16 outubro 2024

Mas foi avisada: Mãe descobre morte de filho preso por email; 'Implorei por socorro'

"Eu o visitava e via o sofrimento nos olhos dele. Ele me dizia: 'Mãe, estou no inferno'. Foi devastador para mim", conta Maria Cristina.

Maurício Businari

Colaboração para o UOL

16/10/2024

Foto tirada no presídio de Presidente Bernardes, após Márcio ter sofrido AVC - Imagem: Arquivo pessoal
Maria Cristina de Almeida, 62, foi avisada por email que o filho, de 35 anos, morreu. Márcio Izaías de Almeida cumpria pena na penitenciária P1 de Franco da Rocha, na Grande São Paulo, e enfrentava problemas de saúde.

"Recebi um email frio. Ninguém veio me avisar, ninguém ligou. "
Maria Cristina de Almeida

Preso por tráfico de drogas, ele estava debilitado por um AVC (acidente vascular cerebral) e complicações do diabetes, diagnosticado quando tinha 5 anos de idade.

"Eu o visitava e via o sofrimento nos olhos dele. Ele me dizia: 'Mãe, estou no inferno'. Foi devastador para mim", conta Maria Cristina.

AVC e fratura

Márcio havia sido preso pela primeira vez aos 18 anos, após envolvimento com drogas. Segundo Maria Cristina, sua vida mudou após a morte do pai, em 2008, o que o levou às drogas e ao tráfico.

Em 2021, foi detido novamente, por tráfico. Naquele ano, teve um AVC na prisão que o deixou na cadeira de rodas e ainda mais vulnerável, segundo a mãe. Ele também havia sofrido uma fratura no joelho, durante uma operação policial, da qual nunca se recuperou.

'Perdi meu filho'

Em 2022, a Justiça negou um pedido de prisão domiciliar de Márcio, com o argumento de que ele havia cometido um crime grave e que não havia indícios de que sua saúde estivesse comprometida ou que o ambiente carcerário fosse inadequado em comparação com o ambiente externo.

O magistrado justificou que Márcio estava sendo atendido no sistema prisional. Mas, segundo a mãe, nos últimos meses, Márcio tinha episódios recorrentes de hipoglicemia e febre alta.

Pouco dias antes de morrer, segundo Maria Cristina, Márcio teve dores intensas e febre. Ele foi levado ao hospital no dia 5 de agosto, mas Maria Cristina não foi informada em qual unidade ele estava e não pôde visitá-lo.

Maria Cristina recebeu email que comunicava morte do filho - Imagem: Arquivo pessoal

"Eu implorei para que o socorressem, mas, quando o levaram, já era tarde. Perdi meu filho." Márcio morreu às 21h50 do dia 13 de agosto.

Maria Cristina, no entanto, só soube da morte do filho no dia seguinte, por email. "Foi só um email. Meu filho morreu e foi assim que soube", diz a mãe.

A mensagem da Secretaria de Administração Penitenciária enviada a Maria Cristina dizia que "foi constatado o óbito do sentenciado", tendo como causa da morte "choque séptico de foco pulmonar".

Além disso, Maria Cristina conta que recebeu um e-mail anônimo com denúncias de negligência. A mensagem, compartilhada por ela com o UOL, acusava uma enfermeira da penitenciária de não prestar socorro a Márcio durante os episódios de hipoglicemia.

"Alguém me mandou um e-mail dizendo que a enfermeira ignorou meu filho. Eu quero saber a verdade. Não vou descansar até que a justiça seja feita."
Maria Cristina de Almeida

Maria Cristina agora cuida das duas netas, filhas de Márcio, e planeja processar o estado por negligência. "Eu só quero justiça. Meu filho não merecia isso."

O que dizem as autoridades

Em nota, a SAP-SP (Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo) diz lamentar como foi comunicada a morte. "A servidora responsável foi advertida e já recebeu orientações sobre o protocolo correto para contato com os familiares, feito por telefone", afirma o órgão.

"O email só é usado caso o parente não atenda e com um pedido de retorno à ligação, sem nunca mencionar o motivo."

Segundo a SAP, Márcio chegou à unidade em dezembro de 2022, transferido da Penitenciária de Presidente Bernardes, para tratamento de saúde.

"Durante a permanência no presídio, ele recebeu medicação e atendimento diário na enfermaria. Quando necessário, foi levado à unidade de saúde externa. O presídio citado dispõe de equipe básica de saúde, composta por médico, enfermeiro, dentista e auxiliar de enfermagem, em parceria com o município de Franco da Rocha. "
SAP, em nota

A Secretaria também comentou sobre o pedido de habeas corpus negado. "Cabe ao Poder Judiciário analisar os pedidos de habeas corpus e a SAP cumpre decisão judicial".

O Tribunal de Justiça de São Paulo explicou que não emite nota sobre questões jurisdicionais.

"Os magistrados têm independência funcional para decidir de acordo com os documentos dos autos e seu livre convencimento. Essa independência é uma garantia do próprio Estado de Direito. Quando há discordância da decisão, cabe às partes a interposição dos recursos previstos na legislação vigente", afirma.

Fonte: UOL

No Instituto Penal Agrícola "Prof. Noé Azevedo" de Bauru tinha um preso da região metropolitana que após levar tiro da PM, ficou igual a esta imagem acima, só com a metade da caixa craniana, mas tirou a cadeia
Contraponto: Com todo respeito a dor da"Mãe", o filho sabendo que era frágil e doente, não deveria ter se enveredado para senda criminosa, mesmo porque que diferença faria um telefonema ou um e-mail? Iria trazer a filho dela de volta ? E se a servidora ligou e ninguém atendeu?

Não deveria é ter entrado para vida do crime, só isso, sendo claro e objetivo.

Ví individuo preso só com metade da cabeça, pois tinha levado tiro de fúzil da polícia, e estava lá preso, totalmente xarope, sem raciocínio lógico e babando, mas estava la preso, fora os aleijados e semi paralíticos, mas estavam lá presos e cumprindo suas reprimendas judiciais. 

E quantos não morreram e foram avisados por telegrama na época, que nem e-mail existia, mesmo porque também a maioria nem telefone tinha em casa e celular era só nos desenhos dos Jetsons.

Só para encerrar, nunca ouvi ninguem falando em processar o Tribunal do Crime, que mata, tortura, enterra vivo, enforca, mata com gatorade, esquarteja, mas do Estado querem Processo Judicial. 

O resto é tudo hipocrisia. 

9 comentários:

  1. Erro grosseiro e desumano da funcionária.

    Deveria só mandar um pipa mesmo.

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  2. Engraçado nessa história da carochinha, que ninguém pensou em pegar o histórico do mala, as faltas cometidas, as famílias que ele destruiu no crime. e vem pagar de santinho. Alguém dos "direitos dos manos" por acaso perguntou aos familiares do guarda de ele está bem ? se está psicologicamente abalado com seu salário "consignado", com a estrutura em que trabalha ? alguém ? alguém ? Não.... então não me venha com xorumelas

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  3. Caro, é só questão de ter um pouco de tato com as pessoas, não é procedimento padrão avisar por email (a própria SAP confirma isso). Quanto a uma possível negligência da servidora, o correto é apurar, não interessa se o cara é criminoso, o Estado assume o papel de tutor da pessoa presa e os servidores tem a obrigação legal de cumprir e seguir a legislação. Comparar com o "tribunal do crime" não faz sentido, eles atuam justamente fora da lei, não respondem ao Estado. E não sou EU que afirmo essas coisas, é a lei. Quem quiser pode discordar, mas não pode descumprir, nós aceitamos esses termos quando ingressamos no serviço público.

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    1. Mas se eles atuam fora da Lei, porque a maioria das pessoas os procuram quando se sentem injustiçados e não a Justiça Comum e Legal? Pois isso é corriqueiro e temos noticias cotidianamente da atuação destes supostos "tribunais", em solicitação dos próprios moradores de suas áreas. E a exemplificação foi apenas uma analogia, mas cabe sim. Em relação a forma da informação, como eu disse na matéria quem garante que a servidora não ligou e não teve resposta, ou mesmo se tinha ou não um contato direto com a família ? Já em relação aos nossos procedimentos, não estamos lá para castigar ou punir os presos, mas sim, apenas para dar prosseguimento a Persecução Penal. E por último em que iria mudar a condição do "de cujus" a forma da notícia?

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  4. Esse tipo de "tribunal" ocupou o espaço que o Estado deixou vazio por negligência. E o "tribunal do crime" age rápido e resolve o problema, enquanto o poder judiciário é lento, quando funciona. Não estou falando que está certo, mas é assim que funciona. E como você colocou na matéria "O email só é usado caso o parente não atenda e com um pedido de retorno à ligação, sem nunca mencionar o motivo", ênfase no "sem nunca mencionar o motivo". Esse é o procedimento. Mas isso é o de menos, a pessoa responsável já foi chamada a atenção. É uma mera questão de humanidade e empatia, lembrar que quem cometeu o crime é o preso e não a família. Uma mãe sempre vai sofrer pelo filho.

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