Luiz Carlos da Rocha foi preso em 1º de julho deste ano. Segundo a PF, traficante era mais influente que Beira-Mar e Abadia e era procurado há aproximadamente 30 anos.
Por Aline Pavaneli, G1 PR
25/08/2017 06h01 Atualizado há 4 horas
|
PF apreendeu 70 telefones celulares durante operação contra "embaixador do tráfico", no início de julho (Foto: Divulgação/Polícia Federal)
|
A Polícia Federal (PF) está montando uma força-tarefa para a investigação decorrente da Operação Spectrum, que prendeu, em 1º de julho deste ano,
Luiz Carlos da Rocha, conhecido como Cabeça Branca. Ele foi procurado por aproximadamente 30 anos, e a polícia o descreve como o "embaixador do tráfico".
Com a criação desta força-tarefa, dois novos delegados – com experiência em lavagem de dinheiro e que já atuaram na Operação Lava Jato – e mais oito agentes vão trabalhar na análise de provas e documentos. O grupo deve iniciar os trabalhos na próxima semana, com base em Londrina e Curitiba.
Na ação,
além de US$ 4,5 milhões e 1,5 tonelada de cocaína, foram apreendidos 70 telefones celulares, um telefone móvel via satélite e vários computadores – que juntos somam aproximadamente 10 terabytes de informação – e autorizadas 80 quebras de sigilo fiscal e bancário. Este material será utilizado durante a investigação.
|
US$ 4.5 milhões de dólares em dinheiro vivo
|
De acordo com a polícia,
“cabeça branca" tinha diplomacia para lidar com outras facções criminosas, o que permitiu que ele atuasse tanto tempo sem que fosse encontrado. O termo "embaixador do tráfico" surgiu justamente desta característica. A polícia afirmar que ele lidava com grupos criminosos nacionais e internacionais sem que precisasse usar a violência.
Além disso, ainda segundo a PF, ele usava uma identidade falsa, fez plásticas para mudar a fisionomia e mantinha uma vida normal em Sorriso (MT), atuando como um agropecuarista.
De acordo com as investigações, o criminoso usava o Porto de Santos (SP) para exportar drogas para a Europa e os EUA e tinha mais influência que outros traficantes, como Fernandinho Beira-Mar e Juan Carlos Abadia.
Luiz Carlos da Rocha está preso na Penitenciária Federal de Catanduvas, no oeste do Paraná.
|
Um telefone via satélite também foi apreendido durante a Operação Spectrum (Foto: Divulgação/Polícia Federal
|
Os trabalhos
O delegado federal Elvis Secco de Londrina, no norte do Paraná, coordenador da operação, informou que, atualmente, trabalha com oito agentes na operação.
O delegado explica que a extração de análise de dados de cada telefone celular demora aproximadamente 25 dias. “Quem ajudou a extrair os dados foi o próprio DEA [Drug Enforcement Administration, agência de combate ao narcotráfico dos EUA], porque não é qualquer equipamento que consegue extrair os dados”, declarou.
De acordo com Secco, já foram solicitadas outras 11 quebras de sigilo fiscal e bancário, que equivalem à segunda fase da operação, e uma terceira fase, com pedidos de quebras de sigilo e bloqueio de bens já está em andamento.
A divisão da investigação em fases busca agilizar o andamento do caso na Justiça, ainda de acordo com o delegado. O objetivo agora é rastrear o dinheiro e identificar bens pertencentes à organização criminosa, muitos registrados em nome de laranjas.
|
1,5 toneladas de cocaína que foi presa de Cabeça Branca
|
“Encontramos pessoas com renda inexistente, que moram em uma casa popular, mas que têm fazendas registradas no nome delas”, explicou Secco.
Lavagem de dinheiro
A força-tarefa também trabalha na identificação das formas usadas pela quadrilha para lavar o dinheiro do tráfico. “Quem está apoiando a operação na parte de lavagem de dinheiro é o núcleo da Lava Jato de Curitiba”, explicou Secco.
A PF informou que uma das formas era por meio de fazendas, muitas em nomes de laranjas. Conforme o delegado, Cabeça Branca tinha propriedades no Paraguai, com mais de 20 mil cabeças de gado que funcionavam licitamente, e que eram usadas para lavagem internacional de dinheiro.
“Ele faz financiamentos bancários nas instituições paraguaias, mas financiamentos na ordem de 8 a 10 milhões de dólares. E ele paga os financiamentos com o dinheiro do tráfico”, explicou.
Wilson Roncaratti, preso na operação, em Londrina, era empregado de Cabeça Branca e o responsável transportar dinheiro em espécie, mas não tinha contato com o tráfico de drogas, segundo o depoimento prestado por Rocha à PF, no dia seguinte à sua prisão.
“A função de Wilson Roncaratti era transportar dinheiro em espécie para o interrogado; que em razão dessa função, era comum o interrogado pedir a Wilson que fizesse viagens para a cidade de Ponta Porã (MS), fronteira com Paraguai, com a finalidade de trazer e levar dinheiro em espécie”, explicou o traficante.
O G1 tenta contato com a defesa de Wilson Roncaratti.
Depoimento
|
Segundo a PF, Cabeça Branca fez plásticas e mudou de identidade (Foto: Divulgação/Polícia Federal)
|
Em depoimento à PF, Luiz Carlos da Rocha disse que a cocaína que vendia vinha da Bolívia e era carregada em prioridades aleatórias no Mato Grosso. Em seguida, a droga era levada para depósitos em Cotia e Embu das Artes, no interior de São Paulo.
“O pagamento pela cocaína fornecida era feito em espécie, em dólares; que o pagamento era feito diretamente para o interrogado pelo comprador da cocaína”, diz termo do depoimento.
Rocha se negou a informar quem eram os compradores da cocaína, alegando razões de segurança pessoal. “Esclarece que fornecia cocaína para compradores no Brasil e estes supostamente exportavam cocaína”, se limitou a informar.
Segundo Fábio Ricardo Mendes Figueiredo, advogado de Cabeça Branca, ele se sente aliviado e já cogitava se entregar. Além disso, assumiu o crime e pretende cumprir a pena, se possível em presídio federal.
Fonte: G1