24 julho 2025

'Achei que fosse morrer na prisão', diz eletricista preso por engano no CDP de Pinheiros /SP

Confundido com um homônimo quase idêntico, um eletricista de 56 anos passou oito dias preso em um presídio de São Paulo após ser confundido com um suspeito de estupro.

Maurício Businari

Colaboração para o UOL

24/07/2025

Jabson antes da prisão (esq.); e reencontrando a família ao ser libertado (dir.) -
Imagem: Reprodução/Redes Sociais/Arquivo Pessoal 
Durante esse período, ele conviveu com bandidos perigosos e sofreu maus-tratos. Apenas uma letra no primeiro nome o diferenciava do verdadeiro suspeito.

Jabson Andrade da Silva foi preso no dia 7 de julho, após ser confundido com um foragido por estupro de vulnerável na Bahia. Ele foi abordado por policiais civis na zona sul de São Paulo e levado ao CDP (Centro de Detenção Provisória) de Pinheiros, onde permaneceu detido até que o erro fosse reconhecido pela Justiça.

O mandado de prisão que levou à prisão de Jabson foi expedido contra outro homem, de nome quase idêntico: Jabison Andrade da Silva, com "i". Réu por estupro de vulnerável, ele responde a um processo que tramita desde 2015 na Vara Criminal de Ubatã, na Bahia. O mandado constava no BNMP (Banco Nacional de Medidas Penais e Prisões), mas sem dados suficientes para distinguir entre os dois nomes.

A família de Jabson reuniu provas de que ele não esteve na Bahia na data do crime. Morador do Grajaú, na zona sul de São Paulo, desde 1991, ele é casado, tem duas filhas, quatro netos e atua como eletricista informal após ter atuado como zelador entre 2008 e 2015. Segundo os familiares, ele já havia sido confundido com outra pessoa de nome igual — um homônimo — em um caso de falso testemunho registrado em Suzano.

O MP-BA (Ministério Público da Bahia) reconheceu o erro em 11 de julho, e a Justiça autorizou a revogação da prisão três dias depois. Jabson deixou o CDP de Pinheiros em 15 de julho, debilitado e emocionalmente abalado, segundo relato da família. Em casa, onde tenta se recuperar do trauma, ele relatou ao UOL como enfrentou os dias de medo e humilhação que viveu no cárcere.

Complexo Penitenciário de Pinheiros esta localizado na Marginal Pinheiros, às margens do
Rio Pinheiros e é composto por 04 Centros de Detenção Provisória - Imagem: Reprodução/Arquivo
Abordagem e prisão

Jabson foi preso enquanto varria a calçada de casa. Era uma segunda-feira, 7 de julho. Os policiais chegaram e perguntaram seu nome completo. Quando ele respondeu, disseram haver um mandado por estupro de vulnerável contra ele. "Minha mulher começou a tremer, passou mal. Me levaram algemado, sem explicar nada", comentou.

A esposa desabou ao presenciar a cena. "Ela ficou em pânico, me abraçou, gritava. Eu só dizia: 'Mas que estupro? Eu nunca fui na Bahia'. Ninguém respondeu", relembra.

Na delegacia, Jabson passou horas sem informações. Ele conta que chegou a implorar para ligar para a filha. "Eles diziam: 'Espera a audiência'. Quando deixaram, pedi para a Caterine descobrir o que estava acontecendo".

No CDP, ele foi colocado em uma cela superlotada e virou alvo de desconfiança. "Perguntaram se eu era o cara do estupro. Disse que não, mas ninguém acreditava. Um me empurrou. Falaram que, se fosse verdade, eu ia morrer ali. Achei que fosse morrer lá dentro", contou.

'Achei que ia morrer na prisão', diz eletricista preso por engano e acusado injustamente de estupro - Imagem: Reprodução

Noites de vigília

Jabson não dormia, ela passava as madrugadas em vigília, temendo ser atacado. "Dormi sentado, encostado na parede. Um preso me encarava. De madrugada, andava de um lado para o outro. Achei que iam me enforcar com um lençol".

O clima era de medo e ameaça constante. "Lá dentro, se fala, apanha. Se olha errado, apanha. Fiquei mudo. Um preso me deu um pedaço de pão, mas ninguém falava comigo. Era como se eu fosse culpado".

Jabson passou oito dias com a mesma roupa, sem conseguir se lavar. "Me mandaram para o chuveiro coletivo. Um agente batia na grade e mandava correr. Era água fria, um empurrando o outro. Não deu tempo nem de tirar a cueca".

Sem conseguir engolir a comida servida, ele parou de comer. "No primeiro dia me deram arroz com feijão estragado. Depois só pão duro e água da torneira", disse.

Um dia, já debilitado, desmaiou na cela e foi ignorado pelos agentes. "Comecei a vomitar, tremia muito, fiquei fraco. Apaguei no chão. Quando acordei, estava sujo, deitado no cimento. O carcereiro só falou: 'vai morrer aí mesmo?'"

Provando inocência

Enquanto Jabson sofria na cadeia, a defesa provava que ele nunca pisou na Bahia. Os advogados Alberto Carvalho Silva e Rubens Gonçalves Santos Castro, contratados pela família, reuniram documentos, apresentaram certidões e recorreram à Defensoria Pública para demonstrar que se tratava de um erro.

A Justiça da Bahia reconheceu que a prisão foi baseada em reconhecimento fotográfico falho e determinou sua soltura. Segundo o juiz Carlos Eduardo da Silva Camillo, o procedimento "afronta diretamente" a lei, pois não trouxe garantias mínimas de que a vítima reconheceu a pessoa certa. Os indícios foram classificados como "notoriamente frágeis", e manter Jabson preso seria "inversão da lógica processual penal".

O juiz criticou a investigação por falhas básicas e mandou identificar corretamente o verdadeiro suspeito. A Polícia Civil da Bahia foi intimada a regularizar o termo de reconhecimento e fornecer dados completos, como nome da mãe, RG, CPF, naturalidade e data de nascimento —  justamente para evitar confusões como essa. A investigação foi criticada por não adotar "diligências mínimas".

A Polícia Civil de São Paulo informou que a prisão foi feita com base em mandado expedido pelo TJ da Bahia e registrado no BNMP. "Após a detenção, o mesmo permaneceu à disposição da Justiça", afirmou em nota.

O UOL procurou a Polícia Civil da Bahia, mas não houve resposta até a publicação. A reportagem perguntou se o verdadeiro Jabison, com "i", foi localizado ou preso.

Video da soltura de Jabson

Espera pela liberdade

Mesmo com a decisão de soltura, Jabson ficou mais dois dias esperando. "Falaram que eu ia sair, mas não diziam quando. Achei que iam me mandar para outro lugar pior. Quando disseram 'pode ir embora', fiquei parado na porta. Achei que iam atirar em mim pelas costas".

Ao sair, o eletricista reencontrou a filha e a esposa. "Minha filha olhou para mim e disse: 'Pai, você está acabado, com o olho fundo'. Ela chorava. Eu me senti um lixo".

Em casa, descobriu ter perdido datas de exames médicos e serviços que estavam agendados. "Tinha consulta marcada. Serviço para fazer. Perdi tudo. Os clientes contrataram outro".

Mesmo em liberdade, Jabson diz que continua sendo punido fora da prisão. "Tem vizinho que ainda me olha torto. Gente que se afastou. Tenho netos. Sou trabalhador. Nunca fui na Bahia. Mas agora, mesmo solto, parece que ainda estou preso", desabafou.

Jabson quer justiça e promete processar o Estado pela prisão injusta. A defesa informou que pretende acionar o poder público, incluindo pedido de indenização por danos morais, constrangimentos e prejuízos profissionais. "Minha filha falou que vai correr atrás disso. A advogada também falou que vamos processar. Eu quero justiça. Não quero que ninguém passe por isso"

Fonte: UOL

10 comentários:

  1. Essa nossa justiça é muito falha esse rapaz teve sorte em não morrer!! Tem que processar mesmo!!

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  2. E a pergunta que não quer calar:
    Que dia os policiais externos trabalharão dentro da cadeia??
    Dia primeiro de janeiro.
    Dia primeiro de abril.
    Dia de São Nunca.

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    1. Priiii piiiiiii piiiii priiii piiiiiii piiiii priiii piiiiiii

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    2. kkkk, os policiais que são processados por tentar prender assaltante na rua trabalharão "amanhã" nos pavilhões ashuashausaushus

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    3. Sim, e já tem data pra isso acontecer, primeiro de abril.

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  3. Já estou entrando pra fazer BLITZ nas celas.....

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  4. Esses dias durante o curso, trouxeram uns frequentadores do duchão coletivo na radial para ver como funciona a cadeia, o que mais me intrigou foram os olhos arregalados deles, kkkk, perguntando a todo momento: "ah, então é anssim que faiz?"hahahaha

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    1. Vc sabe dizer qdo começa o acautelamento do apito tático para os policiais externos???

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    2. SEI SIM, O APINTO TÁTICO ESTÁ A SUA DISPOSIÇÃO 24 HRS POR DIA, BASTA SOLICITAR O SEU. TEMOS DE DIVERSOS TAMANHOS E ESPESSURAS, TUDO PARA O SUA SATISFAÇÃO.

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