01 setembro 2020

Coronavírus é mais fatal com funcionários do que entre os presos no sistema prisional de São Paulo

Dados da SAP mostram taxa de mortalidade sete vezes maior a cada mil pessoas entre os policiais penais e servidores penitenciários.


Arthur Stabile
31.ago.2020 
Após rebelião em 2018, presos são mantidos sentados no pátio da Penitenciária de Lucélia (SP) - Imagem: Arquivo Pessoal

SÃO PAULO - A pandemia de coronavírus atinge de forma mais letal os trabalhadores do que os presos nas cadeias de São Paulo, conforme dados oficiais divulgados na quinta-feira (27).

Estatísticas da SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) identificam taxa sete vezes maior de mortalidade pela doença entre os profissionais quando comparada à taxa de mortes de presos.

Segundo os números do governo, 27 agentes penitenciários morreram contaminados pela Covid-19. Ao todo, 1.341 profissionais deram resultado positivo de contaminação – em testes rápidos ou de PCR, esse mais aprofundado.

A proporção é uma morte a cada 49 casos positivos. Em relação aos 35.056 trabalhadores, a taxa de mortalidade é de 0,77 a cada mil pessoas.

Quanto aos presos, o estado de São Paulo registra 24 mortes causadas pela pandemia, ainda de acordo com os dados divulgados oficialmente pela SAP.

A quantidade de contaminações confirmadas é de 4.703 pessoas, com uma morte a cada 196 testes positivos de Covid-19. São quatro vezes mais casos para cada morte em comparação com os servidores.
Penitenciária de Lucélia, localizada na região oeste do estado, região que teve muitas vidas ceifadas entre seus servidores


Com base nos números da SAP, a taxa de mortalidade por coronavírus a cada mil presos é de 0,1. O estado possui a maior população carcerária do país, com 231.287 presos.

Fábio Jaba, presidente do Sifuspesp (Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo), aponta para número maior de mortes, com 29 servidores vítimas do coronavírus.

A vítima mais recente foi o agente penitenciário Edson José da Rocha, de 51 anos, que atuava no CDP (Centro de Detenção Provisória) 2 de Osasco, na Grande São Paulo. Rocha, morto na quarta-feira (26), deixa mulher e dois filhos.

O sindicalista diz que os agentes penitenciários trabalham sobrecarregados durante a pandemia. "Falta EPI (Equipamento de Proteção Individual), não tem sido feita testagem das pessoas", afirma.
Segundo ele, o afastamento de profissionais dentro do grupo de risco (mais de 60 anos ou portadores de doenças agravadas pela Covid-19) ampliou o déficit funcional. "Nossa categoria está em um esgotamento físico e psicológico", resume.
Segundo o sindicalista falta EPIs e a testagem dos servidores que a SAP não está realizando
Jabá diz que há transferências de presos durante o isolamento social. "O trânsito de presos entre as unidades aumentou", diz.

Em março, o Ministério Público de São Paulo recomendou à SAP a suspensão ou limitação das transferências.

Na terça-feira (25), a Justiça de São Paulo determinou que o governo de João Doria (PSDB) adote medidas para evitar a contaminação por Covid-19 nos presídios. O prazo é de dez dias.

Entre as ações estão fornecimento de água 24 horas por dia, estoque de remédios e garantia de acesso à alimentação, além de campanhas sobre como se prevenir ao coronavírus.

Familiares denunciam as condições insalubres das cadeias desde março, quando a Justiça proibiu visitas aos presos. As reclamações envolvem racionamento de água, comida de má qualidade e falta de remédios.

Outra proibição é sobre o jumbo, sacola com comida, itens de higiene e remédios levada pelos parentes. A entrega presencial foi proibida para evitar a propagação do vírus.

Na sexta-feira (28), um grupo de familiares se reuniu em frente ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, para protestar. A principal reivindicação era a volta das visitas. O ato estava agendado desde quarta-feira (26), quando a SAP ampliou por mais um mês o período sem visitas.
Transferências e trânsito de presos aumentou segundo o sindicalista Fábio Jabá, o que prolifera os vetores de contaminações

Resposta

Procurada pela reportagem, a SAP respondeu por meio de nota que a informação do Sifuspesp é "inverídica" sobre a quantidade de agentes mortos ser maior do que a divulgada oficialmente pela pasta.

A secretaria assegura que cumpre com todas as determinações impostas nesta semana pela Justiça.

Na nota, a SAP afirma que, graças às medidas, a primeira confirmação da doença nos presídios ocorreu apenas 48 dias após ser constatado o primeiro caso da doença em todo o estado.

A pasta ainda afirma que há 2.262 servidores integrantes do grupo de risco afastados dos trabalhos.
Presos usam máscara para trabalhar na cozinha do presídio em Sorocaba, no interior de SP - Divulgação - 29.jul.20/Defensoria Pública

COVID-19 NOS PRESÍDIOS DE SP

Presos:

*231.287 pessoas estão presas no sistema carcerário de SP
*24 morreram por Covid-19
*Taxa de 0,1 morte a cada mil pessoas
*4.703 casos positivos (PCR + teste rápido)
*1 morte a cada 196 casos

Funcionários:

*35.056 funcionários trabalham nos presídios paulistas
*27 morreram por Covid-19
*Taxa de 0,77 morte a cada mil pessoas
*1.341 casos positivos (PCR + teste rápido)
*1 morte a cada 49 casos

Fonte: SAP ( Secretaria da Administração Penitenciária)

Fonte: Folha de São Paulo

9 comentários:

  1. Por isto que ninguém do grupo de risco não pode mesmo nem pensar em voltar nem sonho...

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  2. GRUPO DE ESTÁ AMPARADO , SÓ DEPOIS QUE SURGIR UMA VACINA , ATÉ 2021 EM JUNHO E OLHE LÁ.

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  3. SAP é uma piada e de mal gosto igual o LIXODORIA

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  4. GRUPO DE RISCO PODE TRABALHAR NA RUA? PODE FICAR NOS BUTECOS? E OS BESTAS TRABALHANDO NA CADEIA SEM EFETIVO, E OS VAGABUNDOS NA GOZOLANDIA.

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    1. Estes infelizes colegas nossos além de botarem em risco suas vidas e dos outros assim desta forma inconsequente certamente responderam por seus atos por brincarem com a vida alheia ...

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  5. muitos afastados desse "grupo de risco" estão aproveitando para trabalhar na rua e ganhar mais grana e tambem nos bares da vida, pode isso arnaldo???

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    1. Como bem frisou o colega acima a responsabilidade e o risco é todos deles, se arriscarem a vida por míseros bicos supérfluos ..

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    2. Existe uma enorme diferença em querer e poder algo lícito mas para alguns tratantes infelizes lamentavelmente ainda não conseguiram distinguir tais disparidades...

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  6. SE NÃO EXISTE CONSENSO SOBRE O VALOR DOS DIREITOS HUMANOS É PORQUE , NÃO EXISTE CONSENSO SOBRE O VALOR DOS SERES HUMANOS.

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