23 novembro 2024

Gino Meneghetti, 'o bom ladrão'

Gatuno assombrou São Paulo por décadas e era conhecido por correr em telhados, o maior ladrão da história de São Paulo (assumido) era anarquista e acrobático

Vicente Vilardaga

23.nov.2024 às 13h13

O assaltante Gino Meneghetti se notabilizou por fugir da polícia correndo pelos telhados das casas,
na imagem acima a face original de Gino Meneghetti (esquerda) e um de seus disfarces (direita).
São Paulo - Hoje vou falar de um bandido do passado. Ele infernizou a vida de gente rica de São Paulo durante décadas. Era um exímio ladrão de residências. Entrava nas casas, ficava cinco minutos e levava os bens mais valiosos.

O “Rei dos Ladrões”, o “Gato dos Telhados”, o “Mestre dos Disfarces”, o imigrante italiano que chegou ao Brasil na segunda metade do século XIX, foi o símbolo da revolta política no reduto italiano do Bixiga e da Mooca. Meneghetti era um gato de rua, perambulava por São Paulo dia e noite, mas o seu ponto de repouso era a pensão de Maria Lazaroni, sua tia.

Nunca deixou vítimas ou qualquer rastro de violência. Passava pelos lugares como um fantasma e tirava especialmente dos mais abonados, mas não dava para os pobres.

Não só as fugas impressionam, como os disfarces também,ele era considerado um mestre neste oficio, de dia andava com terno e chapéu no meio da multidão, e com seu bigode expressivo, que na verdade era postiço pois o original havia sido raspado na intenção de se esconder com maior facilidade.

Gino Meneghetti pulando residências por algum telhado espalhado na capital paulistana. Foto: Domínio Público
Esse foi Gino Amleto Meneghetti (1878-1976), italiano de Vicopisano, na Toscana, uma pequena província de Pisa, e que fez longa carreira de ladrão no Brasil e entrou na mitologia paulistana do crime cercado de romantismo. Roubava mansões nas avenidas Paulista, Angélica ou onde houvesse dinheiro e joias.

Sempre agia sozinho. Costumava portar uma arma calibre 32. Tinha, entre outras habilidades, a de subir e correr em telhados. Era sua principal maneira de fugir da polícia. Demonstrava grande equilíbrio e saltava de um telhado para outro como se fosse um gato.

Outro acontecimento que singulariza Meneghetti é ter sido um bandido agraciado pelo governo por difusos serviços prestados.

Gino Meneghetti passeando por algum telhado espalhado na capital paulistana. Foto: Domínio Público
Meneghetti, que se havia tornado popular e simpático às massas, ganha da prefeitura, em 1960, uma banca de jornal num ponto nobre da cidade, na esquina da rua Amador Bueno com a avenida Ipiranga. Era um projeto para regenerá-lo. A banca acaba abandonada porque ele não saia da cadeia ou estava fazendo algum assalto.

Enquanto viveu, o lendário Meneghetti realizou inúmeros roubos e trapaças. Sua carreira desviante começa na Itália, na infância. Foi preso pela primeira vez aos onze de idade e a partir daí as internações em reformatórios viraram rotina.

Quando vem para o Brasil, em 1913, já é um criminoso experiente com 35 anos. Tem também um histórico conturbado de doenças psiquiátricas. Era um sujeito com longas internações em manicômios e taxado de "louco moral".

Meneghetti já com mais de 75 anos de idade prova aos jornalistas que ainda tem saúde e agilidade, quando em liberdade - Imagem: Domínio Público
Assim que chegou em São Paulo passou a morar com uma tia que o acolheu. Logo, porém, envolveu-se, com uma funcionária do restaurante onde costumava comer.

Chamava-se Concetta Tavani, a quem Meneghetti raptou e com quem acabou se casando. O casal teve cinco filhos, dos quais dois sobreviveram.

Meneghetti só entrou no Brasil por uma falha de controle. Além de ver sua longa ficha na Interpol, a polícia local já havia recebido um dossiê dos italianos que o definia "como um elemento perigoso, condenado numerosas vezes por crime contra a propriedade e por violência contra agentes da força pública".

Gino Amleto Meneghetti, o "Gato dos Telhados" em sua última passagem pelo cárcere, quase
no fim dos anos 70, já com mais de 90 anos de idade- Imagem: Memória da Polícia Civil de São Paulo
Para confirmar os piores temores, um ano depois de sua chegada ele é condenado a oito anos de reclusão por roubo e mandado para a cadeia da Luz.

Sua vida no país foi de idas e vindas na prisão. Sempre que era solto, reincidia no crime. Ficou na cadeia entre 1945 e 1952 e entre 1954 e 1959, por tentar roubar uma casa na Vila Mariana.

Nos anos seguintes foi para a cadeia mais três ou quatro vezes, inclusive por estar carregando joias avaliadas em R$ 150 mil cruzeiros. Foi preso pela última vez em 1970, aos 92 anos, tentando arrombar um casarão na rua Fradique Coutinho, na Vila Madalena.

Na data de 23 de maio de 1976, São Paulo, São Paulo, o então jornal Notícias Populares, um dos
vários jornais da empresa Diarios Associados publica em sua manchete a morte do "Rei dos Ladrões"
Meneghetti suscita uma discussão Interessante: a longevidade de um ladrão. Embora numa atividade de alto risco, ele morreu com 97 anos. É certo que fazia bastante exercício andando pelos telhados. Mas ele parece não ter sentido os efeitos de anos de cadeia. Em 1988, foi feito um filme de curta-metragem sobre o ladrão chamado "Dov´è Meneghetti?", de Beto Brant.

Fonte: Jornal Folha de São Paulo

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