25 setembro 2020

K4, a maconha sintética, é a droga mais vendida dentro do Sistema Penitenciário de SP

Era de dentro das celas que um grupo de presos administrava o tráfico interno de K4, a maconha sintética, nas dependências da Penitenciária de Presidente Bernardes, distante 578 km da capital paulista.

Josmar Jozino

Colunista do UOL

25/09/2020 

K4 escondidos nas palmilhas de um par de tênis. O tênis teria sido encaminhado pela mãe de um recluso do CDP com outros itens - Imagem-SAP
O presídio é dominado pela facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Os presos traficantes foram flagrados por agentes penitenciários, indiciados pela Polícia Civil em 2018 e condenados pelo juiz Vinícius Peretti Giongo no último dia 31 de agosto — quando o PCC completava 27 anos de existência —, a penas que variam de 16 anos a 19 anos de reclusão.

O K4 já é considerado uma das maiores preocupações das autoridades do sistema prisional paulista e Ministério Público de São Paulo. A nova droga sintética se espalhou por quase todas as penitenciárias e CDPs (Centros de Detenção Provisória) do estado. 

Segundo o toxicologista Anthony Wong, do Hospital das Clínicas, o K4 é até 80 vezes mais potente do que a maconha natural e funciona como estimulante, deixando o usuário mais agitado e agressivo, diferentemente da canabis sativa, cujo efeito está mais para sedativo.

 586 micropontos supostamente da droga sintética K4 escondidos nas palmilhas de um par de tênis Imagem: SAP

"A maconha sintética ocupa o mesmo local que a canabis no neurônio, mas causa inibição cerebral bem mais intensa, mais forte, e provoca não só dependência psíquica, mas também física, assim como as anfetaminas", explicou o médico.

Procurada pelo UOL, a SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária) informou que houve aumento de 488,83% no número de apreensões de K4 em correspondências e na área externa dos presídios paulistas no comparativo entre janeiro a julho de 2019 a igual período de 2020.

A pasta informou ainda que o número de ocorrências que resultaram nas apreensões também quintuplicou, passando de 86 no mesmo período de 2019 para 472 em 2020. 

Foram encontrados oito pedaços da suposta droga sintética K4 no interior de  lavar louça enviada pela mãe de um sentenciado Imagem: SAP/Divulgação

Dose custa R$ 30 nas prisões, aponta investigação 

Impedir a entrada de K4 nos presídios não é fácil. A droga é produzida em laboratório de forma líquida e depois borrifada em papéis, fotos, cartões e até selos. A detecção é extremamente difícil. Por conta disso, parentes de presos estão proibidos de enviar papel higiênico para os detentos.

O tráfico de K4 nas penitenciárias estaduais paulistas tornou-se uma atividade ilícita rentável para os presos traficantes. Planilhas de contabilidade apreendidas por agentes penitenciários com detentos mostram que cada microponto (dose) da droga é vendido por até R$ 30.

A primeira apreensão de K4 no sistema prisional paulista aconteceu em dezembro de 2017. E foi justamente na Penitenciária de Presidente Bernardes. Quatro meses depois, em 6 de abril de 2018, a Polícia Civil foi informada sobre o tráfico de drogas dentro da unidade.

Micropontos de maconha sintética conhecida como K4 apreendidas na Penitenciária III de
 Franco da Rocha - Imagem: SAP/Divulgação

Grupo foi preso e ligado ao PCC 

Tudo começou com uma denúncia anônima, dando conta de que em uma casa em Presidente Bernardes moravam mulheres e parentes de presidiários que atuavam na inclusão de drogas, especialmente K4, na penitenciária local. 

Um inquérito foi instaurado para apurar o caso. Policiais civis cumpriram mandado de busca e apreensão no local e apreenderam um telefone celular. No aparelho periciado havia troca de mensagens das mulheres com os presos de Presidente Bernardes.

Maconha sintética foi apreendida dentro de maços de cigarros enviados por familiares
a detentos da U.P Imagem: SAP/Divulgação
Além do K4, as mulheres e parentes dos presos também foram acusados de introduzir telefones celulares no presídio. Era com os aparelhos que os presidiários administravam o tráfico de drogas naquela prisão e também nas ruas. 

O preso Maurício Fernando Gandelini, 42, o Pira, apontado como chefe do grupo, foi condenado a 19 anos. Ericson Gregório, 37, recebeu a pena de 17 anos e sete meses. Outros quatro prisioneiros tiveram condenação de 16 anos e três meses. 

As mulheres também foram condenadas a penas que variam de 6 anos a 13 anos de reclusão. O grupo foi acusado de integrar o PCC.

K4 apreendidos na Penitenciária III de Franco da Rocha dentro de maços de cigarros enviados
 por familiares de detentos - Imagem: SAP/Divulgação
Em nota, a SAP acrescentou que a política da pasta é de não tolerância à entrada de ilícitos, inclusive entorpecentes, em suas unidades prisionais. 

Segundo a secretaria, todos os CDPs, penitenciárias e Centros de Progressão Penitenciária contam com escâner corporal, aparelhos de raio-X e detectores de metais de alta sensibilidade. 

"Esses equipamentos ajudam a coibir a entrada de equipamentos e drogas, atrelados a uma vigilância constantes dos agentes de segurança, treinados para evitar a entrada de ilícitos nas unidades, além de revistas periódicas nas dependências dos presídios", finaliza a nota.

Fonte: UOL

2 comentários:

  1. Sem contar que muitas das drogas K4, após o exame constam negativas, inocentando os culpados.

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  2. Como se fosse coisa de outro mundo droga e celular em cadeia kkkk a secretaria sabe, os coordenadores sabem, ainda mais em CPP, diretor ta careca de saber, isso nao vai mudar nada enquanto n começar a prender quem é responsável pela administração da unidade/segurança. Incompetência tem limite.

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