30 outubro 2020

Movimentação anual do PCC passa de R$ 6 milhões para R$ 1 bilhão em 15 anos; E segundo um ex-secretário PCC era lenda

Na época, a organização começava a se estruturar nos moldes de empresa. O tráfico de drogas passava a ser a prioridade e a Baixada Santista já era um dos mais importantes redutos. Mas a contabilidade ainda era feita à moda antiga. 

Josmar Jozino

Colunista do UOL

30/10/2020 

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Facção começou com cadernos anotados a mão e hoje administra movimentação bilionária com exportação Imagem: Eva HAMBACH / AFP
Documentos de 2004 e 2019 apreendidos pela Polícia Civil e MP-SP (Ministério Público de São Paulo) com tesoureiros e contadores do PCC (Primeiro Comando da Capital) mostram que a movimentação financeira da maior facção criminosa do Brasil aumentou praticamente 160 vezes nos últimos 15 anos.

O UOL teve acesso a planilhas que revelam que a organização movimentou R$ 6,2 milhões de setembro de 2004 a junho de 2005 (média aproximada de R$ 688 mil por mês), e cerca de R$ 1 bilhão entre abril de 2018 e julho de 2019 (média aproximada de R$ 66 milhões por mês). A evolução atingiu cifras dignas de uma multinacional.

Deivid Surur, então com 23 anos, conhecido como DVD, o primeiro tesoureiro da história do PCC, foi preso em 22 de julho de 2005 pelo Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), da Polícia Civil. Com ele foram apreendidos cadernos e anotações contendo a contabilidade do grupo. 

Operação Sharks Foto: Ministério Público de São Paulo
Na época, a organização começava a se estruturar nos moldes de empresa. O tráfico de drogas passava a ser a prioridade e a Baixada Santista já era um dos mais importantes redutos. Mas a contabilidade ainda era feita à moda antiga. 

O tesoureiro não usava computadores, notebooks nem pendrive. As planilhas encontradas com Deivid eram autênticos manuscritos. Ele anotava tudo a caneta em folhas de caneta em folhas de caderno. O PCC ainda não fazia negociações em moeda americana nem usava doleiros em suas transações. 

A documentação indica que a facção movimentava mensalmente entre R$ 100 mil e R$ 350 mil com a compra de drogas, aquisição de armas, munição e veículos, pagamentos a advogados, remessa de dinheiro para seus líderes e empréstimos para os integrantes.

Em 2004, contabilidade a mão mostrava PCC movimentando cerca de R$ 425 mil por mês


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Primórdios da contabilidade do crime 

As investigações do Deic constataram que a organização iniciava naquela época a lavagem de dinheiro. O delegado Ruy Ferraz Fontes, então titular da Delegacia de Roubo a Bancos e hoje delegado-geral da Polícia Civil, escreveu em seu relatório de investigação após a prisão de Deivid Surur: 

"Ele assumiu o controle financeiro da facção criminosa. É responsável pelo recebimento do dinheiro arrecadado, sua organização e posterior remessa aos líderes do PCC. Assumiu também o controle dos investimentos e fiscalização dos pontos de vendas de entorpecentes na capital e Baixada Santista".

Deivid foi preso em São Mateus, na zona leste de São Paulo e ficou 20 dias atrás das grades. Foi encontrado morto em 10 de agosto de 2005 no CDP 1 (Centro de Detenção Provisória) do Belém em uma cela onde havia outros 10 detentos.

As autoridades carcerárias disseram que a causa da morte foi asfixia. Os presos afirmaram que ele havia se enforcado com um lençol. No Deic os comentários eram de que Deivid tinha desviado R$ 150 mil da facção e por isso acabou morto. 

Entre 2018 e 2019, PCC movimentou cerca de R$ 1 bilhão, aponta investigação

Fonte: MPSP

Gestão da facção passa por modernização 

Passados mais de 10 anos da prisão e morte do primeiro tesoureiro do PCC, a facção dava um "salto criminal gigantesco rumo à modernidade empresarial", afirmaram ao UOL promotores de Justiça.

O tráfico de drogas tornou-se a principal fonte de arrecadação do grupo. O PCC havia contratado dois doleiros para a lavagem de capitais. A Baixada Santista virou de vez o principal reduto dos criminosos por causa do porto de Santos (SP), de onde são enviadas toneladas de cocaína à Europa. 

Robson Sampaio de Lima, 37, o Tubarão, foi o último contador do PCC a ser preso. Isso aconteceu em 8 de julho de 2018, em Itaquera, também na zona leste. No notebook dele havia centenas de planilhas, gráficos e tabelas coloridas, diferentes dos manuscritos a caneta de 2005.

Alguns dos helicópteros do PCC apreendidos pelas Forças de Segurança nos últimos três anos
Graças à documentação encontrada com Robson, o Ministério Público identificou outros 20 integrantes da facção e desmantelou um importante braço financeiro da organização. Outras planilhas também foram apreendidas com os acusados.

Gastos de R$ 5 milhões só com aeronaves 

A contabilidade analisada pelo MP mostra uma movimentação financeira de US$ 182,3 milhões entre 2018 e 2019. Isso representa um movimento superior a R$ 1 bilhão na cotação atual.

Segundo as planilhas apreendidas pelo Ministério Público, o PCC movimentou R$ 140 milhões de dezembro de 2017 até julho de 2018, quando Robson foi preso. Nos primeiros seis meses de 2019, a facção comprou 15 toneladas de cocaína. Gastou outros R$ 5 milhões apenas em despesas com aeronaves.

Alguns dos helicópteros do PCC apreendidos pelas Forças de Segurança nos últimos três anos
O volume de dinheiro arrecadado era tanto que o PCC adquiriu uma máquina para contar cédulas. O grupo também passou a alugar casas-cofres, com paredes falsas para esconder a grana. 

O braço financeiro estabeleceu o limite de R$ 250 mil para ser transportado por viagem aos doleiros. E isso para evitar grande prejuízo em caso de apreensões policiais. Os depósitos bancários pingados nas contas de parentes e laranjas do grupo já são lembranças do passado.

Fonte: UOL

Contraponto: 

Imagem: Revista Piauí 
Infelizmente o poderio financeiro, organizacional, bélico e inclusive de se ramificar rapidamente só foi possível pelo simples descrédito que o poder público outorgou a Orcrim em seus primórdios, a falta de credibilidade deu a Facção a capacidade de se movimentar dentro do Sistema Penitenciário doutrinando e batizando milhares de adeptos.

Houvesse de fato um combate efetivo para destruir seus objetivos de se ramifica não apenas no estado de São Paulo, mas para vários outros estados, pois os mesmo faziam rebeliões com o único intuito de se transferirem para outras Unidades Prisionais, e uma vez conquistado os objetivos, nestas novas UPs, eram disseminadas as ideias e as doutrinas do então Primeiro Comando da Capital.

Mas lamentavelmente no ano de 1997,  João Benedicto de Azevedo Marques o então secretário da Administração Penitenciária afirmou a Folha de São Paulo: "João Benedicto de Azevedo Marques, voltou a afirmar ontem que o PCC (Primeiro Comando da Capital), suposta organização de presos, não existe. "É uma ficção. Uma bobagem. Estou absolutamente convencido disso. Sou secretário há quase dois anos e nunca vi qualquer manifestação desse grupo", afirmou.

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Já em outra ocasião posterior a primeira, já no ano de 2009, um segundo, agora já em posição de ex-secretário afirmou:  "A polícia exagera o poder dessa facção. Há interesses subalternos em torno dessa apreciação exagerada. É uma forma de a polícia não ser cobrada por outras atividades delituosas, como desvio de carga, adulteração de combustível e tráfico".

Hoje, segundo Ferreira Pinto, o que se chama de PCC "são 20, 30 presos perigosos, traficantes, que têm no celular uma grande arma, mas não têm condição nenhuma de colocar em xeque as instituições, como ocorreu em 2006"

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A desídia, o descrédito e a falta de interesse das autoridades constituídas foram de fato o fator preponderante para que o Primeiro Comando da Capital viesse a ser o que é hoje, e a ter o que tem, poder financeiro, bélico e o poder de se infiltrar e transitar nas mais diversas áreas de interesses do estado, e também nos três poderes, executivo, judiciário e legislativo, como vemos cotidianamente em noticias nas mais variadas mídias do país. 

Nunca se esqueçam, a história é rica em exemplos. Impérios caíram por desídia e descrédito por parte daqueles que detinham o poder, Roma, o maior e mais longevo Império que já existiu na face da Terra, caiu por não acreditar no potencial bélico e da insistência dos chamados povos Bárbaros. 

Leandro Leandro

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