08 novembro 2025

Ex-chefes de Agência Penal "Agepen", são suspeitos de "blindar" comandantes do tráfico em MS

Ex-diretor de presídio, policial penal aposentado está preso e ex-presidente da Agepen é investigado na "Operação Blidagem".

Por Anahi Zurutuza e Helio de Freitas, de Dourados 

0811/2025

Da esquerda para a direita, Alírio Francisco do Carmo e Aud de Oliveira Chaves, policiais penais
com décadas de carreira - Imagem: Agepen/Divulgação
Os policiais penais Aud de Oliveira Chaves e Alírio Francisco do Carmo estão entre os alvos da Operação Blindagem, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), que derrubou esquema de tráfico de drogas e armas comandado por presos em Mato Grosso do Sul.

Aud já ocupou o mais alto cargo na Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) e Alírio já comandou o Centro de Triagem Anísio Lima, no Complexo Penal do Jardim Noroeste, em Campo Grande, além de ter chefiado a Divisão de Ações de Segurança e Custódia.

Organização criminosa comandada de dentro de presídios operava em 12 cidades de MS e
em oito Estados, traficando drogas para diversas - Imagem: Gaeco/MS
Conforme apurado pelo Campo Grande News, Alírio está preso. Alvo de mandado de prisão preventiva (por tempo indeterminado), ele foi pego em casa, em Jaraguari – cidade a 45 km de Campo Grande. O policial penal se aposentou com 30 anos de carreira em setembro deste ano, conforme publicação no Diário Oficial do Estado.

Aud de Oliveira, que presidiu a Agepen, está entre os investigados e, de acordo com a apuração da reportagem, teve endereço vasculhado pelo Gaeco. Servidor com 26 anos de carreira, foi nomeado para comandar o sistema carcerário estadual em 2017. 

Ele ficou no cargo até fevereiro de 2023, mas antes foi diretor do Instituto Penal de Campo Grande e respondeu como chefe do Setor de Transportes da agência penal. Atualmente, é o chefe de Informações e Estatísticas da Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública).

Ainda não há detalhes sobre a suposta participação dos policiais penais no esquema investigado pelo Gaeco.

MP do MS cumpre mandados em Araçatuba e Birigui (SP) e prende homem - Imagem: Ministério Público/Divulgação

Outro lado  

A Agepen informou, via assessoria de imprensa, “A operação não tem como alvo servidores atualmente em exercício nas unidades penais do Estado”, mas, mesmo assim, “A Corregedoria instaurou procedimento administrativo disciplinar para apuração dos fatos”.

“A Agepen repudia qualquer prática ilícita ou ato de corrupção e atua de forma integrada com os demais órgãos de segurança e de justiça para coibir tais condutas. A instituição trabalha de maneira contínua para impedir o acesso indevido de internos a meios de comunicação externa, investindo constantemente em tecnologia e na capacitação de seus policiais penais para fortalecer esse enfrentamento”, informou em nota.

Procurada, a Sejusp ainda não se manifestou sobre o assunto. A reportagem também tentou contato com Aud de Oliveira, mas o número de celular dele estava desligado. Ainda não foi possível localizar a defesa de Alírio, mas o espaço segue aberto para posicionamento futuro.

Materiais (cheques) apreendidos com os suspeitos - Imagem: Gaeco/MS

A operação 

O Gaeco, com apoio do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) e do Batalhão de Choque, foi às ruas nesta sexta-feira (7) para cumprir 76 mandados de prisão e de busca e desmantelar uma organização criminosa armada dedicada ao tráfico interestadual de entorpecentes e armas. Para manter o esquema, detentos corrompiam servidores. São investigados ainda crimes de agiotagem (usura) e lavagem de dinheiro.

Os “negócios” comandados de dentro do sistema prisional eram mantidos em Mato Grosso do Sul e em pelo menos outros oito estados: São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia, Acre, Maranhão e Goiás.

Ainda conforme as apurações do Gaeco, a quadrilha enviava drogas para cidades do interior do Estado e para outras unidades da federação, utilizando métodos variados: caminhões com fundo falso que transportavam alimentos lícitos para camuflar o transporte de entorpecentes, remessas pelo Sedex via Correios e uso de veículos comuns e vans com passageiros.

Arma de fogo apreendida durante o desenrolar da Operação Blindagem com um dos envolvidos - Imagem: Gaeco/MS
A investigação teve início após a apreensão do telefone de um líder da organização que operava de dentro de uma cela em presídio. A partir disso, descobriu-se corrupção de servidores públicos que garantiam ao líder acesso a aparelhos celulares, informações sigilosas e permanência em presídios de menor segurança.

O nome da operação faz referência à “blindagem” que os criminosos recebiam graças à corrupção de servidores: garantia de cumprirem pena em unidades prisionais com menor rigor, transferência de inimigos e acesso privilegiado a informações dos sistemas carcerário e bancário.

Fonte: CAMPO GRANDE NEWS

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