05 dezembro 2024

Violência da PM: Tarcísio recua, admite erro sobre câmeras corporais e diz que algo "não está funcionando"

Mudança de discurso do governador de São Paulo se deu após uma série de casos recentes de violência policial que vieram à tona após imagens de câmeras de segurança ou de celular.

Por g1 e TV Globo — São Paulo

05/12/2024

Tarcísio de Freitas (Republicanos) - Foto: Reprodução/TV Globo
Após uma série de casos recentes de violência policial, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) admitiu nesta quinta-feira (5) que "tinha uma visão equivocada" sobre o uso de câmeras corporais na farda dos policiais militares e disse que hoje está "completamente convencido de que é um instrumento de proteção da sociedade e do policial". Ele acrescentou que não apenas vai manter o programa como o ampliará.

"Você pega a questão das câmeras: eu era uma pessoa que estava completamente errada nessa questão. Eu tinha visão equivocada, fruto da experiência pretérita que eu tive. Não tem nada a ver com a questão da segurança pública. Hoje, estou completamente convencido que é um instrumento de proteção da sociedade e do policial. E nós vamos não apenas manter, mas ampliar o programa. E tentar trazer o que tem de melhor em termos de tecnologia."
— Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo


Atualmente, os policiais militares de São Paulo já usam câmeras nas fardas, que fazem as gravações automaticamente.

No entanto, a Polícia Militar de São Paulo se prepara para adotar um novo modelo de câmera, em que a gravação de vídeos pode ser acionada pelo próprio policial ou remotamente. A previsão é que esses equipamentos passem a ser usados a partir do dia 17 de dezembro.

Desde a campanha eleitoral em 2022, o então candidato ao governo do estado fez reiteradas críticas às câmeras nos uniformes dos PMs e defendeu que o seu uso fosse reavaliado. Ele chegou a dizer que não estava preocupado com as mortes causadas por PMs e, sim, com a "letalidade dos bandidos".

Vídeo mostra momento em que PM joga homem de ponte durante abordagem em SP - Foto: Reprodução/TV Globo
Em janeiro deste ano, afirmou que as câmeras não ofereciam segurança efetiva na vida do cidadão e que a sua gestão não iria investir em novos equipamentos. "A gente não descontinuou nenhum contrato. Os contratos permanecem. Mas qual a efetividade das câmeras corporais na segurança do cidadão? Nenhuma", disse à época.

Agora, pressionado pela crise na segurança, o governador afirmou reconhecer a importância do equipamento e que o novo modelo só entrará em operação depois de testadas todas as funcionalidades.

"Se ele [o PM] esquecer de acionar [a gravação da câmera], tem o acionamento remoto. E a gente vai testar todas as funcionalidades, porque elas não entram em operação até que todas essas funcionalidades deem segurança pra nós", afirmou.

Segundo ele, enquanto isso, o uso dos atuais equipamentos será prorrogado "até que a gente forme convicção de que a gente está com um produto nas mãos e que vai atingir a finalidade a que se destina".

Policiais  agridem família durante abordagem na garagem deles — Foto: Reprodução

Sem mudanças no comando

O governador disse ainda que "é hora de ter humildade e dizer: 'pô, tem alguma coisa que não tá funcionando'". No entanto, ele disse que não tem planos de fazer mudanças na Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo ou na Polícia Militar e defendeu a manutenção de Guilherme Derrite no comando da SSP.

"Vou confiar no meu time", afirmou.

Tarcísio disse ainda que o discurso de que o crime deve ser combatido de forma firme "não pode ser confundido com salvo conduto para fazer qualquer coisa e descumprir regra. Isso a gente não vai tolerar".

E acrescentou: "Quando a gente começa a ver reiterados descumprimentos desses procedimentos, a gente vê que há de fato transgressão disciplinar, falta de treinamento. São coisas que chocam todo mundo, chocam a gente também. A gente fica extremamente chateado, triste”.

O governador mudou o tom das suas declarações um dia após defender a atuação da sua gestão na segurança pública. Na terça-feira (4), ao ser questionado se considerava que seu secretário da área, Guilherme Derrite, fazia um bom trabalho, Tarcísio respondeu: "Olha os números que você vai ver que está [fazendo um bom trabalho]".

Em março, durante uma operação policial na Baixada Santista, batizada de Operação Verão, que deixou 56 mortos, ele minimizou as denúncias reveladas pelo g1 e TV Globo de que corpos de mortos estavam sendo levados como vivos para hospitais para evitar perícia.

"Sinceramente, nós temos muita tranquilidade com o que está sendo feito. E aí o pessoal pode ir na ONU, pode ir na Liga da Justiça, no raio que o parta, que eu não tô nem aí", disse.

Cenas chocantes

Um dos casos recentes que chocaram a opinião pública e geraram forte repercussão foi o do homem arremessado do alto de uma ponte por um policial militar na Zona Sul de São Paulo, no último domingo (1°). Ele está preso por determinação da Justiça Militar.

O soldado foi filmado atirando o rapaz da ponte sem nenhum motivo ou resistência aparente. A vítima caiu de cabeça de uma altura de três metros e teve ferimentos, mas passa bem.

Em novembro, um estudante de medicina foi morto com um tiro à queima-roupa durante uma abordagem policial. A ação foi registrada por uma câmera de segurança.

Em outro episódio, agora na cidade de Barueri, na Grande São Paulo, policiais militares agrediram uma mulher de 63 anos e deram um golpe de mata-leão (proibido pela instituição desde 2020) em seu filho durante abordagem na garagem da família. As cenas também foram gravadas.

Ao ser questionado sobre esses casos, Tarcísio disse que vai fazer uma reciclagem de 100% da tropa.

"Quando os policiais estão se envolvendo em ocorrências, como aconteceu em Barueri agora, eles são imediatamente recolhidos à corregedoria e todos serão. Inicia-se ali a reciclagem. A gente vai fazer o processo de reciclagem do efetivo como um todo. Nós vamos repassar os treinamentos e publicizar os procedimentos operacionais, vamos fazer com que isso seja internalizado", afirmou.

Dados do Ministério Público apontam que as mortes cometidas por policiais militares no estado de São Paulo aumentaram 46% até 17 de novembro deste ano, se comparado a 2023.

Tarcísio: 'Não há a necessidade de gastar com câmera corporal que nunca é desligada', frase falada em 05/2024

De quem é a culpa?

Governos costumam produzir os seus próprios desastres. O governo paulista incorporou à sua administração um desastre que já veio pronto. O problema tem nome e sobrenome. Observadores desatentos o chamam de Guilherme Derrite, o deputado federal bolsonarista e capitão da PM acomodado no comando da Secretaria de Segurança.

Se os críticos estivessem certos, a solução seria simples. Bastaria um golpe de esferográfica e o envio de um ato de exoneração ao Diário Oficial. Mas estão enganados.

Chama-se Tarcísio de Freitas a encrenca do governo estadual. Ele chegou ao Palácio dos Bandeirantes como solução dos 13,4 milhões de cidadãos que o elegeram. Tornou-se problema quando aceitou pagar parte da fatura pelo apadrinhamento político de Bolsonaro com a subordinação do aparato de segurança de São Paulo à lógica troglodita segundo a qual "bandido bom é bandido morto".

Tarcísio diz que 'estava errado' ao criticar o uso de câmeras nos policiais: 'Uma visão equivocada', em 05/12/2024

Antes da chegada de Tarcísio, a polícia paulista estava submetida a uma política de segurança baseada em evidências. As imagens das câmeras corporais dos policiais eram descarregadas numa central que permitia a observação diária da atividade policial pelos comandantes de batalhões. A letalidade policial minguou. Sob nova administração, a realidade se inverteu.

Até a semana passada, São Paulo registrava 712 mortes decorrentes de intervenção de PMs. Numa comparação com as 460 registradas em todo o ano de 2023, houve uma alta de 55%. Em conflito com a lógica, Tarcísio informa que o capitão Derrite será mantido no cargo. Demora a perceber que não são apenas os erros que arruínam um governo, mas o modo como o governante age depois de cometê-los.

Fonte: G1/UOL

Vídeo: SBT NEWS

4 comentários:

  1. Já no mundo encantado de uma certa secretaria onde só tem a nata da bondade do ser humano , no caso de uma intervenção ou contenção legítima tem que se tomar todos os cuidados para não ofender os meninos.

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  2. até o presente ele estava se achando o Cara, acima de tudo e de todos, começou cair na real, com a mesma velocidade que veio poderá retornar pra mediocridade.

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  3. A Imprensa funciona como um 4° PODER. Foram batendo na mesma tecla, e até o Governador mudou de opinião. Alguns casos realmente são absurdos, e parece coisas de insanos. O e PM tem bônus garantido todos os anos.

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