Olha o nível do psicopata esquizofrênico que vai virar Policial Penal.
ResponderExcluirVc se preocupa demais comigo, e com meus comentários, vai arrumar o q fazer.
ExcluirNão é a mamãe‼️🦖🦕
🐶 lambe
🐱 mia
🦟 pica
Eu sou o seu pior pesadelo. Vou te atormentar até o ponto de vc sumir desse blog. Retardado mental.
ExcluirVai tentando, Dinossauro do Cimic.
ExcluirKKKKKKKKKK
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KK
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Não é a mamãe‼️🦖🦕
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🦟 pica
Ui... qur meda!
ExcluirNão é a mamãe‼️🦖🦕
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