Entre vários 'Joões' e 'Marias', um nome bem peculiar - e sombrio - se destaca no painel eletrônico da sala de espera de um consultório médico no Centro de Bauru.
Por Vitor Oshiro | Especial para o JC
04.05.2025
Muito diferente da figura assustadora do seu infame homônimo, levanta-se um senhor de 87 anos e bastante risonho, com a ajuda de um cuidador - negro, por sinal - e de sua esposa, a dona Julieta Pini, nove anos mais nova que ele. "Olha que coisa, né? Tem o casal famoso Romeu e Julieta. E aqui é Hitler e Julieta", brinca ela, referindo-se à união de mais de seis décadas - impressionantes 59 anos de casamento após cinco anos e meio de namoro.
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Sr. Hitler Harvey Pini exibe seu Registro de Nascimento datado do ano de 1937 |
Na ocasião, o líder nazista já exercia o papel de chefe absoluto na Alemanha. Era chanceler e havia absorvido os poderes presidenciais após a morte de Paul von Hindenburg, em 1934.
Aqui, um esclarecimento importante para o restante desta reportagem: o morador de Bauru afirma de forma veemente não ter qualquer afeição ao seu homônimo e nem aos princípios que o ditador defendia. "De jeito nenhum. Odeio guerra. Sou a favor do bem-estar. Tanta coisa boa pra fazer e ele (Hitler) foi atrás de guerra".
Por mais incrível que pareça, o Hitler, morador de Bauru, não está sozinho. Segundo dados da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado de São Paulo (Arpen-SP), existem outras 133 pessoas vivendo no Brasil e que têm este mesmo nome. São 55 'Hitlers' - inclusive o desta reportagem - espalhados pelo território paulista.
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O policial penal inativo Hitler e a esposa Sra. Julieta e após 59 de casamento, continuam apaixonados - Imagem: Arquivo Pessoal |
Não pensou em mudar?
"Hoje, é mais comum o pessoal mudar de nome. Na nossa época, não era assim. Então, nunca pensei em mudar de nome", relata Hitler Pini, reiterado por sua esposa: "Hoje que isso é mais fácil, né?".
E, segundo o casal, como os tempos eram outros (e a circulação da informação também), nunca houve tantos problemas diante do nome tão negativo. A não ser no dia do batismo.
"Logo no batizado, o padre recusou a me batizar com aquele nome. Não quis. Então, eu acabei sendo batizado como 'José'", recorda-se.
A manobra deu certo e o batismo católico saiu. Tanto que, décadas mais tarde, especificamente em 25 de julho de 1965, Hitler (nota pessoal: confesso que ainda é difícil escrever tal alcunha com naturalidade nesta reportagem) se casaria na Igreja com a dona Julieta. Orgulhosa, ela mostra as várias fotografias da cerimônia, que parecem ter sido tiradas ontem, tamanho o cuidado e a preservação. "Olha eu jovem aqui".
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Hitler Harvey Pini, o primeiro da esquerda para a direita, ao lado do goleiro, um volante acirrado e craque de bola com seu esquadrão o Marabá - Imagem: Arquivo Pessoal |
O Rei do futebol
Enquanto a vaidosa esposa admira a sua juventude de outrora, Hitler também relembra esse tempo com entusiasmo. Mas, com a memória em outra paixão: o futebol. "Eu jogava bola. E todo mundo falava que eu era bom, viu. Era aquele meio campo marcador, e que também ajudava os atacantes".
Questionado se era "raçudo" mesmo dentro de campo, dispara seu "maior título": "Eu joguei contra o Pelé", algo que ele, orgulhoso, repete algumas vezes durante o bate-papo.
Foram três jogos no início da década de 50 nos campos bauruenses, segundo ele. De um lado, o Marabá, de Hitler. De outro, o Bauru Atlético Clube (BAC), do Rei do Futebol. De um lado, o homônimo de uma das figuras mais emblemáticas e cruéis quando se fala em guerra. De outro, o jogador que, anos mais tarde, conseguiria o feito de parar uma guerra.
Ao fim da disputa, um empate e uma vitória para cada lado.
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Palmeirense convicto, Hitler agora acompanha os jogos do seu time do coração pela televisão - Imagem: Arquivo Pessoal |
Palmeirense
Apesar de carregar no "currículo" o fato de ter enfrentado Pelé, Hitler não fez carreira no futebol. Trabalhou, na verdade, como agente de segurança penitenciária por décadas. Mas, basta trocar algumas palavras com ele para ver como o esporte segue vivo em seu coração. "É o que eu mais gosto de fazer hoje em dia: assistir futebol na televisão".
Na sacada do seu apartamento, o emblema do Palmeiras entalhado em madeira deixa claro o time que torce. Na mesma peça, o nome Hitler também tem destaque, algo que deixaria de cabelo em pé qualquer membro da torcida 'Palmeiras Antifascista'.
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Hitler sempre foi um apaixonado por Julieta - Imagem: Arquivo pessoal |
Hitler e Julieta
Além de assistir ao sagrado futebol, Hitler gosta de "tomar um vinhozinho". Algo que não tem feito com frequência por causa da saúde. Quando é este o tema, dona Julieta faz um sinal com olhos e com a boca, deixando claro não querer entrar nas particularidades do real quadro clínico perto do marido.
Mesmo assim, ela explica que a consulta médica a qual Hitler aguardava, lá no início desta reportagem, era para "tratar da cabeça", já que colocou uma válvula recentemente por conta de uma hidrocefalia.
Seja por essa razão ou pelo natural passar das décadas, não é raro a memória dele falhar durante a quase uma hora de entrevista. Nesses momentos, o casal se apoia, então, nas já citadas fotografias tão bem organizadas e conservadas.
Em uma dessas "lembranças de papel", Hitler aparece justamente na época em que fazia o Tiro de Guerra, em Bauru. Mas, o que se lê no verso desta foto não tem nada a ver com guerra. Aliás, muito pelo contrário: "A você Julieta, para sempre lembrar este, que nunca te esqueceu e que nunca te esquecerá. Hitler".
Sim. O Hitler de Bauru não era Romeu. Mas era - e continua sendo - um apaixonado por sua Julieta.
Fonte: JCNet
Contraponto: Senhor Hitler, o "Agente de Segurança Penitenciária", hoje Policial Penal Inativo.
Como eu fazia o Curso de Direito na Faculdade da ITE de manhã, trabalhei alguns dias no plantão do Turno I diurno e então fui transferido para o noturno, Turno 03 cujo Chefe era o Senhor Hugo Ferrão, e lá fiquei por quase dois anos, tendo então voltado para o plantão do Turno I diurno novamente e ai sim eu tive o prazer de trabalhar alguns anos com o Senhor Hitler, ele então como Chefe do Turno, vez que o Sr. Adhemar já havia se aposentado.
E ele não se furtava a ensinar à todos os novos agentes, era extremamente paciente e tinha o conhecimento necessário sobre o "chão do cárcere", e também da malandragem que era composta por criminosos de alta periculosidade na época, quase todos em sua grande maioria oriundos da capital, São Paulo, e muitos deles com grave crimes de repercussão nacional, isso tudo para que os novatos pudessem de fato saber com o que, e com quem estavam trabalhando e como deveriam trabalhar.
Então o que havia dentro da massa carcerária da época eram, em sua maioria, homens decididos e que faziam acontecer se houvesse uma só distração do Corpo da Guarda, eles só estavam esperando a qualquer momento que os agentes se distraissem para colocarem em prática suas atividades criminosas dentro da Unidade, tais como introdução de drogas ou armas, fabricação de cachaça artesanal (Maria Louca), crimes de estupro, crimes de assassinatos de desafetos internos, tentativas de fuga e até mesmo agressões contra os servidores.
Um homem que valorizava seus subordinados e lhes falava sobre seu trabalho com orgulho em relação a serem exemplos para aqueles ali segregados, pedindo à todos que viessem uniformizados, barbeados, que também fossem educados com a massa carcerária e rigídos quando assim houvesse a necessidade, de modo que os agentes tinham que ser modelos de homens para que os criminosos se espelhassem neles.
Leandro Leandro.
Parabéns pela matéria, faltou você relatar que o filho do Sr Hitler também trabalhou no Ipa de Bauru, o CPP Professor Noé Azevedo continua firme e forte com a graça de Deus.
ResponderExcluirJá corrigido e feito a correta inserção do fato do filho do Sr. Hitler também ter trabalhado conosco na Unidade Prisional, grande amigo e companheiro de plantões.
ExcluirBelo relato são essas pessoas que passa como se deve trabalhar nas cadeias!
ResponderExcluirHistória interessante, parabéns.
ResponderExcluirGuarda Juju detectado!!!
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